Capítulo 5 - Nos Bastidores




| Funcionário | [O que você acha?]
Após uma breve explicação sobre o trabalho, Anzel pensou um pouco antes de responder. [Claro, eu aceito. Você pode avisar seu chefe], na verdade, ele sabia que aceitaria imediatamente ao ouvir os detalhes, mas se demonstrasse muita ansiedade, sabe que será enganado — é um daqueles conselhos secretos de vida.
| Funcionário | [Muito obrigado. Os detalhes estão inclusos neste envelope]
| Anzel | [Obrigado], assim que pegou a carta, Anzel saiu rapidamente do local.

Ele saiu de trás de um enorme armazém de propriedade da Cedony para a rua principal.

| Anzel | [Droga, essa foi por pouco], as palavras escaparam de sua boca sem pensar. Ele está incrivelmente feliz por não ter ignorado o chamado.

Ele tinha acabado de se encontrar com um membro da Cedony após sua presença ter sido solicitada na noite anterior, um jovem mais ou menos da mesma idade do Anzel. Anzel não sabe o nome dele, mas eles se encontraram várias vezes durante o trabalho para o bilhão de krams, então pelo menos se conhecem. O que ele sabe é que o homem trabalha na loja principal, embora haja inúmeras filiais por Altoire, então ele deve ser muito bom no que faz.
Como lhe haviam dito com antecedência, queriam que ele servisse como guarda-costas. O grande ponto de discórdia é a quem ele estará servindo.

| Fressa | [Terminaram as negociações?]
| Anzel | [Sim. Disseram que eu posso te contar sobre isso]
| Fressa | [Sério? Legal, estou tão curiosa desde que recebi a mensagem]

Depois que i Anzel se encontrou com a Fressa por perto, os dois pararam em um lugar próximo para almoçar.

| Fressa | [Parece um pouco extravagante para nós irmos a um restaurante na rua principal a esta hora do dia], comentou Fressa.

Anzel não tem certeza se chamaria isso de 『extravagante』, mas certamente não combina com eles. No fim das contas, ambos são moradores do submundo. Não parece certo eles ficarem perto de civis enquanto ainda está claro.

| Fressa | [E então? Conte logo!]

Assim que fizeram o pedido, Fressa imediatamente o perseguiu em busca de respostas. Anzel se aproximou da mesa arrastando os pés. Fressa percebeu e se inclinou para a frente.

| Anzel | [Eu tenho que proteger o irmão da Lily], ele sussurrou apenas a parte mais importante antes de se afastar.
| Fressa | [Huh? E-Espere, espere aí. Você quer dizer...], a assustada Fressa permaneceu onde estava. [O príncipe da família Liston?], aparentemente, é assim que ele havia ficado conhecido depois de suas aparições na Magivisão. Mas para alguém como a Fressa, experiente na área, mencionar tão abertamente a identidade de alguém em público... Quão perturbada ela estava?



| Anzel | [Você é fã ou algo assim?]
| Fressa | [Não sou fã propriamente, mas gosto dele. Ele é bonitinho. Eu adoraria tirá-lo de lá eu mesma]
| Anzel | [Por quê? Porque ele venderia por um bom preço?]
| Fressa | [Não, você sabe que odeio esse tipo de coisa. Só quero me divertir com ele. Todo tipo de diversão]

Qualquer um dos motivos seria cruel, se você perguntasse ao Anzel.

| Fressa | [Mas tudo bem, entendi], Fressa cedeu. [Não é à toa que eles vieram até você para isso]
| Anzel | [Sim... suponho que sim]

A Companhia de Comércio Cedony já deve ter descoberto grande parte da verdade por trás de suas operações, desde a verdadeira identidade da Leeno, até que tipo de pessoa a Nia é, e como o Anzel e a Fressa estão ligados a eles.
Ninguém que conhece a Nia jamais a trairia. Eles estão tão cientes dessa verdade que deram esse trabalho ao Anzel. Aliás, até permitiram que ele contasse os detalhes a Fressa. Eles sabem que o Anzel não os trairia e, não importa o que aconteça, ele colocaria a própria vida em risco — tudo porque quem precisa de proteção é um parente da Nia.
Ainda assim, que timing insano. Anzel jamais imaginaria que acabaria discutindo sobre o parente da Nia Liston logo antes de se encontrar com a garota. Seria coincidência ou destino?

| Anzel | [Há outro motivo para me quererem lá também, mas, para mim, essa é a parte mais importante]
| Fressa | [Entendo, entendo... Diga, eu não poderia tecnicamente fazer isso em vez de você? Quer trocar? Eu te dou vinte por cento do dinheiro. Você é o barman do Rato das Sombras; deve estar muito ocupado. Eu te substituirei, então vamos renegociar com eles], os olhos da Fressa estavam praticamente brilhando, tão maníacos quanto os de uma fã enlouquecida. Anzel já havia servido como guarda-costas de um famoso ator de teatro há muito tempo, e os fãs tinham exatamente a mesma cara.

Seu trabalho nem tinha começado e o garoto já está em perigo.

| Anzel | [Não, tudo bem. Deixe comigo]
| Fressa | [Mas você tem que pensar no bar]
| Anzel | [Eu disse que tudo bem. Não é algo pontual, mas são pequenos períodos de tempo que preciso trabalhar. É perfeito para mim], o cliente dele para este trabalho ainda está no ensino intermediário, então ele tem um horário de recolher a cumprir. Em outras palavras, Anzel só será necessário do fim do horário escolar do garoto até o início da noite. Ele voltará a tempo de abrir o Rato das Sombras. Além disso, o salário não é nada mau. Comparado com quantas horas ele efetivamente estará trabalhando, o salário é muito bom. Na verdade, fazer o trabalho pelo valor integral em vez de não fazer nada por vinte por cento vale muito mais a pena.

| Fressa | [Vamos lá, troque comigo!]
| Anzel | [Não]
| Fressa | [Tudo bem, e se eu disser que te darei trinta por cento?]
| Anzel | [De jeito nenhum]

Após o almoço, Anzel pegou o estoque no caminho de volta para o bar, com a Fressa o seguindo por todo o caminho, e então se preparou para abrir o bar. Assim que ficou livre, olhou os documentos que lhe haviam sido fornecidos, mas tudo estava como já lhe haviam dito. Não parece uma ordem tão difícil.

| Anzel | [Hmm...]

Há algumas coisas escritas sobre gravação e vigilância, mas isso não tem nada a ver com o Anzel. Seu trabalho é simplesmente proteger o cliente. Parece bastante simples.
Ultimamente, muitas coisas irritantes vinham se acumulando, suas preocupações começando a sobrecarregá-lo, então poder trabalhar durante o dia pode acalmá-lo. E, claro, ajuda o fato de o salário não ser ruim.
Seu primeiro dia de trabalho começará em alguns dias, mas há algo que ele precisa fazer primeiro.

| Anzel | [Fressa, se importa de ficar de olho no bar um pouco? Não vou demorar]

Já está quase na hora.

| Fressa | [Eu te substituiria quantas vezes você precisasse se me desse o serviço!]
| Anzel | [Você poderia fazer isso depois que eu voltar? Tenho planos de me encontrar com alguém. Não posso deixá-las esperando]
| Fressa | [Oooh, com quem você vai se encontrar?]
| Anzel | [Uma moça]
| Fressa | [Nossa, você finalmente arrumou uma namorada? Como ela é? Ou você está prestes a se confessar? Se estiver, eu te ensino como fazer uma garota se apaixonar por você... se você me deixar assumir o serviço]
| Anzel | [O que eu acabei de dizer?]

Depois de tirar a Fressa do seu pé, Anzel saiu pela porta dos fundos. Os clientes habituais e alguns outros bandidos estavam rondando o beco esperando o bar abrir. Esses caras estão cheios de tempo livre.

| Bandido | [Hmm? Aconteceu alguma coisa, chefe?]
| Anzel | [Só uma pequena tarefa. O lugar vai abrir no horário de sempre, então calma. Ah, e a Fressa ainda está lá, então não fique com ideias estranhas de invadir]
| Bandido | [Eu valorizo demais a minha vida para isso. Perdi a conta de quantas pessoas ela deixou meio mortas há um tempo. O verdadeiro mistério é como ninguém morreu de verdade em todo esse tempo]

Caramba, foi exatamente por isso que ele escolheu contratar a Fressa. Ele pode deixar o bar nas mãos dela mesmo em uma área tão perigosa, e ela parece gostar de interagir com os clientes. Ela parece gostar que os clientes sejam do tipo que não tem problema bater se começarem a incomodar — mais do que o Anzel imaginou que seria. Além disso, ela é boa em se conter, então é perfeita para o trabalho.
Depois de ignorar as perguntas, Anzel saiu para a rua principal e caminhou rapidamente em direção ao seu destino, o Aroma do Lírio Chocolate.

| Anzel | [Desculpe por fazer você esperar], ele gritou para uma criança de chapéu que esperava no beco ao lado do restaurante, tentando se manter escondida.

A criança não disse nada enquanto olhava para cima e sorria — é, claro, Nia Liston. Seu característico cabelo branco se destaca como um polegar machucado, então ela está evitando o público o máximo possível.

| Anzel | [Siga-me], disse ele. [Vamos conversar em outro lugar]



Anzel guiou a Nia até um prédio em ruínas não muito longe do Lírio Chocolate.

| Nia | [Que lugar é este?], ela perguntou enquanto desciam as escadas.
| Anzel | [É o porão de uma loja que afundou], também é propriedade do Kaffes. Parece um prédio abandonado comum visto de fora, mas na verdade é um de seus esconderijos. Há um pequeno truque, mas... Bem, isso não é importante.
| Nia | [Desculpe por te chamar assim]
| Anzel | [Bem, você fez um acordo pelos canais adequados]

Mesmo quando desceram as escadas, são apenas mais ruínas. O ar está empoeirado e espalhados pelo quarto há caixas quebradas, escombros e outras tralhas aleatórias. Faz um tempo que ninguém vêm aqui pela última vez — perfeito.

| Nia | [Você está cobrando uma das duas dívidas que eu te devo? Sério... eu meio que tinha esquecido disso], a garota refletiu.
| Anzel | [Quero dizer, sim, bem comum o devedor esquecer. Considerando que fui eu quem te ajudou, eu meio que não consigo]
| Nia | [Verdade, é assim que funciona]

Anzel havia confiado uma carta ao Gandolph, que chegou em segurança a Nia Liston, e ela agora tem tempo para ele. Nia havia pedido dois favores a ele no passado, e ele havia atendido a ambos. Anzel achou que ela poderia ter tentado evitar o encontro para fingir que tinha esquecido.

| Nia | [O que você queria perguntar então? Desculpe apressá-lo, mas tenho tão pouco tempo quanto sempre]

Essa foi a maneira educada dela de dizer para ele se apressar.

| Anzel | [Você conseguiu se livrar da Lynokis?]
| Nia | [Não precisa, eu disse diretamente para ela ficar parada, como você pediu]
| Anzel | [Nossa, estou impressionado que você conseguiu convencê-la a deixar você ir embora sozinha]
| Nia | [Eu fiz o meu melhor para convencê-la. Um artista marcial que não consegue cumprir suas promessas não vale o tempo que você gasta, não acha? Eu não quero me tornar alguém assim]

Nia, de alguma forma, conseguiu persuadir a Lynokis, dentre todas as pessoas. Que magia ela usou para fazer isso? Anzel estava curioso para saber os detalhes, mas não a manterá por mais tempo do que o necessário.

| Anzel | [Não sei dizer exatamente o porquê, mas estou em uma situação em que preciso vencer o torneio de artes marciais]
| Nia | [Oh?]

Nia estava sorrindo. É um sorriso de empolgação.

| Nia | [Não preciso de detalhes, mas adoraria ter pelo menos uma ideia aproximada do que inspirou essa atitude. Então... por quê?]

Por quê? Que resposta satisfaria essa garota?
Anzel hesitou por um momento antes de decidir contar a verdade. Alguém como a Nia não apreciaria uma desculpa inventada e meia-boca.

| Anzel | [O homem a quem devo minha vida está planejando apostar uma quantia absurda de dinheiro em mim. Se eu perder, vai tudo por água abaixo]
| Nia | [E então você quer ficar mais forte, levar seu treinamento ainda mais longe, é isso?]
| Anzel | [Sim]
| Nia | [Maravilhoso. É um ótimo motivo para querer lutar]
É mesmo? [Tem certeza disso? Não é um pouco ganancioso?]
| Nia | [Alguns punhos valem um centavo cada]
| Anzel | [Huh...?]
| Nia | [É um velho ditado marcial. Literalmente, parece que estou dizendo que nossos punhos valem pouco mais do que o troco de alguém. Mas o que realmente significa é que nossos punhos lutam por aquilo que valorizamos ainda mais do que dinheiro. Para outra pessoa, pode não significar muito, mas para você, não é algo tão simples. Em outras palavras, todos nós temos nossos próprios motivos para lutar]

Sempre pareceu que aqueles olhos azul-claros conseguem ver diretamente o coração de alguém.

| Nia | [Você disse que é por alguém a quem você deve? Então, perfeito. Embora eu não seja contra lutar por algumas moedas. Não que você não possa lutar sem um motivo também. Um punho sem sentido não é ruim, especialmente se você puder brandi-lo sem sentir um pingo de culpa]

A resposta dela foi a quintessência da Nia Liston.
De qualquer forma, as negociações estão concluídas.

| Anzel | [Por favor, me diga como posso ficar mais forte. Preciso vencer]
| Nia | [Claro. Você tem treinado bem e, honestamente, eu estava muito interessada em você], Nia pegou um pedaço de entulho. [Quando me ofereci para ensinar Técnicas aos meus alunos, você foi o único que recusou]

Lynokis e Lynette aprenderam o 『Trovão Ressoante』. Gandolph aprendeu o 『Rugido do Trovão』. Fressa aprendeu 『Ruptura』.

| Anzel | [Bem, sim. Como eu disse na época, eu valorizo os fundamentos mais do que alguns truques sofisticados], enquanto todos os outros treinavam suas Técnicas, Anzel se concentrava exclusivamente no treinamento básico do chi.

Desde que se acostumou a manusear seu chi, ele começou a usá-lo em sua vida diária, seja limpando copos ou servindo bebidas. Ele manipulava seu chi constantemente para se acostumar o máximo possível.
Anzel instintivamente concluiu que o poder de uma Técnica reside, em grande parte, na capacidade de controlar o chi, e não na Técnica em si. Graças a isso, em sua opinião, ele se tornou um pouco mais proficiente do que os outros nessa área.

| Nia | [E eu acredito que essa é a melhor escolha que você poderia ter feito], disse Nia enquanto rolava a pedra entre os dedos. [Por muito tempo, pensei que era cedo demais para os outros aprenderem Técnicas. Em vez de praticar uma Técnica instável, eles deveriam se esforçar para estabilizar o controle do chi. Isso leva a um crescimento muito mais rápido. As Técnicas são apenas uma extensão do básico. Aprenda-as e isso naturalmente levará a movimentos mais avançados. É uma daquelas coisas que você acaba aprendendo eventualmente, mesmo sem ser ensinado ativamente]

Nia levantou a mão direita, segurando a pedra.

| Nia | [Tente me rebater com seu cano de metal]

No segundo em que fez o pedido, ela jogou a pedra no Anzel com uma velocidade tremenda.
Anzel se moveu por reflexo. Ele convocou seu cano de metal e estendeu a mão, mas não alcançou. Em vez disso, a pedra se espatifou contra a parede atrás dele.

| Nia | [Seus reflexos não são ruins]
Anzel estalou a língua. [Você jogou aquilo para fora do meu alcance de propósito, não foi?], se estivesse um pouquinho mais perto, ele teria conseguido alcançar.

É o sinal de que a Nia entende completamente o nível de habilidade do Anzel. Ela havia analisado a velocidade de reação do Anzel, seu alcance e até mesmo sua proficiência em chi. Ao compilar todas essas informações, ela conseguiu deliberadamente jogar aquela pedra por pouco fora do alcance dele.
Isso o irritou. Era como ouvir que sua força ainda era pouco superior à de uma criança. São momentos como esse que o lembram exatamente por que sempre parece que ele está dançando na palma da mão dela.
Nia, sem surpresa, sorriu ironicamente diante da irritação do Anzel.

| Nia | [Você precisa estendê-lo]
| Anzel | [Huh? O quê, estender meu chi?]
| Nia | [Sim. Estenda o chi além dos seus membros, além até mesmo da sua arma. Essa é a ideia fundamental por trás do chi externo]

De repente, Nia começou a andar.
No ar.
Ela parou sem cair no chão.



| Nia | [O chi externo é a aplicação do chi empurrado para fora do corpo. Primeiro, você treina estendendo o chi para além do corpo e, em seguida, aprende a dispará-lo. Com bastante prática, você pode até manter um estado de chi expelido como este. Só consigo fazer isso por alguns segundos agora], Nia perdeu o apoio e caiu no chão — seu apoio invisível.
| Nia | [Quanto mais talentoso um artista marcial, mais precisas são suas previsões. Ele consegue se esquivar de ataques no último minuto e sabe o alcance exato do ataque. Sem conseguir fazer isso, você não consegue atacar ou se defender com eficácia. É um tipo de percepção que melhora naturalmente com a experiência real de combate. Agora pense nisso — o chi externo trai completamente essas estimativas]

Anzel não precisou pensar nisso. Ele já tinha ouvido explicações sobre o chi, então, logicamente, sabe que tais aplicações malucas podem existir.

| Nia | [Ataques que normalmente não o atingiriam podem, de repente, alcançá-lo. E se for uma lâmina mirando em um ponto vital, como seus olhos ou garganta? É o que aconteceria em uma batalha usando chi avançado]

Anzel... achou que tinha entendido. Mas, ao testemunhar seu uso com os próprios olhos, ele está começando a perceber que esse poder é ainda mais insano do que jamais imaginou.

| Nia | [Você passou os últimos anos aprimorando seus fundamentos, e é exatamente por isso que acho que você é capaz disso. Você provavelmente conseguiria aprender por instinto, honestamente]

Será que conseguiria, mesmo?
Não, eu conseguiria. Porque a Nia Liston achou que conseguiria.

| Nia | [Okay, parece que você vai ficar bem]

Algo na expressão do Anzel deve ter lhe dito que ele estava convencido.

| Anzel | [Sim, agora tenho uma ideia sólida de onde treinar], respondeu ele. Ela foi realmente precisa. Como raramente se encontram, ela lhe ensinou algo que ele pode praticar mesmo sem a presença dela. Ela explicou de uma forma muito fácil de entender. Aquela ação de um momento atrás lhe mostrou exatamente o que ele pode e não pode fazer.

Eu realmente estou dançando na palma da mão dela, não é?

| Nia | [Peço desculpas por não podermos nos encontrar com frequência]
| Anzel | [Não importa a idade, todos temos nossas próprias responsabilidades, especialmente agora. Não se preocupe com isso], o torneio de artes marciais encheu Altoire de vida, pessoas de todos os tipos de origens e com todos os tipos de objetivos fazendo suas jogadas. Nia está ocupada com a Magivisão, e o Anzel está ocupado com sua vida cotidiana e suas inúmeras preocupações irritantes.
| Nia | [É hora de eu ir]
| Anzel | [Claro. Desculpe por fazer você vir até aqui]

Nia se virou e começou a se afastar. Mas então...

| Anzel | [Ei!], Anzel a chamou. [Eu venho me perguntando isso há um tempo, mas... você não é alguém do meu lado da sociedade, é?], é algo que ele sempre quis perguntar. O conhecimento dela sobre o funcionamento e a etiqueta do submundo é profundo demais. Pouquíssimas pessoas na superfície têm um conhecimento tão amplo sobre como eles funcionam.

No caso da Nia, porém, ela sempre foi assim.

| Nia | [Anzel, você é um pouco sem graça?], perguntou Nia, olhando por cima do ombro.

Aquele sorriso em seu rosto era de insanidade.

| Nia | [Tudo o que estou fazendo é para dobrar as leis deste mundo com pura força. Estou fazendo tudo se render a mim com violência. Por que isso parece que estou no caminho certo? Eu sei que Altoire é conhecida por sua paz ingênua, mas dá um tempo]

É verdade que a lógica faz sentido.

| Anzel | [Mas você é, não é? Claramente], se ela fosse tão extrema, Anzel já teria fugido para salvar a própria vida — Fressa também, provavelmente. Parafraseando a Nia, alguém assim não valeria o seu tempo.

Nia Liston não é esse tipo de pessoa.

| Nia | [O que eu faço não é tão diferente. No fim das contas, a única diferença é que eu não me enganei sobre como usar minha força. Então, vocês sabem, é por isso que não hesitei em ensinar a todos como usar seu chi. Profissionais não se desviarão do caminho certo. É nisso que eu acredito]

Depois de dizer isso, Nia saiu do prédio.



Depois de se despedir da garota que é esmagadoramente mais forte do que ele, Anzel soltou um suspiro e acendeu um cigarro.

| Anzel | [Este não é o tipo de pressão que eu preciso agora]

Profissionais não se desviam do caminho certo. Em outras palavras, se ele parar de ser um profissional... Bem. O que o Anzel faz, no fim das contas, depende das ordens do Kaffes, mas tanto faz.

| Anzel | [Chi externo, huh?]

Esse é o próximo item do seu treinamento.



| Fressa | [Oh, você está finalmente saindo]
| Anzel | [Você ainda está nisso?]

Quando o Anzel saiu do bar para ir para o seu trabalho na Cedony, Fressa estava lá esperando por ele. Ela implorava todos os dias para que ele desse o trabalho a ela.

| Anzel | [Isso é trabalho, tá? Não vou mais brincar com você], Anzel é um profissional. Ele não se importa nem um pouco se a Fressa está atrapalhando o seu dia a dia, mas não a deixará interromper seu trabalho. Mesmo quando ele a encarava, ela se recusou a ceder.
| Fressa | [Deixe-me ir com você. Você nem precisa me pagar]

Ela finalmente chegou ao ponto de abrir mão do pagamento.

| Anzel | [Você está tão desesperada para conhecer o Neal Liston?]
| Fressa | [Sim. A Lynette também. Faz tempo que não a vejo]

Anzel estalou a língua. Se ela está fazendo uma concessão tão grande, seria impossível para ele afastá-la ou recusá-la — Fressa o seguirá de qualquer jeito. Para alguém como ela chegar ao ponto de abrir mão do dinheiro, ela tem que estar falando sério.
Mesmo que o Anzel a machucasse para tentar mantê-la no chão, ela ainda arrastaria o corpo pelo chão se isso significasse poder se juntar a ele. E não há garantia de que o Anzel sairia ileso de uma luta como aquela.
Nesse ponto, aceitar era a melhor opção.

| Anzel | [Tudo bem, mas estou falando sério, você não vai receber nada do dinheiro. Ignore minhas instruções enquanto estivermos no trabalho e você estará morta]
| Fressa | [Sim, claro! Só estou acompanhando, só estou acompanhando], ela o assegurou com um sorriso de satisfação.

E assim, Anzel foi para o seu trabalho com uma criança grande o acompanhando.



O ponto de encontro é no distrito de armazéns do porto, o distrito de armazéns civis não está lotado de pessoas do submundo. O porto está muito mais movimentado do que o normal por causa do torneio de artes marciais; navios de carga e embarcações estrangeiras são tão frequentes que o local está lotado de pessoas e barracas.
O aumento do comércio deixa claro o quão popular Altoire está naquele momento. Pessoas de fora do país chegam uma após a outra, e muitos lutadores durões estão claramente ali para participar do torneio. Como áreas lotadas são propensas a brigas, Anzel pode ver alguns policiais à paisana circulando por ali.

| Fressa | [Não estamos atrasados, estamos?], perguntou Fressa.
| Anzel | [Não deveria. Alguém deveria nos encontrar aqui para nos mostrar o caminho, mas...]

Anzel e Fressa estão esperando ao lado de um dos restaurantes do porto, que é bem popular entre os marinheiros. Não há muito que possam fazer além de observar o que está acontecendo.

| Fressa | [E aí, quais eram os detalhes da comissão?]
| Anzel | [Esperam que eu seja o guarda do Neal Liston. Ele está no quinto ano do ensino fundamental e é um dos rostos do Canal Liston. Ele não apareceu em muitos programas, mas as poucas vezes que ele apareceu foram o suficiente para reunir uma tonelada de fãs apaixonados. Aparentemente, eles só aumentam. Você é um deles]
| Fressa | [Ei, eu já disse que não sou fã. Só quero provocá-lo um pouco]
| Anzel | [Não diga isso para a Lynette, mesmo que esteja brincando. Você sabe tão bem quanto eu que ela ficaria super irritada]

Sinceramente, a ideia de uma luta até a morte entre a Lynette e a Fressa é meio... Bem, pensando bem, ele não é totalmente contra a ideia. Ele não nega que está um pouco curioso para ver quem é a mais forte. Se elas acabarem lutando, há algum motivo para impedi-las?
Na verdade, sim, há uma grande possibilidade da Nia acabar intervindo. Se ela questionar por que ele não as impediu, ele estará em apuros.

| Fressa | [Então vou deixar por um aperto de mão]
| Anzel | [Ótimo. Ah, e sobre o cara que temos que ficar de olho—]
| Becker | [Anzel!], Anzel foi interrompido por uma voz terrível atrás dele.
| Anzel | [Por que diabos você está aqui?]

Quando ele se virou, deu de cara com um sujeito que era forçado a ver todos os dias — Becker. Anzel não só foi forçado a ver o cara no bar, como agora também tem que vê-lo ali. Anzel já estava farto da cara dele à essa altura.

| Becker | [Trabalho. Até nós, os velhos, temos trabalho para fazer enquanto ainda está claro. Ah? Por que você está aqui, Fressa, querida?]
| Fressa | [Acompanhando o Anzel. Ele é péssimo com direções, se perde o tempo todo. Eu estava tão preocupada que decidi vir com ele]
Anzel silenciosamente deu um tapa na mão da Fressa enquanto ela se estendia para lhe dar um tapinha na cabeça. [Você é o mensageiro da empresa?], perguntou ele.
| Becker | [Claro que sou. Aqui], Becker estendeu metade de um contrato.
| Anzel | [Entendo. Nós nos esbarramos muito... infelizmente], Anzel tirou a outra metade do próprio bolso, estendeu-a e juntou-a à do Becker.

Aparentemente, não foi coincidência eles se encontrarem ali. O relacionamento deles evoluiu de um barman e seu cliente para colegas que trabalham na mesma empresa.

| Becker | [Ei, Eu acabei de arrumar um trabalho como aventureiro. Você não é quem está saindo da sua zona de conforto?]
| Anzel | [Sim, talvez], trabalhar ao ar livre à luz do dia é realmente raro para o Anzel. Ele tem plena consciência de que não é alguém que deveria andar ousadamente sob o sol.
| Becker | [É por aqui. Você sabe qual é a sua tarefa, né?]
| Anzel | [Mais ou menos. Mas eu não me importaria de fazer outro resumo para garantir]
| Becker | [Claro. Explico no caminho]



| Fressa | [De jeito nenhum! Sério que não posso encostar nele?! Eu até disse que aceitaria um aperto de mão!]

Anzel sabia desde o começo que ela nunca teria permissão para encostar a mão no garoto; ele só guardou para si porque sabia que ela seria um saco.
Eles confirmaram os detalhes do trabalho enquanto caminhavam, mas quando a realidade se instalou, Fressa de repente explodiu. [Ei! Becker, seu desgraçado! Que tipo de trabalho é esse, huh?!]

Que diabos foi isso de só me acompanhar?

| Becker | [O-O que foi, Fressa?!]
| Anzel | [Calma, idiota]
| Fressa | [Bwah]
Anzel chutou a bunda da garota quando ela tentou se lançar contra o Becker e repetiu o que lhe disseram. [Então você é o guarda-costas principal, Becker, enquanto meu trabalho é patrulhar a área ao redor. Em outras palavras, basicamente estou monitorando a segurança de um cliente específico. Tenho que fazer o que puder para não ser visto pelo cliente], o que significa que o Anzel não terá interação com o Neal.
| Fressa | [Você está falando sério?! Tá brincando, não é?!], Fressa continuou gritando.
| Anzel | [Você é quem está brincando. Imagina dizer uma coisa dessas com a mão na bunda]
| Fressa | [Você foi quem me chutou, seu babaca! Eu tô aliviando! Doeu muito mais do que você imagina!]
| Becker | [Ah, que horror! Que tal esse velho dar uma ma- Desculpe]

Antes que o Becker pudesse terminar uma fala tão ridícula, Fressa lançou-lhe um olhar furioso que o fez calar a boca imediatamente. Como um aventureiro talentoso, ele é bom em reconhecer perigos.

| Becker | [O que a deixou toda agitada?], perguntou Becker. [Ela é fã do Neal?]
| Anzel | [Ela é mesmo]
| Fressa | [Eu já te disse que não é isso. Só quero dar um abraço nele! Um abraço cheio de amor!]

Não grite uma coisa dessas tão alto.

| Anzel | [Você deveria estar só me acompanhando, então não tem nada a ver com esse show. Se te incomoda tanto assim, então vá embora]
| Fressa | [Já vou! Se eu não conseguir nem um aperto de mão, não faz sentido vir até aqui! Além disso, minha bunda está doendo! Não, sério, vai mais devagar, não estou brincando aqui...]

Anzel tinha quase certeza de que o entusiasmo da Fressa era mais do que suficiente para torná-la fã, mas não insistiu. Isso só a tornaria ainda mais chata.



Ah, entendi agora.

Quando chegaram ao local, já havia bastante gente reunida. Aparentemente, aquela área, incluindo o armazém, é propriedade privada da Companhia de Comércio Cedony, e há uma multidão reunida do lado de fora da propriedade. A multidão parece ter cerca de cinquenta pessoas. Segundo Becker, eles estão ali para assistir.
Com tanta gente por perto, faz sentido querer alguém para ficar de olho nas coisas à distância.

| Fressa | [Acho que vão gravar uma gravação]
| Anzel | [Ah], em outras palavras, o grupo à distância é a equipe de produção. Todos correm por aí com dispositivos estranhos nas mãos... e usam uniformes escolares. Depois de olhar mais de perto, Anzel percebeu que são todos crianças.

Anzel não fazia ideia do que estava acontecendo, mas, no fim das contas, não é da conta dele.

| Fressa | [Ah, lá está o Nea— Gwah!]

Anzel agarrou a Fressa pelo colarinho no segundo em que ela tentou correr.

| Anzel | [Não entre no local. Isso não está na minha descrição de cargo]
| Fressa | [Awwwww...]
| Anzel | [Estou falando sério, você precisa parar de fazer isso. Vai realmente impactar meu trabalho], avisou Anzel, soltando-a. Se ela ainda se recusar a ouvir, ele não terá escolha a não ser brigar com ela por isso.
| Fressa | [Tudo bem... Vou pedir para a Lynette chamá-lo mais tarde]

Você ainda não vai desistir? Bem, tanto faz.

| Anzel | [Onde está o cliente?], ele queria pelo menos saber onde o garoto está em caso de emergência.
| Fressa | [Debaixo daquele guarda-sol ali. Tá vendo o garoto lendo um livro?]
| Anzel | [Ali? Ah, tô vendo. A Lynette também está lá]

Há um garoto loiro parado lá atrás enquanto a equipe de produção corre de um lado para o outro. A mulher ao lado dele, usando uniforme de atendente, é a Lynette, uma das pessoas com quem eles tinham trabalhado para ganhar o bilhão de krams. Ela também é forte.
E seus olhares se encontraram.

| Fressa | [Ei, ela me ignorou. Anzel, ela me ignorou!]
| Anzel | [Sério. Ela é a atendente de um aristocrata; Ela não pode simplesmente agir como se conhecesse tipos suspeitos como nós às claras], eles são apenas dois guarda-costas suspeitos — nada de bom viria deles sendo amigáveis em público.
| Becker | [Alguém que você conhece?], perguntou Becker.
| Anzel | [Não se preocupe com isso. Confirmei a localização do cliente, mas quem é que eu deveria estar monitorando?], Anzel tinha mais uma tarefa além de proteger o Neal Liston, então ele quer confirmar os detalhes também.
| Becker | [O cara ali], Becker apontou para um homem que usa um uniforme sujo e está conversando com os alunos. Pela aparência, ele parece um engenheiro, não um marinheiro ou funcionário de depósito.
| Fressa | [Hmm? Já o vimos antes?], perguntou Fressa de repente.
| Anzel | [O quê?], Anzel estreitou os olhos para o homem.

Sabe, ele parece meio familiar... Mas o Anzel não consegue se lembrar dele. Será que ele tinha ido ao bar deles, talvez? Um antigo cliente?
Isso não parece certo. Parece que eles tinham se conhecido em outro lugar.

| Becker | [Esse é o seu tipo, Fressa?]
| Fressa | [Como? Bem... Okay, admito, ele é um pouco bonito, mas não é meu tipo. Me importo mais com o Neal agora. Ele é ainda mais fofo pessoalmente do que na Magivisão. Dê a ele mais dez, não, cinco anos, e ele vai fazer as garotas chorarem feito loucas]
| Becker | [Eu sou o seu tipo?]
| Fressa | [Você tem dinheiro, velhote? Quanto? Pode me dar dez milhões de krams a qualquer momento? Eu poderia ignorar sua idade e aparência por dinheiro, mas isso depende de quanto você estaria disposto a me dar]
| Becker | [Ah, como eu anseio por voltar à minha juventude. Posso estar velho agora, mas também já fui jovem, sabe. Mas hoje em dia eu tenho aquele verdadeiro pingente prateado, não acha?]
| Fressa | [Você deveria mesmo estar dizendo coisas assim? Você só vai se deixar triste depois]
| Becker | [Sim, você tem razão], levemente magoado pelas palavras da jovem, Becker se despediu e foi embora.

O trabalho do Becker é proteger o Neal Liston de perto. O trabalho do Anzel e da Fressa é proteger o Neal Liston à distância e também monitorar uma pessoa específica.

| Anzel | [Ah, agora me lembro]

Ele havia sido explicitamente instruído a monitorar aquele homem com uniforme de engenheiro. Por quê? A pergunta o lembrou de onde já o vira antes.

| Anzel | [Fressa, é aquele capitão pirata]
| Fressa | [O quê?], Fressa estreitou os olhos. [Ah, você tem razão. O corte de cabelo e a atmosfera geral dele estão completamente diferentes agora]

Se o Anzel se lembra corretamente, o cara era o capitão dos Piratas Celestiais Cabeça de Martelo. Foi a tripulação dele que atacou a aeronave quando toda a equipe (menos a Lynette) foi caçar junta.
Um pouco cansado e coberto de óleo, o homem está muito longe do capitão arrogante de que o Anzel se lembra. O cara parece apenas um civil agora.
Não... Ele não apenas parece um civil, ele realmente havia se tornado um.

| Fressa | [Então eles querem que a gente fique de olho nele para garantir que ele não escape?], perguntou Fressa.
| Anzel | [Isso, e se ele tentar machucar alguém, intervir e impedi-lo. Mas... Não, deixa pra lá], ele não parece que vai começar nada. É o quanto ele parece um civil agora.



Depois de esperar um pouco, um dos alunos e o ex-capitão se aproximaram.

O ex-capitão reconheceu o Anzel e a Fressa imediatamente. [Huh? Vocês dois não são...?]
| Anzel | [Prazer em conhecê-los], interrompeu Anzel. [Nós ficaremos responsáveis por proteger vocês hoje. Não sou muito fã de formalidades, mas farei meu trabalho, então agradeceria se você pudesse ignorar isso]
| Fressa | [Igualmente. Prazer em conhecê-los], acrescentou Fressa.

Antes que o ex-capitão pudesse dizer mais alguma coisa, os dois deixaram sua posição clara.

| Ex-Capitão | [A-Ah, sim, claro. Prazer em conhecê-los], o cara imediatamente percebeu que estavam lhe dizendo para não falar muito — um sinal de que ele definitivamente faz parte do lado ruim. É improvável que ele queira que sua antiga identidade seja descoberta também.
O jovem se pronunciou. [Vocês dois são da Companhia de Comércio Cedony, certo? Meu nome é Wagnes. Sou o responsável pela nossa equipe de produção. Prazer em conhecê-los]
| Anzel | [Sim, eu ouvi mais ou menos o que está acontecendo. Pode nos ignorar. Faça o que precisar. Não se sintam pressionados a conversar conosco depois disso também]

Após as apresentações, Wagnes retornou à sua tripulação, deixando para trás o ex-capitão.

| Ex-Capitão | [Vocês são minhas babás?]
| Anzel | [Uh-huh. O que vocês estão fazendo aqui?], perguntou Anzel.
O ex-capitão riu com um sorriso maroto. [Eu era engenheiro de dirigíveis. Acabei por voltar ao meu antigo emprego, só isso]
| Fressa | [Ah, sim, ouvimos algo sobre isso], disse Fressa.

Quando eles tiveram sua reunião final sobre o bilhão de krams com a Nia, os Cabeças de Martelo surgiram no assunto — algo sobre como eles foram expulsos de Marvelia. Anzel nunca imaginou que eles acabariam se encontrando novamente assim. Poderia ser que ele fosse o motivo pelo qual o Anzel havia sido requisitado para o trabalho. Eles são apenas conhecidos, mas ele pelo menos sabe quem é esse ex-capitão.

| Ex-Capitão | [Vocês não podem me tocar agora. Sou um engenheiro da Cedony!], ele tem uma expressão tão orgulhosa no rosto.
| Anzel | [Por que faríamos isso? Você não é um civil comum agora? Parece bom para mim], respondeu Anzel, dando de ombros.
| Fressa | [Certo. Não cabe a nós decidir como lidar com os crimes que você cometeu]
| Ex-Capitão | [Huh? O quê? É tão simples assim?]

Depois de passarem a vida inteira no submundo, Anzel e Fressa acreditam que, se alguém puder se livrar de tudo e voltar à superfície, deveria.

| Ex-Capitão | [Vocês dois não estão... chateados com isso?]
| Anzel | [Não particularmente]
| Fressa | [Não]

Ele poderia ter se purificado de seus pecados e isso ainda não seria algo com que eles se importassem. Só os envolvidos têm necessidade de se preocupar com o status deste homem.

| Fressa | [Eu vou bater em qualquer um que se achar muito convencido, então tome cuidado, okay?] Fressa avisou.
| Anzel | [Concordo. Se ficar muito convencido com essa sua cara de bajulador, vou contar que você é um ex-pirata do céu em dois segundos]
| Ex-Capitão | [E-Entendi. Vou tomar cuidado]

O nome do ex-capitão é Rignar, e ele estava falando a verdade quando disse que estava trabalhando como engenheiro de dirigíveis para a Companhia de Comércio Cedony. Aparentemente, seu salário é bem ruim e ele não ganha muitas férias, mas... Bem, basicamente ele é um servo contratado. Muitos piratas de sua tripulação trabalham com ele, mas nenhum deles tinha qualquer reclamação sobre a situação atual.

| Anzel | [Você... está mesmo bem com isso?], Anzel não pôde deixar de perguntar.
| Rignar | [Por enquanto. Honestamente, estou feliz por poder trabalhar com orgulho como engenheiro. Só de poder trabalhar, encher a barriga com uma comida gostosa e dormir sem ter que me preocupar com nada já é o suficiente para mim. Ah, se importa se eu fumar um cigarro?]

Rignar levantou os dedos indicador e médio quando viu o Anzel colocar um cigarro entre os lábios.

| Rignar | [Whew... Metade da minha tripulação era formada por engenheiros de Marvelia. Só nos tornamos piratas do céu porque todos perdemos nossos empregos. Não tínhamos trabalho, nem dinheiro, apenas nossas habilidades como engenheiros. Eventualmente, decidimos nos tornar piratas do céu. Não estávamos levando isso tão a sério — tudo o que precisávamos fazer era apontar alguns canhões para navios mercantes desavisados e conseguiríamos um monte de mercadorias. Conseguimos sobreviver com isso por um tempo, mas... antes que percebêssemos, tínhamos ido longe demais para voltar atrás. Não éramos vilões de verdade, apenas artesãos, então não podíamos nos comprometer com nada maligno. A única coisa que podíamos fazer era mexer nas aeronaves. Mal se podia nos chamar de bandidos. Só conseguimos sobreviver porque conseguimos deixar as aeronaves em boas condições. Todas as armas instaladas foram feitas por nós, entende?]

Aparentemente, eles são proficientes em combate com aeronaves. Não é uma questão de serem fortes ou fracos individualmente, mas sim, eles eram fortes nos tipos de batalha exclusivos dos piratas do céu.

| Rignar | [Para ser sincero, eu fui salvo naquele dia. Eu simplesmente não conseguia me acostumar a maltratar as pessoas, não importava quanto tempo passasse, mas como eu era o capitão deles, tinha que puxar todo mundo comigo. Cara, isso era quase impossível. Você viu como os outros piratas do céu são assustadores? Se tivéssemos continuado como estávamos, mais cedo ou mais tarde, todos teriam morrido. Nossa sorte teria acabado eventualmente]

Cedony deve tê-los recrutado porque eles conseguiram enxergar seu verdadeiro caráter. Nenhuma empresa contrataria alguém realmente perigoso, independentemente de suas habilidades. Bem, seja qual for o caso, isso também não é algo com que o Anzel se preocupa. Anzel está ali para proteger o Neal Liston e ficar de olho no Rignar. As circunstâncias deles não importam para ele.

| Fressa | [E? Por que um engenheiro como você está aqui? Você tem algo a ver com a gravação?], perguntou Fressa.
| Rignar | [Ahh, bem, veja bem, tem uma coisa chamada Wingroad...]

E foi assim que eles acabaram fazendo um novo conhecido surpreendente.



A gravação parece ser sobre um esporte competitivo de esquife chamado Wingroad. Parece que eles estão gravando os esquifes em uma velocidade alucinante.

| Fressa | [Ahhh, entendi. É como corrida de cavalos]

A analogia da Fressa ajudou o Anzel a entender imediatamente. Quanto mais ele ouvia, mais parecia corrida de cavalos. Wingroad é apenas mais uma forma de apostar na velocidade de algo que está ganhando popularidade em Vanderouge. A Companhia de Comércio Cedony planeja transformar o esporte em um novo negócio.

| Fressa | [Ele é realmente tão fofo quanto eu me lembrava!]

Deixando de lado a questão da fofura do Neal Liston, parece que ele está ali apenas para andar nos esquifes de Wingroad e não faz parte da gravação. Na verdade, a estrela do show é um estudante chamado Char, que parece um pouco mais durão.

Quando não estavam gravando, os dois garotos se divertiam correndo nos esquifes, então, pelo menos, a presença do Neal não é tratada como um incômodo — deve haver um motivo para ele estar ali também.
Anzel descobrirá mais tarde que o Neal participará de vários programas relacionados ao Wingroad; foi nessa época que ele começou a trabalhar para ser a faísca da popularidade do Wingroad em Altoire.
As gravações para esse programa em particular vão durar cerca de dois meses, totalizando cerca de dez sessões. Eles gravaram o Char pilotando seu esquife Wingroad, passavam alguns dias fazendo ajustes e, em seguida, o gravavam pilotando novamente. A gravação era dividida em várias sessões para levar em conta o tempo que levaria para fazer os ajustes no esquife.
Do ponto de vista do Anzel, já parece o esquife mais rápido que ele já tinha visto. No entanto, aparentemente, é o mais lento, e o Wingroad profissional de verdade é muito mais rápido.
O apelido de Vanderouge de Império da Aviação não é brincadeira — ele sente a proeza técnica que faz jus ao nome naqueles esquifes.



O quinto dia de gravação chegou.

| Fressa | [Droga, está ficando quente]
| Anzel | [Já é quase verão]

Sob os raios de sol cada vez mais fortes, Anzel e Fressa observavam o porto de longe, como de costume. Parece que a notícia da gravação havia se espalhado, pois os espectadores quase certamente haviam aumentado em número. Estão todos ali para ver o jovem príncipe da família Liston, Neal Liston; querem ver o rosto de uma celebridade.

| Fressa | [Ei, já podemos chamar a Lynette, certo?]
| Anzel | [Claro que não], retrucou Anzel. Há uma mulher bem ao lado dele que tem o mesmo objetivo que os espectadores, então ele sabe. Embora, honestamente, ele não tenha ideia de por que eles querem tanto ver o rosto de uma criança.

Esta é a quinta gravação e, portanto, é o quinto turno deles. Nesse período, nenhum perigo em potencial havia feito contato com a vítima em potencial da Fressa.
Secretamente, Anzel estava aliviado com isso. Se algo acontecesse com o Neal, Nia não aceitaria bem. Fressa deveria saber disso, mas... muitas vezes parece que a Fressa não entende de verdade, então ele nunca pode baixar a guarda. Ele a vê como uma aliada, mas ela pode facilmente se tornar uma inimiga.

| Rignar | [E aí, vocês dois! Estão se mantendo bem?!], Rignar se aproximou com seu uniforme sujo. É a quinta vez que se encontram, então já estão razoavelmente próximos.
| Anzel | [Terminou os ajustes?]

Como o Rignar é o responsável pelo esquife que o Neal está pilotando, as verificações finais ficaram por conta dele.
Aliás, o esquife do Char aparentemente foi feito por ele mesmo, incluindo todos os ajustes e personalizações — agora com a ajuda do Rignar, como especialista.

| Rignar | [Sim, eles vão começar a gravar em breve. Mas deixa isso para lá. Tenho uma coisinha divertida para você, Anzel]
| Anzel | [Huh?]
| Rignar | [Me dá um cigarro se você concorda. Se for chato, então... Bem, é só um. Você não se importa, né?]
| Anzel | [Compre o seu]
| Rignar | [Mas eu ganho tão pouco]

Sinceramente, ter esse cara implorando por um cigarro toda vez está começando a ficar irritante, mas o ex-capitão é sempre um tagarela, e dar um cigarro a ele faz a boca dele falar, então, à sua maneira, é divertido.

| Anzel | [Tudo bem, vá em frente]

Por enquanto, Anzel dará um para ele.

| Rignar | [Ahhh, é isso aí], depois de dar uma tragada lenta, Rignar começou sua história. [Nada disso é público ainda, mas estamos construindo algo incrível agora]
| Anzel | [De que forma?]
| Rignar | [Estamos desenvolvendo um brinquedo. Ele usa magia para montar automaticamente as peças de um esquife]

Um esquife automontável... Isso com certeza me parece familiar.

| Fressa | [Não foi isso que vimos antes?], Fressa sussurrou.

Anzel assentiu. Provavelmente é.
São aquelas peças que eles encontraram (e roubaram) quando fizeram uma das verificações de rotina dos canais subterrâneos. Eles venderam cada peça, fazendo o possível para esconder seus rastros. Como as peças são mercadorias roubadas e contrabandeadas, eles as venderam não para a Cedony, mas para alguma fonte suspeita com reputação de comprar qualquer coisa. Parece que as peças tinham acabado com a Cedony de alguma forma, a julgar pelas palavras do Rignar.

| Rignar | [Aparentemente, eles querem revelar no torneio. Então, o que você acha? Interessante o suficiente para outra tragada?]
| Anzel | [Tudo bem, aqui. Admito que foi um pouco interessante]
| Rignar | [Heh heh, obrigado]

Anzel entregou ao Rignar — gargalhando como um lacaio — uma caixa de charutos cheia de cigarros enrolados.

| Rignar | [Espera aí, tem certeza que quer me dar a maleta toda também?]
| Anzel | [Tudo bem. É uma coisinha barata mesmo. Se não quiser, é só jogar fora]
| Rignar | [Hee hee, eu agradeço, chefe], ele riu mesmo como um capanga.
| Fressa | [Você provavelmente não deveria nos contar esse tipo de coisa], Fressa avisou. [Não existem cláusulas de confidencialidade para esse tipo de coisa?]
| Rignar | [O quê? Eu não posso te contar? Eles nunca disseram que eu não podia...]
| Fressa | [Você ainda não deveria. Vazar informações sobre seu local de trabalho para terceiros é um grande erro, você sabe? Além disso, você não é engenheiro? Você pode ter seu salário reduzido ou até ser demitido por algo assim]
| Rignar | [Ah, droga. Não conte a ninguém o que eu te contei]

Por que contariam? Se as autoridades tentassem rastrear a rota comercial, acabariam descobrindo a verdade sobre a origem das peças.



| Wagnes | [Rignar, pode vir aqui um segundo?], Wagnes acenava para eles.
| Rignar | [Desculpe, preciso ir]

Quando Rignar saiu, foi substituído pelo Becker.

| Becker | [E aí, vocês dois. Bom trabalho hoje]
| Anzel | [Você não precisa continuar vindo nos ver assim. Você vai passar no bar hoje à noite, não vai?], as visitas constantes do aventureiro ao Rato das Sombras não tinham parado.
| Becker | [É só um pouco difícil trabalhar com o garoto, entende?] Becker sorriu, desconfortável.
| Anzel | [Ele está te tratando mal?]
| Fressa | [Oh, precisa que eu assuma?], perguntou Fressa. [Você pode ficar no meu lugar guardando o lado de fora]
| Becker | [Não, é o contrário. Neal, ele... Ele me olha com tanta reverência. Naturalmente, ele também tenta puxar conversa comigo o tempo todo. Sou meio famoso, então ele não consegue evitar a curiosidade]
| Fressa | [Vou te matar, velhote]
| Becker | [Huh? Por que você ficou tão brava de repente, Fressa?]

Uma gosta do Neal, mas não consegue se aproximar. O outro está próximo, mas se sente dominado pelo interesse do Neal.
Que irônico.

| Anzel | [Não se preocupe com isso], interrompeu Anzel. [De qualquer forma, há realmente algo que valha a pena admirar?]
| Becker | [Sou tão ignorante quanto você sobre isso, mas não muda o fato de ser difícil lidar com isso. Ele me olha com uma alegria tão inocente... Imagine se ele me visse flertando com as moças], acontece que o velho não quer acabar com as ilusões do garotinho. [Chega disso... Vocês dois já perceberam, não é?]

Eles perceberam.
Eles perceberam, mas deliberadamente não estavam fazendo nada a respeito.

| Becker | [O que você pretende fazer?], Becker se submeteu a eles, como seguranças externos.
| Anzel | [Por enquanto, eles estão apenas observando. Se os atacarmos sem justificativa, seremos nós que seremos presos], respondeu Anzel.
| Becker | [Então vocês vão ficar aqui parados sem fazer nada?]
| Anzel | [Se tentarem se aproximar, vamos dar um susto. Mas ainda é cedo demais para isso. Quero sentir os movimentos deles e ver o que estão procurando, então vamos continuar fingindo que não os notamos. Se tentarem alguma gracinha, eu acabo com eles imediatamente]
| Becker | [Entendi. Contanto que saibam o que estão fazendo, não vou me intrometer. Tenham cuidado]

Becker deve ter vindo para avisá-los. Um grupo estranho está assistindo à gravação desde a segunda sessão. A maneira como escondem sua presença demonstrou considerável habilidade — Anzel provavelmente não os teria detectado se não soubesse usar o chi. Os únicos capazes de algo desse nível são a casa principal dos Qilong. Provavelmente é a mesma equipe que ele havia encontrado na outra noite, ou pelo menos seus amigos.
A questão aqui é que o Anzel não tem ideia de qual é o objetivo deles. Seria com o próprio Anzel que eles tinham negócios? Ou estão tentando provocá-lo?

| Anzel | [Fressa, você consegue dizer quantos são?]
| Fressa | [Quatro, eu acho? Mas acho que deve ter mais]
| Anzel | [Era isso que eu estava pensando. Consigo sentir uma tonelada de olhos em nós — muito mais do que apenas quatro pares deles]

Anzel havia dito ao Becker que os deixaria fazer o que quisessem por enquanto, mas isso não é bem verdade.
Anzel é o tipo de pessoa que espancaria qualquer suspeito que ousasse se aproximar de seu cliente. Ele sabe que, se esperar muito, se arrependerá mais tarde; ele é do tipo que elimina agressivamente qualquer ameaça em potencial.
Mas, naquele momento, Anzel não tem ideia de quantos membros dos Qilong estão ali. Se deixar escapar pelo menos um deles, as coisas ficarão terrivelmente problemáticas mais tarde. Aquele vazamento pode levar à chamada de ainda mais reforços ou a um ataque mais indiscriminado.
O melhor cenário é eliminar todos de uma vez. A noite é o melhor horário para isso. É um saco tentar controlar os danos durante o dia, então, por enquanto, Anzel e Fressa os deixarão fazer o que quiserem. Nem olharão para eles, não darão sinal de que os tinham visto. Se o Qilong os estiver menosprezando, não há como saberem das intenções do Anzel e da Fressa.
O fato de até o Becker conseguir detectá-los significa que provavelmente são membros de escalão inferior; isso é certo. Executivos de uma organização tão prestigiosa não seriam tão estúpidos. Não teriam ficado parados enquanto o Anzel os atacava como aqueles caras na outra noite.

| Fressa | [Qual é o plano? Vamos matá-los?]
| Anzel | [Ainda é muito cedo para isso. Assim que tivermos certeza de quantos são, agiremos. Ah, e não vamos matá-los], se forem tão longe, a casa principal em Wu Haitong quase certamente enviará pessoas atrás deles, incluindo os perigosos executivos. Não há como o Anzel aguentar aquilo.
| Fressa | [Ugh, eles são tão irritantes. Eu só queria ficar olhando para o Neal o dia todo, não lidar com eles]

Bem, pelo menos o Anzel tem algo pelo qual ser grato a eles.



Embora os raios de sol estivessem ficando cada vez mais fortes a cada dia, a sétima e a oitava gravações continuaram sem incidentes. Anzel ainda não tinha sido informado do que exatamente estavam gravando, mas, pelo que ele pode perceber, as coisas parecem estar indo bem.
Houve alguns incômodos, como ter que impedir que algumas garotas excessivamente apaixonadas tentassem correr até o Neal, expulsar uma mulher que tentou suborná-lo com uma grande quantia de dinheiro para deixá-la passar e deixar as garotas que tentaram empurrar o Anzel à força para a Fressa. Além de tudo isso, porém, a mulher mais perigosa ali está se comportando e, por isso, ele está grato.

| Fressa | [Okay, esse show está começando a me dar nos nervos... Lynette não vem me cumprimentar, Becker não traz o Neal, você continua sendo chato e me dizendo para esperar, não estou recebendo recompensa e está tão quente. O que eu estou fazendo aqui? Quanto tempo vou ter que ficar esperando, de braços cruzados, bem na frente do meu alvo?]

Pelo menos ela está se comportando, mas parece que está chegando ao limite. O trabalho deles terminará antes que a Fressa exploda ou ele deve negociar para pelo menos deixá-la apertar a mão do Neal?

| Rignar | [E aí, vocês dois. Parece que só temos mais uma ou duas gravações antes de eles terminarem], relatou Rignar enquanto se aproximava.
| Fressa | [Traga o Neal]
| Rignar | [O quê? De onde veio isso? O jovem mestre? Você quer que eu o traga? Você está louca? Aquele garoto é a pessoa mais importante aqui]
| Fressa | [Eu não me importo. Traga ele aqui]
| Rignar | [Eu realmente não posso...]
| Fressa | [Traga ele aqui. Traga ele agora mesmo. Eu não vou fazer nada, eu juro. Vou me limitar a um beijinho]

Isso não conta como 『fazer alguma coisa』?

| Fressa | [Ugh, por que eu estou dizendo que isso como um limite? Me beijar é realmente um castigo?], agora ela está tendo uma conversa consigo mesma. Ela realmente está perdendo o juízo.
| Anzel | [Ignore-a], disse Anzel, empurrando para o lado a mulher que estava cada vez mais frustrada. [Há algum problema?]
| Rignar | [Nenhum, até onde eu sei. Os obstáculos para a corrida deles acabaram de chegar, então acho que eles vão fazer uma corrida simulada de verdade hoje]

As crianças estavam inicialmente pilotando os esquifes o mais rápido que podiam, mas agora que têm as regras e um percurso definido, está começando a parecer uma competição de verdade — o Wingroad está lentamente tomando forma.

| Rignar | [Ah, e sobre aquela coisa de que falei antes, finalmente terminamos um protótipo]
| Anzel | [Aquela coisa...? Ah, aquela], ele se refere ao esquife que se monta automaticamente.
| Rignar | [Só falta a apresentação. Vocês também deveriam assistir. Vai fazer vocês se sentirem crianças de novo]

Anzel certamente já tinha sentido aquela sensação de admiração — e certamente, se esta fosse a primeira vez que ele vê um esquife que se monta automaticamente, ele estaria ansioso por isso.



As corridas são uma das principais disciplinas da Wingroad. Assim como as corridas de cavalos, os competidores largam ao mesmo tempo e tentam chegar à meta antes dos outros. As corridas em si são basicamente de quatro tipos diferentes, sendo a de hoje uma corrida de obstáculos. Argolas flutuantes estão alinhadas no ar a uma curta distância da ilha — o oceano está abaixo deles, mas ainda estão dentro do espaço aéreo do quebra-vento. Os garotos devem passar por cada uma delas em ordem, mirando na meta.

| Fressa | [Parece que o risco de colisão é bem alto], disse Fressa.
| Anzel | [É, parece mesmo], as argolas são grandes, mas em uma competição de verdade, pode haver de cinco a dez competidores participando. Se tantos esquifes tentarem passar por uma daquelas argolas, seria um pouco apertado. [Mas, honestamente, isso provavelmente é metade do charme de assistir]

Anzel nunca tinha visto uma corrida de Wingroad antes, mas faz sentido quando ele imagina como uma corrida de cavalos. O posicionamento, o timing da corrida, o ângulo certo para passar pelo próximo anel com a menor distância possível e, em seguida, a possibilidade de jogadas bruscas, como colidir deliberadamente com outros competidores ou bloquear o caminho à frente... Tudo isso revela a habilidade do competidor.

| Fressa | [Estou ansiosa por isso. Talvez eu devesse começar a assistir corridas — posso rir dos idiotas que continuam apostando na esperança de escapar das dívidas]
| Anzel | [Você tem alguns hobbies malucos], cada um com o seu, ele supôs.



A gravação estava indo bem quando, de repente, algo pareceu estranho.

| Fressa | [Anzel], Fressa sibilou para ele.
| Anzel | [Eu sei]

Neal e Char tinham feito muitos voos de treino em seus esquifes, e agora finalmente é hora de gravá-los fazendo uma corrida de velocidade de verdade. Anzel e Fressa, guardando o exterior do local, notaram a mudança ao mesmo tempo.
Algo no ambiente ao redor deles havia mudado.
As presenças dos membros Qilong que os observavam desapareceram de uma vez, e o Anzel e a Fressa não conseguiam mais sentir seus olhares. Momentos como aquele são sempre perigosos; é como quando suspeitos fogem rapidamente da cena do crime.

Onde eles estão?
O que eles tinham feito?
O que eles tinham armado?
Eles tinham feito alguma coisa?
Algo está prestes a acontecer?

Anzel foi o primeiro a perceber. [Rastreie para onde eles foram!]
| Fressa | [Espere, eu vou por aí... Ugh, droga!]

Essa pequena diferença foi suficiente para o Anzel obter uma vantagem que a Fressa não conseguiu superar. Anzel correu para um lado e a Fressa para o outro.
O esquife do Neal havia se desequilibrado estranhamente. Na melhor das hipóteses, não havia nada de estranho e o Anzel simplesmente tinha entendido errado — ele apenas se precipitou um pouco. Mas se isso for uma armação, pode ser mortal.

E algo aconteceu. O esquife di Neal disparou a toda velocidade em direção ao objetivo e, de repente, diminuiu a velocidade e começou a soltar fumaça preta.

Merda, vai explodir.

| Becker | [Anzel! Olha para mim!], Becker gritou freneticamente logo atrás dele. Anzel se virou para olhar e viu uma pedra voando em sua direção. Quando a pegou, viu que havia um círculo mágico gravado nela. [Preencha com mana e jogue! Conto com você!]

Anzel tem uma ideia aproximada do que é a pedra; é uma pedra angular. Pedras angulares são como interruptores que podem ativar dispositivos mágicos. É uma parte tão comum da vida moderna que são usadas até em esquifes e dirigíveis.
Anzel pegou a pedra angular e a arremessou com toda a força para além da ilha, na direção de onde o Neal e o Char estavam voando.
Antes que ele percebesse, pedaços do esquife voavam por ele, direto para a pedra angular.

| Lynette | [Ngh...! Por favor, ajude-o!]

Lynette surgiu correndo de algum outro lugar mais ou menos na mesma hora que o Anzel, mas, assim que apareceu, começou a ficar para trás — estava com dificuldade para correr com o uniforme de assistente. Naquele momento, Anzel é claramente o mais rápido dos dois.
Ele não teve tempo para responder.

| Anzel | [Estou indo ajudar!], Anzel gritou para o Neal, que estava claramente em pânico agora que seu esquife estava soltando fumaça e fora de controle. Contanto que saiba que a ajuda está a caminho, ele ficará bem. [Não toquem nele!] Char tentou se aproximar ao perceber que algo estava errado, mas recuou ao grito do Anzel. Se o garoto fizesse um movimento errado, ambos estariam em apuros. Um risco como esse deve ser deixado para um guarda-costas.

Anzel escalou a barreira na borda da ilha e pulou para o esquife que havia se formado no ar. Este também é destinado a corridas. Em termos de pilotagem, bem... Ele só precisa torcer para que seja como os esquifes que já havia pilotado.
Quando pousou no esquife, agarrou as manivelas e imediatamente ligou o motor mágico.

| Anzel | [Tch... Que diabos é isso?]

Já havia soado alto de longe, mas agora que o Anzel está no esquife, a rotação e as vibrações são muito mais altas do que ele esperava. Para piorar as coisas, é muito rápido. Não importa tentar controlar a coisa, parece impossível até mesmo ajustar a velocidade. Se ele não tomar cuidado, acabará involuntariamente na velocidade máxima. Graças a isso, ele acabou passando direto pelo Neal.

Pelo menos parece ter os mesmos controles dos esquifes que ele já havia pilotado, mas a velocidade é completamente diferente. Nesse aspecto, ele está fora de seu alcance.
Esquifes feitos sob medida para velocidades absurdas como essa são impossíveis de fazer manobras rápidas — pelo menos, para o nível de habilidade atual do Anzel. As crianças fazem parecer fácil, mas, diante da situação, ele entende a dificuldade. O melhor que o Anzel conseguirá fazer será se aproximar.
Mas isso já vai ser o suficiente.

| Anzel | [Tudo bem], ele já tinha se acostumado — mais ou menos. Só precisa parar de pensar tanto.

Anzel havia ultrapassado o limite acidentalmente na primeira vez, mas desta vez conseguiu se aproximar do esquife oscilante. Char ainda observava de uma distância segura, como o Anzel havia lhe dito.

| Anzel | [Em dez segundos, pule! Eu te pego!], gritou ele, depois de se certificar de entrar na linha de visão do Neal. Seus olhares se encontraram, então o Anzel tem certeza de que ele tinha ouvido.

Ele circulou e então começou a se aproximar do Neal por trás.
Depois de exatamente dez segundos, Neal pulou. Se o garoto gritasse, Anzel não conseguiria ouvir. Embora não tivesse certeza se era porque o vento estava muito forte ou porque o Anzel estava concentrado demais.
Ele estendeu a mão para o garoto flutuando no ar.

| Anzel | [De jeito nenhum!]

Antes que pudesse agarrar o garoto, ele passou voando por sua mão. Os ventos são tão fortes que o corpo do Neal havia se desviado um pouquinho, o suficiente para que ele ficasse fora do alcance dos dedos do Anzel.

Não consigo alcançar.
Não consigo alcançá-lo assim.
Preciso estender... Não. Não meu braço.
Preciso chutar.

Ele não precisa fazer isso tão bem quanto quando a Nia andou no ar. Contanto que possa se mover um pouco para o lado, será o suficiente. Só um chute!

Ele nunca havia praticado, mas consegue visualizar. Talvez seja a influência de ter praticado o básico tão exaustivamente, como a Nia havia mencionado.
Anzel sente que consegue. Ele ainda não conseguia estender seu chi de forma confiável, mas naquele momento...
Neste momento, quando sua concentração é a maior de todas...
Ele absorveu o máximo de chi possível de todo o corpo, concentrou-o na perna esquerda e então o visualizou sendo expelido enquanto chutava!
Ele bateu em algo. Sentiu algo que não deveria estar ali atingir a sola do seu pé. Seu esquife se moveu para o lado.

Eu consigo alcançar!



| Anzel | [Ótimo! Você fez um ótimo trabalho!], ele gritou para o garoto enquanto o puxava para perto e o segurava debaixo do braço enquanto ganhava altura novamente.

Se o Neal tivesse caído, estaria morto. Apesar de quão assustador deve ter sido pular, ele ainda ouviu as instruções do Anzel. O garoto tem coragem, isso é certo.

| Neal | [Ah, o esquife], Neal murmurou tristemente enquanto virava a cabeça para observar o esquife em que estava descendo lentamente.
| Anzel | [Diga... é caro?]
| Neal | [Sim]
| Anzel | [Um esquife não pode ser tão caro, com certeza. Desista dele e compre outro]
| Neal | [B-Bem, veja bem... custou mais de vinte milhões de krams...]
| Anzel | [Bem, então. Farei o meu melhor, mas não conte comigo para ter sucesso]

Vinte milhões de krams não é um valor que ele pode simplesmente abandonar. Ele tem que pelo menos tentar salvá-lo.
Depois de confiar o Neal a Lynette e o Becker, que esperavam na beira da ilha, Anzel voou de volta ao ar. Ele acelerou em direção ao esquife em queda, alcançando-o em um piscar de olhos.

| Anzel | [Por favor, não exploda em mim], esse risco foi o motivo pelo qual o Anzel disse ao Neal para pular em primeiro lugar — agora que precisa recuperá-lo, tudo o que pode fazer é rezar para que não. Ele chamou sua arma sintonizada e a alavancou entre as alças e a carenagem.
| Anzel | [Isso é tão pesado!]

Forçando seu próprio esquife a uma parada, Anzel colocou o máximo de força possível no braço, tremendo com o esforço. As veias em seu pescoço saltaram sob a tensão. Ele está essencialmente tentando parar um esquife com um braço, algo que teria sido impossível sem a ajuda do chi.

| Anzel | [Tudo bem], Ele de alguma forma conseguiu impedir que o esquife quebrado caísse.
| Anzel | [Whoa]

Mas parece que ele tinha chegado perto demais da superfície da água, tendo que desviar repentinamente do peixe-lança que saltou do mar em sua direção.
Por enquanto, os vinte milhões estão seguros. Ainda está soltando fumaça, mas deve haver partes ainda utilizáveis.



| Neal | [U-Um!] Quando o Anzel retornou à terra, Neal veio correndo com um sorriso de tirar o fôlego.
| Anzel | [Pare. Não se incomode comigo. Acabei de fazer o meu trabalho]

Aquele sorriso era brilhante demais para um homem do submundo como o Anzel. De repente, ele entendeu exatamente o que o Becker queria dizer.

| Rignar | [E-eu consertei direito, eu juro!], ninguém tinha dito nada, mas o Rignar já estava em pânico. Anzel não pode culpá-lo. Se um esquife quebrasse, o primeiro a ser culpado seria o engenheiro que havia trabalhado nele. Becker, a equipe de produção e o Char estavam todos olhando para ele.

Principalmente a Lynette — ela parece prestes a matá-lo com aquele olhar assustador.

| Neal | [Eu sei], Neal foi quem se manifestou. [Não foi sua culpa, Rignar. Havia algo estranho com o tanque]

O tanque... Em outras palavras, a parte onde ficam as pedras de mana que abastecem o esquife.

| Neal | [Então acho que o problema provavelmente está relacionado ao combustível. Talvez haja um problema com uma das pedras de mana], explicou Neal.

Uma pedra de mana com defeito significaria que o esquife havia parado de funcionar porque houve um problema com a fonte de combustível. Honestamente, foi um milagre não ter explodido.

| Rignar | [O combustível? Então por que não tivemos problemas antes da gravação? Você estava voando perfeitamente bem com ele], mesmo que a teoria do Neal sirva como uma boa defesa para ele, Rignar ainda a debateu. Ele está certo, no entanto — Char e Neal estavam voando bem antes. Foi só quando a gravação começou que ele começou a falhar.
| Becker | [Ah-ha, entendi agora... A diferença estaria na aceleração, certo?], Becker sugeriu, com a expressão grave. É um olhar de profissionalismo que ele nunca havia demonstrado no Rato das Sombras.
| Becker | [Nada de estranho aconteceu durante o treino, e aconteceu durante o voo real. A principal diferença entre esses voos foi a velocidade. Você estaria a todo vapor durante a gravação. Uma pedra de mana configurada para reagir quando uma certa quantidade de combustível for usada ou quando a pressão de mana atingir um certo nível pode ter sido adicionada. Mas, bem, ei, temos o esquife em questão. Podemos muito bem dar uma olhada e ver a resposta por nós mesmos]

Becker olhou para o Anzel como se esperasse sua opinião.

| Anzel | [Vou voltar para o meu posto], Anzel é apenas um guarda-costas. Não adianta pedir a opinião dele. Ele havia dado a eles as informações necessárias, então não há necessidade de ficar.
| Becker | [Obrigado, Anzel. Eu realmente deveria ter sido o único a fazer tudo isso]

Anzel não disse nada em resposta à gratidão do Becker enquanto retornava ao seu lugar.

O esquife é sempre afinado logo antes da gravação, então qualquer jogada suja deveria ter sido imediatamente detectada. Rignar pode ser um tagarela arrogante, mas o Anzel tem certeza de que ele estava fazendo seu trabalho direito.
O tanque de combustível, no entanto, provavelmente não estava na lista do Rignar para consertar ou verificar. Alguém deve ter entrado furtivamente durante a noite e substituído uma das pedras de mana no tanque por uma defeituosa. Uma vez sobrecarregada, causou problemas com o esquife.
Uma organização secreta de assassinos poderia executar um esquema como aquele sem problemas. Isso explicaria por que todos eles se retiraram da cena naquele momento. Suas frequentes observações da cena significavam que eles sabiam exatamente quando o esquife atingiria sua velocidade máxima — exatamente quando sua armadilha seria acionada.
Eles desapareceram no segundo em que a gravação da corrida de esquifes começou.
Não há nenhuma evidência decisiva.

Mas com certeza é suspeito pra caramba.



| Fressa | [Anzel], Fressa retornou logo depois que o Anzel retornou ao seu lugar e acalmou os espectadores ansiosos. [Neal está seguro?]
| Anzel | [Quero dizer, você consegue vê-lo, não consegue?], eles retomaram a gravação, apesar do incidente. As crianças estão voando no ar, e os espectadores assistem a corrida com interesse.

Apesar do que aconteceu com o Neal, ele mal se abalou — é um garoto durão. Anzel certamente pode acreditar que ele é o irmão mais velho da Nia.

| Anzel | [Você os encontrou?]
| Fressa | [Sim. Parece que são uns dez]
| Anzel | [Atacaremos hoje à noite]
| Fressa | [Ótimo], Fressa sorriu. [Se você não fosse fazer nada, eu faria isso sozinha]
| Anzel | [Sem matar]
| Fressa | [Ah, cara, sério? Que tal deixá-los meio mortos?]
| Anzel | [Claro]
| Fressa | [Okay, vou parar por aqui, então]

Agora que isso está decidido, há alguém com quem o Anzel precisa conversar — alguém em quem ele sabe que pode confiar para ajudar na limpeza.



| Anzel | [Estamos fechando por hoje. Vai para ca— Ah, é você]

É tarde e os clientes já começavam a sair aos poucos. No meio de todos os clientes habituais desmaiados e bêbados nas mesas, uma nova cliente chegou.

| Lynette | [Boa noite]

É a Lynette, a assistente pessoal do Neal e uma das alunas da Nia. Ela não está mais usando o uniforme de assistente, agora veste a roupa de aventureira que usou enquanto caçava o bilhão de krams.
O mais notável é que seus olhos estão determinados.

| Fressa | [Ah, Lynette! Você deveria ter vindo cumprimentar no local da gravação]
| Lynette | [Dada a minha posição, isso não era possível, você sabe disso], Lynette caminhou até o balcão. [Você sabe quem é o culpado, não sabe?]

Ela definitivamente está se referindo ao incidente que aconteceu na gravação.

| Anzel | [Parece que foi só um acidente, não é?], disse Anzel.
| Lynette | [Você realmente acredita nisso?], Lynette deve ter notado os olhares desconfiados fixos na cena a cada sessão. [Podemos pular essa bobagem? Não vou recuar. Vou arrancar isso de vocês à força, se for preciso]

À força. Anzel percebeu pelo olhar dela que não foi uma ameaça vazia. Não que ele tenha algum motivo real para esconder isso dela.

| Anzel | [Não tenho provas. É apenas um palpite]
| Lynette | [Para mim, serve]
Anzel largou o prato que estava secando e colocou um cigarro entre os lábios. [Como tenho certeza de que você sabe, aquela gravação estava sendo observada por uns caras suspeitos o tempo todo, e tenho quase certeza de que os problemas de hoje foram por causa deles. É melhor você não saber quem eles são. Não só pelo seu bem, mas pelo do Neal Liston também]

Lynette observou em silêncio. Ela quer que ele continue.

| Anzel | [Estou falando sob a suposição de que eles realmente fizeram alguma coisa aqui. O motivo deles provavelmente era me dar um tiro]
| Lynette | [Então o jovem mestre estava envolvido na sua confusão?]
| Anzel | [Não exatamente. É porque eu me recusei a dar a eles informações sobre a Leeno. Pessoalmente, acho que isso faz com que seja metade culpa da Lily], Nia tinha deixado claro que eles deveriam manter a identidade da Leeno em segredo.

Lynette lançou um olhar furioso em silêncio. Pelo menos ela não está se opondo.

| Anzel | [Eu me recusei a dar a eles o que queriam, então eles causaram um incidente. É uma ameaça — se eu não quiser que mais alguém se machuque, devo me apressar e dar a informação para eles]
| Lynette | [Então o motivo pelo qual eles miraram no jovem mestre foi para te assustar, certo?]

Eles podem nem ter mirado especificamente no Neal. Pelo que fizeram, tudo o que precisaram fazer foi misturar uma pedra de mana defeituosa no tanque. Provavelmente não colocaram muitas porque alguém teria notado. E então foi só uma questão de esperar até que o Neal ou o Char a usassem. Claro, sempre há a chance de nenhum dos dois usar ou de ela falhar.
Eles talvez descobririam a verdade se investigarem, mas, para ser franco, Anzel e Fressa não se importam. Os suspeitos serão punidos; é só isso que importa. Lynette provavelmente sente o mesmo — é por isso que ela está ali agora.

| Anzel | [Provavelmente. Mas não é minha culpa, tá?], Anzel pode ter sido o alvo, mas não foi o responsável.
| Lynette | [Eu sei. Seja qual for a situação, não serei tão ridícula a ponto de agir como se o jovem mestre fosse o alvo só porque vocês dois estavam lá. Quem fez isso em primeiro lugar é o verdadeiro culpado. Quem envolveu o jovem mestre em suas tramas é o culpado. Quem tentou envolver espectadores inocentes é claramente o culpado. E? Não vou perguntar quem foi o culpado, mas você vai me dizer onde eles estão, não é?]
| Anzel | [Como eu disse, não tenho provas de que sejam eles]
| Lynette | [E como eu disse, tudo bem. Vou espancá-los e fazê-los confessar se for preciso. Mas primeiro, temos que garantir que eles nunca mais façam algo tão insolente, certo? Pelo menos, é isso que pretendo fazer, independentemente do meu oponente. É por isso que estou aqui. Se eles não forem os culpados, então a culpa é delas por serem suspeitos desde o início]

Essa é uma lógica insana, mas o Anzel não se importou.

| Fressa | [Gostei do seu estilo. Que tal a gente pirar um pouco, só nós duas?], perguntou Fressa.
| Anzel | [Contanto que você não atrapalhe de novo]

As moças parecem motivadas o suficiente — elas exalam tanta intenção assassina que o Anzel está começando a sentir pena deles. Será que as duas amam o Neal tanto assim? São bons exemplos de como o amor obsessivo pode levar as pessoas a fazer o mal.
Nesse ritmo, Anzel nem terá a sua vez.



Não, sério, ele talvez não tenha a sua vez. Ele tinha começado a se preocupar que fosse esse o caso, mas parece mesmo que vai acabar sendo assim.
Depois de fecharem a loja, os três seguiram para a base do Qilong. Descobriram que estavam alugando um prédio de apartamentos antigo. Devem ter escolhido acomodações de longa duração em vez de um hotel, devido ao tempo restante até o torneio.
A operação é simples: bater em cada porta e espancar quem atender. Se a pessoa não atender, eles arrombarão a fechadura ou arrombarão a porta. O prédio, sendo antigo, significa que as fechaduras são antigas; Fressa pode arrombá-las em segundos.
As meninas, lenta mas firmemente, lidaram com cada um dos apartamentos, como duas gatas entrando na toca de um rato. Anzel observava a Fressa e a Lynette fazendo suas coisas de longe.
Ele não conseguia parar de pensar em como tudo estava indo bem. Anzel estava de prontidão caso algum deles tentasse escapar, mas não parece que seu papel será necessário.
E então ele ouviu o som de respirações ofegantes.
Ótimo. Parece que ele vai ter uma chance, afinal.

| Anzel | [Yo]

Um homem percebeu que estavam sendo invadidos e saiu correndo do apartamento.

| Homem | [A-Anzel...?!]
Anzel estava na frente dele. [E onde você pensa que vai? Foram vocês que começaram isso]
| Homem | [D-Do que diabos você está falando? Nós não fizemos nada—]
| Anzel | [Olhem atrás de você], no momento em que o Anzel deu o aviso, o homem estava sendo golpeado na cabeça.
| Lynette | [Não vou deixar nenhum de vocês escapar, seus ratos], os olhos assassinos da Lynette brilharam no escuro.
| Anzel | [Chega. Deixem o resto comigo], disse Anzel, dando um passo à frente.
| Lynette | [O quê? Por quê?], aqueles olhos penetrantes agora estão olhando diretamente para o Anzel. Aquele olhar era emocionante. Se ele dissesse uma palavra errada aqui, eles começariam a lutar imediatamente, sem dúvida.
| Anzel | [Se você levar as coisas longe demais, vai ser presa. Quem vai proteger o jovenzinho então?]
| Lynette | [Você não vai parar por aí, vai?]
| Anzel | [Claro que não. É aqui que brilhamos, honestamente]

Os olhos da Lynette não baixaram.

| Anzel | [Vá para casa logo. Não se envolva com o submundo de Altoire de novo]

Por um instante, a hostilidade do Anzel se misturou à da Lynette. Ele pelo menos pareceu ter deixado claro para ela que, se acabarem brigando, ele vai pará-la.

| Lynette | [Nesse caso], Lynette deu um último chute poderoso no homem que tentou escapar, mesmo depois de ele ter sido atingido com tanta força que caiu no chão. [Vou deixá-lo com você], com isso, Lynette desapareceu na noite.
| Anzel | [Sorte sua, huh? Aquela louca foi para casa]

Lynette deve ter dado uma boa, porque o cara se contorceu de dor antes de vomitar. Anzel também estava agradecido — só os deuses sabem o que ele faria se ela não tivesse se contido.

| Anzel | [Diga], Anzel esperou até que a dor do homem diminuísse um pouco e então se agachou ao lado dele. [Eu estava olhando para vocês como a casa principal dos Qilong]

O homem virou o rosto, intrigado, a respiração ofegante ainda sacudindo seu corpo enquanto permanecia ali de quatro.

| Anzel | [Mas você não é, é? Você não é do Qilong]
| Homem | [N-Não, eu], o homem hesitou em responder. Se ele admitisse ser um membro dos Qilong, não apenas sua identidade como assassino seria exposta, mas também se saberia que os Qilong haviam perdido uma batalha — o que quebraria gravemente seu código. Esse tipo de coisa é diferente de simplesmente perder uma partida no grande palco, onde matar é proibido.

No entanto, se ele não reconhecer sua identidade, será tratado aqui em Altoire como um estrangeiro comum. De qualquer forma, sua vida está em perigo. Deveria admitir que é dos Qilong ou manter isso em segredo?

| Anzel | [Se você está com dificuldade para encontrar uma resposta aqui, então deve ser outra coisa, não? Um verdadeiro Qilong negaria imediatamente], a voz do Anzel era baixa, baixa o suficiente para que ele pudesse ouvir qualquer passo se aproximando. [Os Qilong que eu conheço jamais envolveriam civis, muito menos uma criança. Eles não são bandidos de meia-tigela como nós, que se deixam levar pelo dinheiro ou são iludidos a fazer qualquer coisa. Eles são profissionais, de corpo e alma. Então, se você é um Qilong, não é o Qilong que eu conheço. Você é apenas lixo comum. Se você me disser que faz parte da casa principal, então, caramba, eles caíram nos últimos anos]

O homem estava procurando uma maneira de fugir o tempo todo, mas, de repente, engasgou em choque. Antes que o Anzel percebesse, um grupo de homens vestidos de preto os cercou.

| Dao | [Vamos levá-lo para dentro]

É o Dao Zanxi, o líder dos Qilong de Altoire. Agora, este é um verdadeiro Qilong que o Anzel conhece.

| Anzel | [Obrigado]

Anzel tinha sido quem os chamou. Honestamente, ele não se importa nem um pouco com a forma como lidarão com ele, então deixou por conta deles. Afinal, é o companheiro Qilong deles.



| Fressa | [Até mais]

Depois de se reencontrarem, Anzel e Fressa caminharam para casa juntos, separando-se no meio do caminho.
Anzel vagava pela capital noturna. Ele ainda encontra calma na escuridão da noite, em vez de sob os raios de sol. Apesar de ter acabado de se envolver em um ataque, ele caminha como se nada tivesse acontecido. Essas coisas não o perturbam mais, e ele não se demora nelas mais do que o necessário. Ele realmente acredita que uma pessoa como ele não pertence à luz.

| Anzel | [Cara], Anzel parou e suspirou. [Achei que passaria uma noite sem que eu tivesse que ver sua maldita cara]
| Becker | [Ha ha. Por outro lado, este velho estava se sentindo terrivelmente solitário por não poder te ver esta noite], alguém saiu das sombras e parou na frente do Anzel. Um homem oprimido pela crueldade do tempo foi iluminado pela luz fraca das estrelas. É o Becker. Ele não tinha passado pelo Rato das Sombras naquela noite, mas no final, ali se encontraram.

Claramente, não foi por acaso.

| Becker | [Terminou seus negócios?]
| Anzel | [Sim. E então? É com você que vou lutar agora?]
| Becker | [Você se importa?]

Na verdade, Anzel tinha a sensação de que encontraria o Becker esta noite. Mas foi só uma leve sensação.

| Anzel | [Me diga o motivo primeiro]

Becker estava esperando para desafiá-lo para uma luta. Anzel não tinha pensado muito nisso... mas então viu o rosto do Becker. É o rosto de alguém que havia se decidido. É o rosto de alguém que havia decidido que vai levar algo até o fim — ele já tinha visto isso muitas vezes.

| Becker | [O quê, eu não posso lutar com alguém só porque quero?]
| Anzel | [Quero saber por que estou prestes a perder um cliente regular. Eu nunca deixo de ser o dono daquele bar, você sabe?]
| Becker | [É mesmo?]

Independentemente do resultado da luta, o relacionamento deles não chegará nem perto disso. Talvez o destino os una no futuro, mas Anzel tem poucas dúvidas de que, por enquanto, aquele será o fim.

| Becker | [Eu só queria um motivo para me aposentar]
Anzel não conseguiu esconder o choque. [Você estava falando sério sobre se aposentar?], Becker mencionou, mas o Anzel realmente achou que ele estava brincando. Aos 44 anos, seu corpo não seria como no auge, mas o Anzel não sente a idade do aventureiro pela sua personalidade. Pelo menos, ele tem energia suficiente para passar as noites se divertindo. Não parece um velho cansado da vida.

| Becker | [Eu te disse, não disse? A única razão pela qual eu mantive a vida de aventureiro por tanto tempo foi por vingança]
| Anzel | [Droga, você estava falando sério sobre isso também?]

Os monstros que a Leeno caçou eram as presas do Becker, as presas que mataram seus companheiros. Tudo isso era verdade.

| Anzel | [Isso significa que o único motivo pelo qual você queria conhecer a Leeno era para se aposentar?]
| Becker | [Em parte isso, em parte porque eu queria agradecer a ela — agradecer por matar o babaca que matou a Rita. Mesmo no meu melhor, eu sei que nunca teria conseguido derrotar aquele caranguejo. Mas agora? Não tenho mais nada para me vingar. É doloroso viver como um aventureiro assim. Minhas aventuras me fizeram perder muito mais do que ganhar. Só tenho arrependimentos. Deve ter havido momentos divertidos, mas tudo o que consigo lembrar é o que eu gostaria de esquecer. Não tenho motivo para continuar me apegando a essa vida]

Anzel pegou um cigarro.

| Anzel | [Entendi. Você não precisa explicar mais nada. Tudo bem se não for a Leeno, né?], Becker devia estar pedindo informações sobre a Leeno porque queria que ela fizesse isso. Ele a encontraria, conversaria e então...
| Becker | [Sim. Eu tinha um trabalho para fazer hoje, e você me ofuscou completamente. Foi nesse momento que percebi que havia perdido o direito de desafiá-la], em outras palavras, Anzel feriu seu orgulho de aventureiro. [Anzel, você é mais forte que a Leeno?]
| Anzel | [Não sei dizer. Nunca lutei com ela seriamente antes], Kaffes lhe fez a mesma pergunta. Anzel acendeu o cigarro. [Mas eu sou definitivamente mais forte que você]
| Becker | [Considere esta sua primeira partida nas preliminares, então. Se eu vencer aqui, lutarei com a Leeno no torneio]



Fumaça subiu no ar. Ela desapareceu rapidamente com o vento, tão fugaz quanto a vida humana.

| Anzel | [Permita-me então ser eu quem vai acabar com isso para você, Becker da Lâmina Vermelha]
Becker desembainhou sua espada. A lâmina vermelha brilhou ameaçadoramente à luz das estrelas. [Desculpe se te machucar muito], disse ele, mas seu rosto havia se tornado o de um aventureiro profissional.

Ele está levando isso a sério. Ele está entrando nessa luta com a intenção de matar.



| Fressa | [O que aconteceu com você?]

No dia seguinte ao ataque ao prédio, Fressa chegou ao bar no horário habitual e ficou imediatamente chocada com o estado do Anzel.
Com bandagens na cabeça e nas mãos e hematomas no rosto, ele parece um desastre.

| Anzel | [Luta], declarou Anzel secamente.
| Fressa | [O quê? Com quem?]
| Anzel | [Meu corpo inteiro dói pra caramba. Pare de falar comigo], ele lhe deu as costas.

O título do Becker não era à toa. Mesmo com o que sabia sobre o uso do chi, Anzel passou por momentos difíceis. Ele tinha quase certeza de que sua força era superior à do Becker, mas o Becker venceu em uma batalha de experiência. Seu jeito de lutar era astuto.
Anzel realmente aprendeu naquela noite o quão problemático um aventureiro de verdade pode ser.
Força não é algo definido apenas pela habilidade. Anzel realmente aprendeu aquela dolorosa lição. Seu braço direito foi cortado; sua perna, esfaqueada. Absolutamente nada estava fora dos limites: o sujeito havia socado, chutado, atirado pedras e terra. Anzel tinha certeza de que estava contra-atacando com o dobro da força, e ainda assim o sujeito não só não recuou, como nem vacilou.
Becker o atacou tão decidido a não recuar que nem se importou se morresse.
Que homem aterrorizante. Se o Anzel tivesse feito um movimento errado, estaria perdido.
Era pouco antes do verão. Os dias estão ficando longos e o Rato Astuto das Sombras abriu no horário normal. Os frequentadores sem dinheiro compareciam como sempre, rindo grosseiramente enquanto trocavam boatos infundados.
Havia um boato em particular que chamou a atenção de Anzel hoje.

| Anzel | [Você ouviu? Becker da Lâmina Vermelha apanhou de um barman e acabou no hospital]

Becker era frequentador assíduo deste bar.
E hoje, o dono do bar, famoso por sua força incrível, estava ferido.
Sempre que alguém lhe perguntava sobre isso, Anzel dava a mesma resposta:

| Anzel | [Não faço ideia do que você está falando]



A empolgação em torno do torneio de artes marciais de Altoire estava aumentando. À medida que o número de pessoas chegando ao país aumentava, também aumentavam os problemas.
No entanto, os enormes benefícios econômicos e a disseminação do conhecimento sobre a cultura única de Altoire compensaram isso. A popularidade do Wingroad também cresceu junto com eles, tornando-se tão onipresente que era destaque em todos os canais pelo menos uma vez por semana — sua popularidade havia se tornado tão grande que era impossível ignorá-lo. Tinha começado com segurança.
Os dias então voaram. O verão passou e o outono chegou. O ar ficou mais frio, mas a fama de Altoire só aumentou.
E então, finalmente, chegou a hora das preliminares do torneio de artes marciais começarem.




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