- Capítulo 3

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Capítulo 3 - Expresso Terrorista da Capital Real




Tradução: Gabrielfsn
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A plataforma da Estação Central se encontra bem movimentada.
Como o trem conecta a muitas cidades e vilas importantes, é a melhor forma de locomoção neste mundo. Com a adição de carga, o mesmo é utilizado por todos os tipos de pessoas. Esta plataforma, provavelmente, é o único lugar no qual se pode frequentemente ver tantos Plebeus, Nobres e membros da Faust misturados na multidão.
No meio de toda essa agitação, uma criança tropeça e cai no chão.
É uma menina bem jovem que parecia insegura enquanto andava, talvez estivesse separada de seus pais. Com o choque da queda somado a seu estado já angustiado, seus olhos começam a se preencher com lágrimas.

Ah, ela vai chorar.

Enquanto todos ao redor pensaram a mesma coisa, uma garota se abaixou e olhou nos olhos da criança.

“Pobrezinha, se machucou?”

É uma jovem por volta dos quinze ou dezesseis anos com cabelo escuro.
Seu momento foi perfeito, chegando a instantes da criança começar a chorar. Em vez disso, como uma moça simpática falou com ela, a pequena menina conseguiu, por muito pouco, segurar suas lágrimas.

“Quem é você...?”
“Hmm? Ah, eu sou Akari. Uma pessoa supernormal e comum. Nada de estranho por aqui!”

Apesar de alegar ser “supernormal,” a menina achou aquilo, no mínimo, inusitado.
Seus cabelos sedosos chegam nos ombros, e seus olhos escuros reluzem enquanto olha para a pequena menina. Embora seu rosto a faça parecer jovem, seu corpo claramente possui as curvas suaves de uma jovem mulher. Sua beleza contrastante é o suficiente para chamar bastante atenção da multidão, mas suas roupas bem feitas ajudam ela a se misturar.
Vestida com peças levemente folgadas para não chamar tanta atenção, a garota chamada Akari sorriu radiantemente para a menina caída.

“Você tropeçou, né? Sei como é. Dói, né? Isso também acontece comigo. Mas você não chorou, então deve ser uma menina muito forte!”

Akari acariciou a cabeça da menina enquanto verificava seus machucados. Tendo distraído a menina da dor com palavras simpáticas, ela aponta para o joelho ralado da pequena criança.
Levantando o dedo indicador de sua mão, saindo de sua larga e folgada manga, Akari desenha um círculo no ar.

“Dorzinha, dorzinha, vai embora agorinha e não volte nunquinha!”
Força Etérea: Conectar—NT?i?KC, Puro Conceito [Tempo]—Invocar [Regressão]

A ponta do dedo de Akari brilha suavemente.
As palavras de sua pequena canção ativam a conjuração. A Luz Etérea em seu dedo envolve a ferida da criança, apagando o machucado em seu joelho como se nunca tivesse acontecido.

“Eh—?”

A menina arregala os olhos, quase se esquecendo de que estava prestes a chorar enquanto seu machucado desapareceu como um passe de mágica. Ela troca olhares entre o ponto no qual ela sentia dor e a moça que a fez sumir.
A jovem moça com uma tiara branca encheu o peito, parecendo extremamente satisfeita consigo mesma.

Heh-heh. Aposto que não dói mais, n—?”
Hiya!
“AIÊ!?”

Seu rosto triunfante mudou abruptamente com um golpe na cabeça.
Procurando em pânico ao seu redor pelo inimigo responsável, Akari encontra uma jovem moça usando um traje de sacerdotisa.

“M-Menou!? Pra quê isso!?”
“'Pra quê isso?' uma ova.”

Os traços adoráveis de Menou forçam um olhar zangado, seu rabo de cavalo castanho claro sacode de um lado a outro enquanto balança a cabeça. A abertura em sua longa saia revela mais que apenas um vislumbre de sua coxa direita.

“Eu falei para você não fazer nada que chamasse a atenção, mesmo assim, bastou eu tirar os olhos de você por um segundo, e lá estava...”
“Eu não chamei a atenção! Não até você me dar esse golpe de karatê na cabeça, pelo menos! Isso foi uma punição cruel e inusitada, sinceramente!”
“Nossa, você tem zero autoconsciência... Terei que educá-la desde o básico, começando com senso comum.”
“Ahhh, quê?”

A criança observou a discussão das duas totalmente confusa.
A moça simpática curou seu ferimento com um poder misterioso, mas então levou um golpe na cabeça. A situação era muito complexa para uma criança de cinco anos compreender.

“Me desculpe. Essa moça é meio esquisita. Agora, você deve estar confusa por seu ferimento ter desaparecido, não é? Heh, bom, a conjuração é mesmo incrível. Aqui, deixe-me mostrá-la uma coisinha.”

Notando como a menina estava confusa, Menou passou a atuar como uma típica sacerdotisa viajante, segurando uma moeda.
Uma vez que Akari e a menina focaram nela com curiosidade, ela puxa poder de sua própria alma.

Força Etérea: Conectar—Moeda de Cinco, Brasão—Invocar [Bolha Etérea]

A moeda brilha vagamente com Luz Etérea do poder de Menou, assim produzindo bolhas cintilantes.

“Ooh!”
“Nossa! Que demais!”

Observando as bolhas de luz flutuantes, a menina exclamou maravilhada. Akari também reagiu impressionada.

“Uau! Como fez isso!? São bolhas!? Parece que não estouram!”
Heh-heh! Impressionante, não? ...Bom, na verdade, existe um brasão em todas as moedas e notas de dinheiro, que podem ser usados como intermédio para conjurar um feitiço trivial. Eu posso até controlar o movimento das bolhas um pouco.”

Menou explica o truque para Akari, que estava tão empolgada quanto a pequena menina.
Neste mundo, a emissão da moeda é trabalho da igreja. Brasões inclusos nas moedas e notas de papel também servem como medida anti-falsificação de dinheiro.

“Todas as notas de dinheiro e moedas carregam desenhos de santos famosos. A conjuração que cada uma pode invocar está relacionada às histórias daquele santo.”
“Nossa! É sério!? Que tipo de histórias?”
“Bom, a moeda de cinco está associada com a lenda da Santa Maria e a lua. As bolhas são uma representação da lua.”

Menou cutuca uma bolha próxima enquanto explica para a Akari entusiasmada.
Sua vontade faz as bolhas se moverem em linhas, círculos e um rosto sorridente. Enquanto Akari e a menina conversam sobre bolhas, a multidão transitória olha para elas com um carinho caloroso. Todos têm lembranças de sacerdotisas contando histórias de santos enquanto os entretia com conjuração, assim como Menou estava fazendo.

Com sorte, isso a distraiu do desaparecimento do machucado, pensou Menou ao guardar a moeda.

Na hora H, a mãe da menina chega, liderada pela comoção. Assim como Menou e Akari, parece que elas também estavam embarcando no trem para Garm. Elas estavam em vagões diferentes, então se separaram—a mãe parecendo apologética e a criança acenando alegremente.
Menou acenou de volta até elas sumirem de vista, e então virou em direção a Akari.

“Muito bem. Eu avisei, não foi, Akari? Não faça nada que possa chamar a atenção. Você está sendo perseguida, lembra?”
“M-mas tudo que eu fiz foi curar uma feridin—miih?!”
“Sem mas.”

Menou belisca a bochecha de Akari e a encara nos olhos.

“Nós conseguimos encobrir dessa vez por ter sido uma criança. Mas saiba que não existe conjuração neste mundo que possa curar os ferimentos das pessoas.”
“Hã?” Akari piscou, parecendo surpresa. “Mas a magia existe neste mundo, não existe?”
“De certo modo, mas aqui nós chamamos de conjuração. Porém, não é o tipo de coisa que pessoas normais conseguem usar facilmente, e não existe conjuração alguma que cure um ferimento instantaneamente.”

Conjuração não pode ser usada por qualquer pessoa, embora não seja exclusivamente reservada à igreja. A cena com as bolhas luminosas se destacou um pouco, porém mesmo que chamasse a atenção de alguém, seria necessário esconder o fato de que Akari apagou um ferimento.

“Então seja mais cuidadosa.” Menou deu um leve cascudo na cabeça de Akari.
“Ai.”
“A conjuração não é toda-poderosa, sabia? Por isso tem pessoas atrás de você Akari. Abstenha-se do uso de seus poderes.”
“Ahhw. Tá booom. Você é quem manda, Menou!”
“Muito bem.”

A resposta de Akari foi alegre, mas Menou acenou satisfeita com sua diligência.

“Certo, vamos embarcar. Nós viajaremos à noite durante uma parte do trajeto, mas eu não consegui reservar um vagão-dormitório, então teremos que nos virar com assentos normais. Esteja preparada.”
“Uhum. Sem problema!”

Akari sorriu e estufou o peito.
Elas embarcaram no trem, e em pouco tempo, deixaram a estação sem casualidades. Mas algumas horas depois, como se fosse planejado, o trem no qual estavam Menou, Akari e Momo foi abordado por um ataque terrorista.


*



As rodas dos trens que conectam cidades e vilas por todo o continente são propulsionados por um motor Etéreo.
A energia armazenada no motor é despendida para girar as rodas, borrifando faíscas de Luz Etérea no ar quando o trem deixa a estação. Os vagões de primeira classe perto da frente da locomotiva, nos quais a viagem é mais suave, são reservados para nobreza e separados em quartos de luxo individuais.
A garota neste vagão de primeira em particular, é inegavelmente uma nobre.
Ela tem cabelos nos quais as cores morango e loira entram em choque e que brilham na luz do sol, além de olhos azuis como de um limpo céu de verão. Seu vestido leve expõe uma grande parte de sua pele nas costas e laterais, ostentando sua figura deslumbrante.
No assento ao seu lado se encontra uma espada gravada com um brasão elaborado.
Ela não tem guardas e nem servos. Mesmo sozinha, sua alta classe é óbvia. A jovem moça é incrivelmente elegante, embora seja mais uma superioridade opressiva do que um requinte modesto. A confiança em seus olhos de aço, reflete tanto sua beleza quanto a sua força de vontade.
Enquanto observava o cenário pela janela, ela ouvia a si mesma falar.

“Meu pai foi um grande tolo.”

O pai da jovem mulher era o rei desta nação.
No dia anterior, o rei cruzou a linha ao convocar Ádvenas. E agora ele estava sendo tachado como herege por sua transgressão.
A garota adivinhou os motivos de seu pai e o julgou como um tolo sem hesitar.

O rei reina, mas não governa.

Essa é a posição da Nobreza.
Invariavelmente, a Faust está e sempre esteve acima da Nobreza. Enquanto a Segunda Classe é responsável por unificar os Plebeus e presidir sobre a nação, a Primeira Classe—a Faust—carregam as chaves para todos os segredos mais importantes do mundo.
Mesmo com os títulos de nobreza ou realeza, os Nobres nem sequer possuem suas próprias forças armadas. Questões de lei universal pelos continentes, como julgamentos e a cunhagem da moeda, estão sob domínio da Faust. E a Nobreza é ainda mais restringida pelas muitas técnicas e tecnologias consideradas tabu, portanto é virtualmente impossível fazer qualquer ação astuciosa sendo um estadista.
E apesar disso, a Nobreza é considerada a classe dominante. Cômico.
Portanto, não é de se admirar que a Nobreza ocasionalmente mergulha no proibido e tenta ganhar poder o suficiente para se rebelar contra a Faust.
Ashuna não condena esse desejo por poder; entretanto, ela não aprova os meios que seu pai escolheu.

“Ádvenas? Ha. Eles já falharam no passado.”

Há muito tempo atrás, houve uma civilização neste mundo que prosperava com a ajuda do conhecimento dos Ádvenas e seus Puros Conceitos, mas que mesmo assim caiu em ruínas.
E desta vez, parece que os Ádvenas convocados nem sequer deixaram corpos para trás.
Provavelmente, isso se tratava de trabalho das chamadas Executoras, frequentemente sussurradas em rumores. Assim como o desaparecimento do pequeno esquadrão de cavaleiros de elite que sumiu sem alcançar o mínimo de êxito.
No entanto, o pecado de convocação foi exposto, mesmo sem render nada de valor, e uma Santa Inquisição oficial teve início.
Ashuna é filha do rei, mas foi julgada como desvinculada a este incidente e liberada. Como ficar na capital real traria nada além de mal-estar, a jovem mulher de espírito livre decidiu viajar sozinha para a capital ancestral Garm, onde ela planeja cruzar a fronteira e deixar a nação.
É verdade que ela não estava envolvida na convocação, e a igreja não seria tão cruel de implicar com alguém pelo mero crime de ter relações com o suspeito.
O incidente logo chegaria à uma resolução, porém, Ashuna ainda carrega uma única dúvida.
Sua família real não possui conhecimento ou tecnologia para realizar uma convocação. E mesmo assim, seu pai obteve um sucesso tão definitivo que agora se encontra em julgamento por heresia.

“Agora, em que tipo de plano meu pai foi pego, e quem estava por trás?”

Ela murmura para si mesma, e então escuta uma rajada de passos do outro lado da porta.
O barulho foi tumultuoso demais para ser permitido em um vagão nobre. Um momento depois, a porta de seu quarto particular é aberta rudemente, e vários homens armados se aglomeram no interior.

“Licença. Você é a Vossa Alteza Ashuna, certo?”

Os homens mal-educados a cercando estão carregando armas carregadas com Força Etérea. Quando as apontam para a princesa, Ashuna olha para os cilindros com uma expressão de aborrecimento.

“De fato. Eu sou Ashuna Grisarika, a filha mais jovem do rei da Nobreza desta nação.”

Embora estivesse sendo alvo de tantas armas, a jovem moça não demonstra sinal de medo, e se apresenta apesar do desenvolvimento súbito. Sua atitude inabalável e até arrogante, confunde os homens que estavam com a mira sobre ela.
Enquanto suas miras oscilam, a jovem mulher descansa seu queixo em uma mão e sorri ferozmente.
Ela nunca se rebaixaria. Mesmo ela tendo total ciência de que a Nobreza dificilmente seja diferente de um cão de estimação com uma coleira, seu orgulho nunca fraqueja.

“Agora, que canalhas são vocês para se atreverem a apontar suas armas para mim?”

Ashuna Grisarika se dirige aos valentões com toda a dignidade de uma monarca.


*



O trem foi assaltado por terroristas pouco tempo após o embarque.

“Escutem! Nem pensem em resistir, ouviram? Com tantos reféns, um ou dois não vão fazer falta!!”

Menou mantém seus olhos fixados nos dois homens que estavam berrando ameaças enquanto bruscamente encurralam os passageiros nos fundos. Eles parecem acostumados com violência, então talvez sejam aventureiros falidos retornando da Fronteira Selvagem. Não tem nada de errado em tentar fazer fortuna numa terra de ninguém, a qual divide as áreas habitadas pela humanidade, mas muitas pessoas fogem e se voltam para uma vida de crime, incapazes de suportar os duros fatos.

“M-Menou...”
“Vai ficar tudo bem.”

Akari parece nervosa, então Menou a tranquiliza brevemente.
Os terroristas parecem estar planejando roubar o trem inteiro. No momento, eles estão tentando reunir todos os passageiros no vagão de Menou e Akari em um só lugar.
Se eles estão armados e não trabalham para a Nobreza, então devem ser terroristas Plebeus, sob o disfarce de “grupo de cidadãos.” Menou não tem certeza de suas motivações, mas pelo menos eles não parecem estar atrás da Akari.
Neste caso, a maior preocupação de Menou se torna as armas.

“Esses caras dão medo. Eles até têm armas. Espera, eu não sabia que existia armas de fogo nesse mundo.”
“E não existem. Bom, tecnicamente existem, evidentemente, mas são proibidas. Ninguém deveria tê-las.”
“Hã? Mas esses caras têm.”
“Realmente.”

Enquanto Akari sussurra flagrantemente em seu ouvido apesar da situação, Menou responde sem tirar os olhos dos terroristas.
Armas são declaradas tabu e portanto consideradas heresia. Produção, distribuição e posse de armas, todas são proibidas.
Entretanto, é difícil erradicá-las completamente.
Mesmo que as pessoas não as produzam manualmente, a Sociedade Mecânica, que se encontra desenfreada na Fronteira Selvagem, continua expelindo-as, então qualquer pessoa forte o bastante para voltar vivo daquela área pode obtê-las. A maioria delas são armas Etéreas, não do tipo que usam pólvora, mas ambas as variações são igualmente letais.
O problema é que os homens diante delas agora, não parecem fortes o bastante para adquirir essas armas por conta própria.

“Você pode consegui-las na Fronteira Selvagem, mas...”
“A Fronteira...do quê? O que é isso?”
“Estamos em uma situaçãozinha de alta-pressão no momento, então terei que ensiná-la o básico depois.”

A Fronteira Selvagem é uma região com um ambiente tão hostil que é considerado inabitável e foi abandonado pela civilização em geral. É muito perigoso para qualquer um abrir caminho na região sem poder e habilidade consideráveis.
Então quem vendeu armas Etéreas para esses homens? Os pensamentos de Menou não param. Enquanto ela sussurra para Akari, um dos homens para em frente a elas.

“Vocês são as próximas. Só fiquem de boca fechada e fiquem lá nos fun—merda. Uma sacerdotisa?”

No momento em que o homem começou a dar ordens, ele notou as vestes de Menou e franziu a testa.

“Bom dia, Sr. Terrorista. Eu sou apenas uma singela clériga e aliada dos Plebeus. Algum problema?”
Bah. Você é bem atrevidinha, hein, pequena sacerdotisa?”

Suas roupas são um claro sinal.
É de conhecimento geral que as sacerdotisas da Faust são conjuradoras. Mesmo não sabendo que Menou é secretamente uma Executora, ninguém duvidaria do poder de uma sacerdotisa. Obviamente, ter uma conjuradora entre os reféns seria um problema.
O homem franziu a testa em frustração com o desafio inamistoso de Menou, mas ele simplesmente apontou sua arma para ela.

“Eu obedeceria quietinha se fosse você, sacerdotisa. Você é parte da Faust, deve saber o que é isso.”

Como tabus declarados, armas Etéreas não são de total conhecimento público, mas qualquer sacerdotisa conhece seus poderes.
E pior, o homem ameaçou Menou apontando seu cilindro para os outros reféns.

“...Sim, claro. Não vou provocar uma briga.”

Agora que ela tem uma noção de sua índole, Menou demonstra relutante obediência.

“Que bom. Vocês sacerdotisas podem ser traiçoeiras. Vou ter que ficar de olho em você. Vamos começar com você colocando sua escritura no chão e passando ela pra mim. Aliás, hmm...”

O homem pausou sua fala, seus olhos fitam a coxa de Menou, exposta pela abertura em sua saia.

“...Heh. Acho melhor você tirar suas roupas, também. Vai que tem uma arma escondida.”
“.........”
Ainda bem que Momo está em um vagão diferente.

Ao invés de expressar repugnância, a primeira reação de Menou foi de alívio.
Se Momo estivesse presente, ela iria atrás da vida do rapaz sem o mínimo de consideração pela segurança dos reféns. Além de usar seus métodos particularmente asquerosos, também.
Como Menou podia antever o resultado com absoluta certeza, ela não pôde evitar de pensar que a ausência de Momo foi um pequeno ato de clemência. Quando sua assistente entra em fúria, é extremamente difícil detê-la.

“Qual foi, mocinha? Vai recusar? Uma nobre aliada dos Plebeus vai dar as costas pra esses reféns, é?”
“Ah, já basta. Está bem...!”

Realmente havia uma adaga amarrada atrás de sua coxa, então o homem tinha base ao pedir que ela se despisse. Mesmo assim, Menou não tem vontade de tirar suas roupas na frente dos outros.
Ela começou a se abaixar, pretendendo fazer algo apelativo o suficiente para distrair o rapaz e nocauteá-lo no processo. Mas Akari entrou na sua frente.

“E-espera um pouco!”
“Hein? Que é isso?”
“N-não seja maldoso com a Menou!”

Akari estava bravamente tentando proteger Menou, mas obviamente estava apavorada. Havia lágrimas nos olhos da garota, e suas mãos estavam tremendo.
Apesar de tudo, ela começou a desamarrar o laço em seus seios, e abriu o primeiro botão de sua blusa.

“Se alguém tem que tirar a roupa, então... q-que seja eu!”
“Hm, quê?”
“Hein?”

Foi uma declaração corajosa, porém irracional.
Na verdade, tanto Menou quanto o terrorista inclinaram suas cabeças, confusos com sua interferência bizarra.
O raciocínio do próprio homem era desarmar Menou, mesmo que fosse apenas uma desculpa. Não fazia sentido Akari se despir em seu lugar.
E ainda assim, Akari virou-se para Menou com olhos lacrimejantes, cheios de determinação.

“T-tá tudo bem, Menou! Não vou deixar que nada de ruim lhe aconteça!”
“Desculpa, Akari. Você não está fazendo sentido algum, então poderia ficar quieta por um minuto, por favor?”
“Isso aí, escute sua amiga. Isso não—hrmm.”

O homem confuso começou concordando com Menou, mas então seus olhos se depararam com os seios de Akari.
Com apenas um botão aberto, ela já revelou uma quantidade considerável de pele. O tamanho de seus seios são óbvios mesmo por baixo de suas roupas, mas seu expressivo decote foi ainda mais enfatizado pela forma como ela inconscientemente pressionava os ombros para dentro com medo.
A boca do rapaz demonstra um fétido escárnio.



“Heh-heh. Beleza. Você tira a roupa, eu—”
“Pare.”

Menou entra na frente de Akari abruptamente, interrompendo o homem.
Para ganhar sua confiança como companheira de viagem, proteger Akari é o rumo mais natural de ação. No entanto, isso também se alinha com o que o coração de Menou estava falando para ela fazer com uma força misteriosa e quase irresistível.

“Ela é apenas uma garota comum. Não tente nenhuma gracinha com ela. Tudo que você quer é nossa cooperação, correto? Então aqui, começarei lhe dando a minha escritura. Aqui vai... ELA!”
“Iss—AAH!?”

Menou distraiu o rapaz falando rapidamente e fingindo colocar a escritura no chão, e então mudou de atitude subitamente. Movendo-se mais rápido que os olhos pudessem acompanhar, ela balançou seu braço e arremessou o livro com toda a sua força no outro homem, que estava atrás delas, apontando sua arma Etérea para os reféns.
A quina do pesado tomo acerta o homem em cheio no rosto.

Buh?!”

A escritura é grossa—com facilmente quinhentas páginas. Levar um tomo tão pesado no meio da cara é um dano garantido.

“Aghh...”
“Ah, sua... Hã?”

O homem que estava com os reféns foi nocauteado instantaneamente pela força física do impacto da escritura. Aquele que estava abordando Menou e Akari se enfurece ao ver seu colega ser abatido, mas Menou não precisa de truques baratos para incapacitá-lo.
No momento em que ele desviou seu olhar, Menou saiu rapidamente de sua visão e se esgueirou atrás dele. Enquanto ele olhava ao redor confuso, ela o nocauteou com um golpe no queixo.
Após abater rapidamente ambos os rapazes, Menou bate as mãos para limpá-las.

“Bom, foi fácil.”

Pegando emprestado um cinto de um dos passageiros, Menou dispensou os homens inconscientes de suas armas Etéreas e os prendeu para que não pudessem se mexer, só para o caso de acordarem. O recolhimento de itens tabu faz parte do trabalho de Menou, mas determinar sua punição cai sobre as mãos das forças da lei, então é melhor detê-los em vez de finalizá-los.
Akari aperta seus punhos com empolgação e os joga para cima e para baixo depois de testemunhar os exímios movimentos da Menou de perto.

“N-nossa! Isso foi incrível, Menou! Você é tão forte! Não me admira que você seja uma grande agente ninja!”
“É claro. Eu sou uma pura, justa e forte sacerdotisa, afinal... Então, por favor, pare de me chamar de ninja, está bem?”

Aceitando graciosamente o elogio de Akari, Menou vira em direção aos passageiros que eram reféns há poucos momentos atrás.
Enquanto todos olham para ela quase sem respirar, ela dá o seu maior sorriso.

“Não se apavorem. Eles tiveram o infortúnio de se depararem com uma sacerdotisa como eu. Eu derrubarei qualquer desordeiro que tentar abordar nosso vagão!”
“Ooh!” Os passageiros ovacionam maravilhados e aliviados com a performance de Menou.
Isso deve bastar para manter os civis calmos, pensou Menou, virando de volta para Akari.
“E você, Akari, deveria pensar melhor antes de tentar me proteger. Não faça algo tão perigoso assim novamente, fui clara?”
“C-certo. Me desculpe...”

Enquanto Menou a repreende, os ombros de Akari caem. Suas ações não foram nem um pouco prestativas.
Apesar disso, Menou suaviza um pouco sua expressão.

“Mas obrigada por tentar... Sua bravura me deixou feliz, Akari.”
“...Hee-hee.” Akari sorri novamente. “Eu amo sua atenciosidade, Menou. Obrigada.”
“Não há de quê. Agora, vou dar conta dos terroristas nos outros vagões. Seja uma boa garota e espere aqui.”
“Certo... Mas por favor, tenha cuidado, tá? Eu não quero ser deixada para trás de novo.”
“Não se preocupe. E eu já te abandonei alguma vez?”
“Hã? Ah, é. Acho que tem razão. Ah-ha-ha, do que eu tô falando?”
“Muito bem, eu volto em breve.”

Com um pequeno aceno, Menou pega a escritura que havia arremessado em um dos bandidos e avança para o vagão em frente ao delas.
Seu livro brilha levemente com uma Luz Etérea cintilante.
Era o sinal de uma comunicação à longa distância de uma escritura vinculada. Momo estava enviando-lhe uma mensagem.
Menou confirma o conteúdo da mensagem enquanto pisa na ligação entre os dois vagões, ainda completamente inconsciente de algo.
Ela não entende a razão de Momo se preocupar com o trabalho não ser adequado para Menou.

“Agora, me pergunto como ela está.”

Não foi uma mudança visível, então ela nem reparou. Ações atenciosas como confortar Akari instantes atrás não são realmente necessárias para sua missão de modo algum. Na verdade, seria mais fácil lidar com Akari simplesmente a repreendendo e nada mais, a encorajando a ser mais dócil—porém, Menou reconfortou Akari sem pensar duas vezes.
De frente ao sorriso radiante de Akari, a linha entre a atuação de Menou em missão e seus reais sentimentos começa a derreter, deixando ambos se misturarem.
Mas Menou ainda não se deu conta disso.


*



O segundo vagão é apetrechado com camas.
Os terroristas que assaltaram o trem estavam tentando agrupar os passageiros no vagão-restaurante.
Muitos dos passageiros são Plebeus comuns. Embora lamentassem sua sorte, eles estavam apavorados o suficiente com as armas para obedecerem em silêncio.
Uma vez que os cinco homens reuniram maior parte dos passageiros do vagão-dormitório para o restaurante, dois deles foram para o terceiro vagão. Enquanto esses dois cercavam os passageiros lá, os três restantes começaram a vasculhar o dormitório para se assegurarem de que não haviam esquecido alguém.
Logo, eles deram de cara com uma das camas, e trocaram olhares.

“Ei.”
“Oi? Tem uma criança escondida aí ou o quê?”

O lençol sobre a cama estava elevado em uma óbvia protuberância. Como se já não fosse ruim o bastante, o inchaço estava visivelmente tremendo.

“Não sei se é menino ou menina, mas é um fedelho. Ugh.”
“Vamos atirar de uma vez. Se jogarmos o corpo pela janela, ninguém vai saber.”
“Corta essa... Ei, você. Se sair devagarzinho, ninguém vai te machucar.”

A julgar pelo tamanho da elevação, não poderia ser um adulto escondido.
A criança assustada deve ter se escondido tão rápido que os homens nem notaram a primeira vez. Na esperança de que a criança não desatasse a chorar, os rapazes se aproximaram cautelosamente.
Então, de repente, o lençol branco lançou-se para cima, bloqueando a visão dos homens.

“Quê!?”
“Merda!”

Justo quando o lençol obstruiu suas visões, o que tem o olhar mais aguçado dos três nota que a criança estava usando vestes sacerdotais. Xingando, ele abriu fogo imediatamente.
Parte do perigo de uma arma Etérea é a facilidade de ser utilizada mesmo por pessoas não familiarizadas com manipulação de poder. Quando alguém puxa o gatilho, ela automaticamente absorve parte da energia do usuário, a endurece, e dispara como uma bala.
No entanto, o ataque do homem acertou apenas o lençol.

Guh?!”

O homem que reagiu imediatamente à situação e atirou, soltou um grunhido. A pessoa que se esgueirou agilmente por trás dos terroristas enquanto o lençol bloqueia suas visões, estrangulou seu pescoço com algum tipo de cordão.
Três segundos.
O aperto hábil em sua artéria carótida derrubou o homem em um breve e chocante tempo.

“Porra! Uma sacerdotisa!?”

Os outros dois finalmente a acompanharam e apontaram os cilindros em sua direção, mas não conseguiram puxar o gatilho. A pequena figura da garota estava completamente obscura atrás do corpo inconsciente do homem.
Vendo-os hesitar, a garota ativou o Aprimoramento. Então, com sua força física impulsionada, ela arremessou o homem nos outros dois com extraordinária facilidade, apesar da sua diferença de tamanho.
Os dois homens não foram ousados o bastante para atirar em seu aliado, então foram acertados em cheio por todo o peso dele.
Aconteceu rápido demais para eles suportarem o impacto do homem e seu grande corpo. Talvez as coisas fossem diferentes se eles mesmos pudessem usar Aprimoramento para se fortalecerem, mas esses rapazes não possuem habilidades tão avançadas.
Um deles cambaleou para trás, e o outro caiu de sentado.
A garota se aproximou deles sem hesitar um momento sequer, socando o rosto do homem ainda sentado com seu pequeno punho revestido com uma luva branca.

Nnguah!”

Ela bateu no homem de novo e de novo com uma inclemência contrária ao seu suave cabelo rosa e suas características adoráveis.
CRACK. O estalo de um nariz quebrando, depois um maxilar. O terceiro golpe mandou um molar para longe, e o homem tombou, inconsciente. O olhar da garota vai em direção ao outro homem.

“M-merda!”

O homem desesperadamente levantou sua arma Etérea, mas àquela altura a garota já estava atrás dele.

“Pergunta.”

Um barulho de metal ecoa enquanto algo é enrolado ao redor do pescoço do bandido.

“Vocês estão em quantos, e qual é o seu objetivo?”
“...Bah. Você acha que uma cordinha vai me fazer falar?”
“Cordinha...? Ah, você não consegue ver, então está assumindo que é uma corda. Que fofo. Infelizmente, não chego nem perto de ser tão gentil.”

Agora que ela mencionou, o homem se deu conta de seu engano.
A sensação em volta de seu pescoço não parecia ser de uma corda ou algo parecido; o frio em sua superfície o identifica como metal. Mas é afiado e rígido demais para ser algum tipo de cabo.
O que era, então? O homem franziu a testa, mas então a garota revelou a resposta.

“É uma serra.”
“Hã? Ngaah?!”

A fina serra de metal pressionada contra o pescoço do homem começa a deslizar.
A lâmina é arrastada contra sua carne pesadamente, derramando sangue no mesmo instante. A garota segurando a alça a moveu levemente como se estivesse serrando e parou.
Mas isso foi o suficiente para drenar toda a cor do rosto do homem.

“A...aagh... E-espera, n-não—Pare—”
“Vou começar a serrar seu pescoço, de segundo em segundo.”
“...Hgggh!”

Parecia que ela havia suspirado gelo em seu ouvido.
A imensa frieza na voz da garota não era resultado de calma. Era uma simples evidência do quão pouco ela se importa com a vida do homem.

“Entããão... vai me dizer o que eu quero saber, ou sua cabeça vai rolar no chão primeeeiro?”

Apesar da pronúncia, não havia vestígio de meiguice na voz que sussurrava em seu ouvido.

“Eu irei serrar beeem devagar até que uma das duas coisas aconteçam, está beeem?”

Em menos de um segundo, o homem começou a desembuchar toda a informação que ela precisava.


*



Força Etérea: Conectar—Escritura, 1:4—Invocar [A vontade do Senhor é transmitida por todo o céu e terra, reinando vastamente.]

Após extrair informação do terrorista e nocauteá-lo, Momo abriu uma página da escritura e a carregou com Força Etérea, invocando uma conjuração. Sua escritura já estava vinculada com a de Menou, então ela transmitiu a informação que ganhou e seu próximo plano de ação.
O alvo dos terroristas é a princesa desta nação, que estava em um vagão de primeira classe. Eles pretendem tomá-la como refém para exigir a libertação de seu líder, que foi capturado pela Ordem dos Cavaleiros.

“Que falta de inspiração...”

Esse desenvolvimento era de pouco interesse para Momo, mas ela não pode negligenciar a coleta de informação para Menou.
Alguns dos terroristas também foram para os carros econômicos, mas apenas dois deles. Menou deveria ser capaz de lidar com eles tranquilamente. É estranho eles estarem carregando armamento tabu como armas Etéreas, mas ainda assim, não representam tanta ameaça.
O problema são os vagões dianteiros.
Três homens estão na sala de motores e outros oito infiltraram o vagão dos nobres.

Momo suspira. “É extremamente tedioso trabalhar sem minha querida, mas... Talvez eu deva exterminar as pestes na sala de motores para que ela me elogie.”

Sorrindo levemente para si mesma, Momo reflete sobre o dia no qual ela encontrou sua amada querida pela primeira vez.
Após perder seus pais, a jovem Momo foi levada a um estranho monastério.
Lá, ela e outras crianças foram submetidas a treinamentos inacreditavelmente difíceis, seguindo um cronograma terrivelmente severo. Embora o lugar fosse chamado de monastério, o sistema incomum demonstrava absolutamente nenhum interesse em salvar alguém que não conseguisse acompanhar os rigores da vida por lá. Mesmo muito jovem, a pequena Momo sabia que estava em um lugar muito estranho de fato.
Muitas vezes, uma criança que estava lá no dia anterior, desaparecia subitamente no seguinte.
Muitas que desapareciam eram crianças com notas insatisfatórias, e nenhum dos adultos diziam para onde elas iam. No entanto, Momo conseguia imaginar o qual horríveis seus destinos devem ter sido.
Momo odiava aquele monastério.
Embora todas morassem juntas, as outras crianças da idade dela não tinham consideração por suas colegas. Era normal tentar chutar a outra para avançar; tudo que importava era assegurar sua própria sobrevivência. As sacerdotisas adultas que reivindicavam o papel de tutoras eram frias e cruéis, sem um vestígio de empatia ou compaixão entre elas. E a pior de todas era a pessoa responsável pelo monastério.
A Mestra com cabelo vermelho-escuro era a mais louca de todas.
Para a pequena Momo, todos ao seu redor eram inimigos. Ela estava convencida de que ela era a única pessoa sã daquele lugar, então ela odiava todas as outras. Ela facilmente atendia e ultrapassava os requerimentos em todos os seus treinamentos, mas nunca se sentia realizada em algum deles. Momo odiava cada tarefa que ela era forçada a fazer.
Momo era a única “humana” verdadeira entre elas, ela pensava. As restantes eram completamente insanas. Ela nunca iria se acostumar com um lugar horrendo daqueles, ela dizia a si mesma.
Então ela passava seus dias guardando ódio do monastério, mas ao mesmo tempo, ela se preocupava que eventualmente começasse a ser influenciada por ele. Seu medo de que talvez ela já estivesse ficando insana sempre espreitava em sua mente.
Então, Momo chorava com frequência.
Ela quase sentia que se conseguia chorar, então ainda era ela mesma.
Quando os dias eram difíceis, era normal chorar. Uma criança como ela deve se desatar a chorar quando machucada ou triste. Momo se agarrava neste pensamento enquanto via as crianças ao seu redor que já haviam desistido de chorar há muito tempo.
Então quando Momo sentia vontade de chorar, ela nunca se segurava. Ela esperava sentir dor, ou ficar irritada, ou quando se sentia infeliz.
A ideia de que crianças são puras e incapazes de fazer coisas ruins é um delírio de adultos ignorantes que já esqueceram do passado há muito tempo. Na verdade, um grupo de crianças vão imediatamente descarregar o seu estresse em qualquer coisa que pareça mais fraca que elas.
Como Momo chorava constantemente, as outras crianças enxergavam ela como alguém inferior, e uma vez a cercaram e riram dela. Momo não queria que seu choro fosse interrompido, então ela as socava no rosto e as afastava, certificando-se que todas sofressem até que nenhuma delas pudesse chorar, também.
Depois disso, ninguém se atrevia a se aproximar dela quando chorava.
Ela chorava sozinha, o tanto que ela quisesse.
Sempre quando algo ruim acontecia, ela podia pelo menos lamentar ininterruptamente. Essa era a única coisa a qual ela podia recorrer.
Porém, uma menina que aparentemente não sabia sobre o incidente se aproximou de Momo enquanto ela chorava.
Esta menina era apenas dois anos mais velha que ela. Sempre que Momo chorava sozinha, essa menina com um longo cabelo castanho-claro inevitavelmente vinha e a confortava.
Era normal socar alguém que se aproximasse com más intenções, mas do contrário, socar as pessoas não era normal. Então Momo se abstinha de batê-la, mas ela ainda achava que era cruel essa menina insistir em interromper sua pequena sessão.
Além disso, seu “reconforto” não envolvia palavras gentis—nem mesmo tentativas de distraí-la com canções e histórias.
Ela apenas acariciava a cabeça de Momo.
Era uma tentativa de conforto incrivelmente estranha. Às vezes, Momo até pensava que estava sendo debochada, então constantemente empurrava a mão da menina.
Sempre que Momo fazia isso, a menina fazia uma cara confusa, mas continuava perto dela até que Momo parasse de chorar.
Esquisitona.
Ela era até mais estranha que as outras. Essa deve ser insana, também, Momo pensava.
Para começar, ela sempre parecia calma, apesar do lugar infernal no qual viviam. Ela continuava fazendo coisas normais como se fosse perfeitamente natural. Mas se ela fosse realmente normal, ela choraria e gritaria em protesto. Porém, a menina continuava agindo normalmente, embora devesse estar quebrada em algum lugar por dentro.
A forma como seu cabelo castanho crescia e como era descuidado, eram provas de que ela era deficiente.
Como o cabelo rosa de Momo demonstrava, a cor do cabelo neste mundo não era determinada apenas por genética. Se a Força Etérea de uma pessoa ultrapassa uma certa quantidade, o poder produzido por sua alma naturalmente influenciará na cor de seu cabelo. Como o cabelo castanho da menina era fraco como se tivesse sido descolorido, era fácil de imaginar que sua cor natural era muito mais vivida.
Antes dela vir para o monastério, algo aconteceu com essa menina, e isso drenou a cor de sua alma.
Inquestionavelmente, ela não era um humano normal.
E mesmo assim, sempre que Momo chorava, a menina de cabelo castanho se aproximava dela, intrépida, e tentava confortá-la estranhamente.
Momo não conseguia evitar de se sentir um pouco emocionada.
Ela era estranha, certo, mas não estava fazendo nada de ruim.
Então Momo decidiu permitir que essa menina sentasse ao seu lado quando ela chorasse.
Um dia, Momo estava chorando por conta de um golpe doloroso que ela sofreu durante o treinamento.
Enquanto chorava, de repente ela não conseguia mais dizer se a dor era intensa o bastante para chorar. Ela ficou tão distraída por esse pensamento que sua cabeça começou a girar, mas como já estava chorando, ela concluiu que devia estar bem.
Como sempre, a menina de cabelo castanho se aproximou dela.
Ela acariciou a cabeça de Momo como de costume em uma vaga tentativa de reconforto. Momo tinha uma leve suspeita de que este era o único método de confortar uma pessoa que a menina conhecia.
Mas por alguma razão, naquele dia, ela não fez apenas isso.
Pelo contrário, ela alegremente pegou alguns lacinhos vermelhos de seu bolso e desajeitadamente prendeu o cabelo de Momo em duas trancinhas.
Momo estava tão distraída pelo comportamento intrigante da menina que se esqueceu de chorar e até da dúvida resultante. Ao notar que Momo havia parado de chorar, a menina pegou um espelho que sabe-se lá de onde conseguiu.
Então, enquanto o espelho refletia Momo e os lacinhos prendendo seu cabelo em trancinhas, a menina sorriu orgulhosamente e disse.

“Veja como é fofa.”

Não fazia sentido algum.
Era tão bizarro que Momo repetiu sem pensar.

“Fofa...?”
“Uhum. Estilosa.”

Esta era a concepção de estilo da menina?

“Meninas devem ser estilosas. A Mestra me ensinou isso hoje.”

Já era um fato bem conhecido que essa menina era a favorita da Mestra de cabelo vermelho responsável pelo monastério. Este feito impressionante a tornou alvo de muita inveja.
Neste sinistro monastério, no qual as crianças não tinham energia de sobra para as outras e nenhuma aliada verdadeira, a menina de cabelo castanho prendeu o cabelo de Momo em trancinhas e acariciou sua cabeça.

“Você é fofa.”

Essa menina era muito estranha.
Apesar de Momo ter parado de chorar, naquele dia ela permitiu que a garota continuasse alisando sua cabeça sem resistir.

Ela é estranha. Não é normal. Mas talvez não seja tão ruim, pensou Momo.

No dia seguinte, Momo usou os laços que a menina lhe deu para prender seus cabelos em trancinhas. Foi apenas um capricho, claro. Mudar o penteado é uma coisa normal de se fazer, então ela quis experimentar. Só isso.
Nesta instituição, até mesmo usar laços no cabelo era o suficiente para deixar algumas crianças com inveja. Momo estava excepcionalmente de bom humor naquele dia, e quando uma alma imprudente tentou roubar seus laços, Momo esmurrou a criança infratora no chão e roubou suas roupas.
Momo usou as melhores partes das roupas roubadas junto com algumas linhas furtadas e uma agulha para fazer um grande laço.
Ao ter em mãos o laço que ela mesma fez por algum motivo e pensar no cabelo longo e castanho da menina, Momo sentiu-se estranhamente inquieta.
Naquele dia, a Mestra reuniu todas as crianças do monastério.

“Todas vocês podem deixar esse monastério agora se quiserem.”

Essa mulher era a mais infernal de todos os demônios deste insano monastério. Seu cabelo vermelho era mais escuro que sangue, e seus olhos mais sombrios que a noite. Momo e as outras crianças ficaram em choque com a sua declaração.
“As crianças que vão embora são abolidas.” Esse era o rumor mais plausível que se espalhava pelo monastério. Um poderoso receio de que elas seriam mortas percorria a multidão de crianças.

“Não as mataremos nem nada parecido. Só estou dizendo que se quiserem ir embora, podemos transferi-las para um monastério normal.”

Aquilo era extremamente inesperado.
Por quê? A pergunta estava estampada no rosto de todas.
Ninguém nunca informou a elas para o quê exatamente o monastério estava treinando-as. Mas era óbvio que elas não estavam sendo criadas para serem membros decentes da sociedade.
Enquanto um murmúrio percorreu a multidão, Momo foi a única que percebeu.
Havia uma menina sozinha atrás da Mestra.
Uma menina estranha com um cabelo longo e castanho-claro.

“Vocês podem ter uma vida normal. Não é como se realmente soubesse de algo, afinal. Quanto mais de vocês forem salvas, maior será o fardo desta aqui.”

A Mestra de cabelo vermelho colocou uma mão na cabeça da menina, inclinou seu queixo para baixo, e soltou uma gargalhada sórdida.
Ao fim do dia, 60 por cento das crianças solicitaram uma transferência. Quanto mais recente a criança, maior era a probabilidade de quererem ser transferidas. A maior parte das que decidiram ficar obviamente já eram casos perdidos a essa altura.
Embora as crianças parecessem felizes por serem libertadas, nenhuma delas agradeceu a jovem menina que aparentemente era a razão de sua salvação. No máximo, Momo ouvia mais crianças falando mal dela pelas costas.

Ela é louca, assim como a Mestra. Esquisitona. O que ela está planejando? Tentando nos fazer sentir que devemos algo à ela?

Momo nocauteou cada uma das crianças que falava mal da garota, e então solicitou uma transferência.
Finalmente, sua vida podia voltar ao normal.
Reunindo os poucos pertences que tinha, Momo notou o laço que ela mesma fez.

Darei isso à ela antes de ir. É normal dar um presente de despedida à alguém.

Então pela primeira vez, Momo se aproximou da menina de cabelo castanho.

“Hmm? O que foi? Você nunca veio até mim antes.”

Naquele período, a antes inexpressiva menina começou a agir relativamente normal.
Mas não era seu crescimento como uma humana—era obra da Mestra, como uma pessoa colocando peças novas em um brinquedo quase quebrado para fazê-lo parecer inteiro.
A menina ainda era anormal, em um grau quase repulsivo.
Mas Momo não se importava.
Enquanto a menina inclinava a cabeça, Momo mostrou-a seu laço feito à mão, e então começou a cuidadosamente alisar seus cabelos.

“Pronto. Agora você é estilosa.”

Amansando a cabeleira longa e castanha da menina, Momo usou seu laço feito à mão para prendê-lo em um rabo de cavalo.

“Você é...fofa.”

Momo estava apenas tentando retribuí-la. E dizer adeus.
Ela finalmente poderia voltar a ter a vida normal que ansiava. Ela poderia viver entre pessoas normais.
Então, provavelmente ela nunca mais veria essa menina anormal novamente.

“...Hee-hee. Obrigada.”

Naquele momento, Momo viu a menina sorrir pela primeira vez.
Ela virou-se para olhar nos olhos de Momo com seu novo rabo de cavalo balançando gentilmente, e sorriu tão sinceramente que parecia ser sua primeira vez.

“Isso me deixa muito feliz. De verdade.”

Aquele sorriso era mais brilhante que a luz de uma estrela recém-nascida.
Era tão honesto, tão lindo, tão brilhante—um sorriso tão normal, do coração puro de uma menina inocente, apesar do lugar horrível que elas estavam.
Lágrimas brotaram dos olhos de Momo.

Ah, não. Eu não posso.

De repente, ela não conseguia mais parar as lágrimas.
Ao contrário das insensíveis que ela forçava quando sentia que devia chorar, estas eram quentinhas e infinitas, e ela não conseguia segurá-las mesmo se tentasse. Momo chorou todos os dias, e ainda assim, esta parecia ser a primeira vez que ela chorava em anos.
A visão do sorriso radiante da menina finalmente a fez se dar conta de uma coisa.
Seu eu normal já havia desaparecido há muito tempo. Momo não havia reparado até ver aquele sorriso.
Percebendo sua carência, ela chorou lágrimas verdadeiras pela primeira vez em muito tempo.

“Poxa vida.” A menina sorriu gentilmente e acariciou a cabeça de Momo. “Você é mesmo uma bebê chorona, não é?”

Momo nunca se esqueceria da bondade em sua voz e da suavidade de seus dedos ao enxugar suas lágrimas.
Era amor.
Ela amava a menina, que sempre a confortava quando chorava. Ela amava a forma como a menina desajeitadamente acariciava sua cabeça. Ela a amava tanto que nem se importava mais sobre ter perdido sua normalidade.

“Eu me tornaria uma vilã, mas você, apenas viva uma vida normal, está bem?”
“Não, eu não vou.”

Foi então que Momo percebeu que ela nem sabia o nome da menina, e que a mesma também nunca mencionou.
Mas ela não podia admitir isso agora.
Logo, Momo chamou a menina de “querida,” e começou a ocasionalmente referir-se a si mesma na terceira pessoa.
E como ela amava quando a menina acariciava sua cabeça, ela começou a falar com ela em um tom meigo e implorante.

“Momo vai ficar beeem aqui.”

Agora, ela sabia que nunca poderia voltar ao normal.
E conhecer esta menina foi muito mais valioso do que “normal”, afinal.
Naquele momento, Momo tomou uma decisão.
Menou escolheu matar pessoas pelo bem de um número indefinido de outras.
Neste caso...

“Momo matará pessoas por você, querida.”

Ao retornar à realidade, ela murmura o voto que fez silenciosamente há anos atrás.
Momo está disposta a matar quem for necessário.
Ela odeia tanto esse mundo, o qual ela tem certeza de que não vale a pena proteger, odeia a contente ignorância das pessoas vivendo nele a ponto de se engasgar, e odeia tanto pessoas egoístas devotas ao combate que sente ânsia de vômito. Cada uma delas poderiam muito bem morrer, é o que ela pensa do fundo do coração.
Por isso ela está disposta a fazer tudo o que for preciso pela Menou, a única pessoa neste mundo a qual ela realmente ama.
Enquanto estava tendo recordações, sua informação terminou de ser transmitida.
Momo fecha sua escritura e mentalmente simula o que ela tinha que fazer no trem.

“É, será moleza. Apenas mais um dia fazendo o meu melhor para que a querida me acaricieee na cabeça.”

Acenando firmemente para si mesma, ela imagina o futuro e sente um impulso de motivação.
Primeiro, a sala de motores.
No que diz respeito à Momo, todos naquele vagão de primeira classe poderiam muito bem morrer, então ela não tem motivação para salvá-los. Por outro lado, se houver problema na sala de motores, o trem inteiro estará em perigo. Melhor assegurar aquela área primeiro.
Momo se inclinou para fora da janela, o vento faz suas tranças balançarem.
Ela verifica os nós em seus laços para ter certeza de que não se soltariam, e resolveu subir até o teto.
Depois daquele dia fatídico anos atrás, Momo investigou a história de Menou, pelas costas da Mestra, e descobriu de onde ela veio.
A única sobrevivente de uma cidade que foi obliterada em branquitude.
A cidade de Menou embranqueceu e desapareceu por conta do Puro Conceito descontrolado de uma Ádvena, e enquanto Menou de alguma forma sobreviveu, suas memórias, alma e espírito foram todos apagados.
Como ela perdeu todo vestígio de sua personalidade original, Menou é facilmente influenciada pelos outros. Ela absorveu todos os ensinamentos da Mestra sem erro e tem a tendência de ser profundamente afetada pelas emoções das pessoas ao seu redor.

Por isso aquela garota é tão perigosa.

Os olhos de Momo ficam afiados quando o rosto da Ádvena de cabelos escuros e olhos negros lampeja em sua mente.
O coração de Menou é demasiado puro para ter contato com um alvo por muito tempo, em vez de matá-lo rapidamente.
Momo pode facilmente estampar um sorriso inocente independente de seus pensamentos mais íntimos, porém Menou inevitavelmente desenvolve afeto pelo alvo apenas passando tempo com ele. Especialmente quando seu tempo juntos é tão longo quanto agora.
Se elas ficarem mais íntimas, ela pode acabar se sentindo tão conflitante que talvez seja incapaz de eliminar o alvo no fim das contas.
Combinando isso com a culpa que Menou sente por aqueles que ela já matou, seu coração pode se despedaçar.
A Mestra provavelmente riria disso, dizendo que é apenas outra forma de treinamento.
Porém, Momo nunca permitiria.

“Não vou deixar que isso aconteça. Não importa como.”

Ela não pode deixar que nada capaz de arruinar aquele sorriso que ela se apaixonou aconteça.
Esta missão provavelmente dará certo. Com o auxílio da arcebispa em Garm, elas planejaram um método para matar Akari, cujo Puro Conceito de Tempo a previne da morte.
Mas se um alvo que Menou não conseguisse matar surgisse algum dia, bom, Momo estaria lá para carregar o fardo e então Menou não teria de chorar.
Quando Momo descobriu sobre o passado de Menou, imediatamente se registrou e completou o curso de treinamento das Executoras.
Sua fé no Senhor provou ser a menor de qualquer outra registrada na história do curso, mas ela compensou isso com seus resultados incrivelmente altos em todas as outras áreas. Momo não poupou esforço algum para completar o curso—a fim de se reunir com Menou o mais cedo possível, enquanto a citada já havia terminado seu treinamento. Seu trabalho duro finalmente foi recompensado, e ela foi designada como assistente de Menou.
Desde então, tudo que Momo faz é pelo bem de Menou.
Momo se jogou para fora da janela e aterrissou em cima do trem.
Haviam onze terroristas ainda ocupando o trem. Ela começou a se dirigir até a sala de motores para dar cabo de três deles, mas então congelou.

Oh-ho? Que visitante inesperadamente adorável.”

Mais alguém que estava em cima do trem se dirige à ela.
Um vigia dos terroristas? Momo ficou em alerta imediatamente ao ver uma moça intimidante usando um vestido dramático.

“Olá. Eu sou Ashuna Grisarika, princesa da Nobreza e digna integrante da Ordem dos Cavaleiros.”

Apesar de estar em pé em cima do trem, a presença ameaçadora da mulher não é nem um pouco obstruída pelo vento batendo em seu glamuroso cabelo loiro e vestido ousado. A Luz Etérea emanando da sala de motores do trem parecia até uma auréola brilhante atrás dela.
Carregando orgulho consigo mesma ao se apresentar, a jovem mulher sorri destemidamente.

“Agora, quem é você?”

Segurando a espada que cortou os terroristas que a cercavam, o sorriso da Princesa Cavaleira se alarga.
A vista abaixo delas é rápida e vertiginosa.
Enquanto as vibrações dos trilhos balançam seus corpos no mesmo ritmo do trem em movimento, Momo estreita seus olhos.
O cheiro de sangue preenche seu nariz.



Estava vindo a favor do vento—da espada desta mulher, Ashuna Grisarika.

“Uma sacerdotisa de branco, é? Estas linhas amarelas devem significar que você é independente, mas esse comprimento de saia é bem inovador. Nunca havia visto uma acima dos joelhos... Nada mau.”

Ashuna acena para as roupas de Momo com muito interesse.
A cor das vestes de uma sacerdotisa, especialmente o símbolo no peito e a cor do tecido, representa sua patente na Faust. Um traje preto indica uma freira, considerada abaixo da patente da Primeira Classe; roupas brancas como as de Momo se referem a uma novata que vestiu o manto recentemente. Apenas quando se veste o traje azul-marinho que Menou usa, a pessoa é considerada uma sacerdotisa pelo resto do mundo.
E o símbolo amarelo nas vestes de Momo significa que ela não pertence a nenhuma paróquia em específico. De alguma forma, Ashuna parece saber bastante sobre a iconografia das sacerdotisas.

“Bem ousado uma sacerdotisa não-alinhada alterar seu uniforme, mas gosto do seu estilo. Você concentrou todos os babados em um só lugar para deixá-los leves. Afinal, o corpo humano é bastante bonito por si só. As roupas devem enfatizar as curvas de quem as veste, e não disfarça-las. Não concorda?”

Não é de admirar que ela diga algo assim, dada a sua própria vestimenta. As vestes da mulher expõem uma escandalosa quantidade de pele. Enquanto a saia fina parece gerar uma fácil mobilidade, as formas de diamante acima da cintura de suas roupas cobrem apenas um pouco mais além de seus seios e umbigo.
Combinando isso com sua própria beleza inerente, Ashuna é elegante de cima a baixo, mas não apenas isso. Em sua mão, ela carrega uma espada gravada com um brasão. A delicada gravura é tão adorável que poderia ser confundida com uma arma cerimonial, porém, isso não é uma mera decoração. É uma arma formidável com a habilidade de invocar múltiplos selos.
Momo faz um sorriso simpático.

“Então você é a Princesa Cavaleira Ashuna? É uma honra, Vossa Alteza.”
Oh-ho? Você me conhece, é?”
“É claro. A fama de Sua Alteza a precede. Eu sou Momo, uma sacerdotisa.”

Ashuna é relativamente conhecida: Embora seja uma princesa nascida em uma família da Nobreza, ela entrou para a Ordem dos Cavaleiros, as forças de segurança da nação, para assumir a segurança de sua terra com suas próprias mãos.

“Como pode ver, sou uma sacerdotisa de vestes brancas, ainda uma novata. Eu estava a caminho da capital ancestral Garm como parte de minha peregrinação, mas então o trem foi atacado por terroristas. Então, er... será que poderia abaixar sua espada?”
“Hmm? Ah, sim.”

Momo tentou demonstrar que não era uma ameaça, o que parece ter baixado a guarda de Ashuna, pelo menos um pouco. A princesa retornou sua espada para a bainha e se aproximou com uma expressão amigável.

“Parece que esses terroristas estavam atrás de mim, mas acho que eles também foram para os vagões de trás.”
“Sim, cerca de cinco deles. Eu já os nocauteei.”
“Entendo. Peço perdão pelo incômodo. Eu finalizei os patifes que entraram no vagão real e na sala de motores,” Ashuna assegurou.
“Impressionante. Sua Alteza certamente corresponde a sua reputação!”

Enquanto Ashuna anda sobre o trem, ela não demonstra nenhum resquício de medo.
Seu nível de calma é admirável, considerando o forte vento e a instável base abaixo delas. Sua postura deixa evidente seus músculos bem temperados e o quão profundas são a sua confiança e coragem.

“No entanto, fiquei deveras surpresa ao encontrá-la aqui em cima com sua espada empunhada, Sua Alteza.”
“Sim, bom, eu estava planejando ir e cortar os terroristas nos vagões de trás, também. Além disso, fiquei um pouco espantada com sua forma de se vestir.”

Momo sorri timidamente, e Ashuna continua com seu calmo semblante, como se estivesse tendo uma casual hora do chá.

“Meu pai atualmente está em julgamento por heresia, embora em virtude de ações fora do meu conhecimento. Me perdoe caso eu carregue sentimentos mistos pela Faust no momento.”
“Ah, verdade, eu soube. Mas o julgamento apenas começou, certo? Sua Majestade ainda não foi declarado culpado.”

Enquanto conversavam, Ashuna casualmente se aproxima de Momo.
Então, subitamente, seu peito brilhou.
Era a luz emitida por Aprimoramento, mas estava cegamente brilhante. Ao mesmo tempo da distração ofuscante, a espada velozmente saiu de sua bainha e foi em direção ao pescoço de Momo.

“Oh?”

Ashuna ergueu uma sobrancelha levemente impressionada, seu corpo envolto por Luz Etérea.

“Que surpresa.”
“Por...que iiisso!?” O rosto de Momo congela, mas ela não deixa de sorrir.

Ela está agarrando sua serra com ambas as mãos, bloqueando a espada de Ashuna de alcançá-la. A fina serra fica levemente curvada no ponto onde a lâmina da espada colide, mas ela resiste à pressão. Momo usa luvas brancas para ocasiões justamente como essas, para proteger suas mãos quando precisa agarrar a serra.

“Ah, você sabe. Como eu disse, tenho sentimentos mistos pela Faust no momento.”
“Então você pensou que como uma integrante da Faust apareceu, poderia muito bem livrar-se dela agooora?”
“Cruzes, claro que não.”

Momo decide arrastar suas sílabas, não para soar meiga como de costume, mas para provocar sua oponente. Ashuna parece não se incomodar com o tom de escárnio da Momo, e simplesmente aplica mais peso em sua espada.

“Eu parei antes, sabia? Se eu realmente tivesse atacado com intenção de arrancar sua cabeça, uma serrinha frágil dessas não seria capaz de me impedir, mesmo que o metal estivesse aprimorado com Força Etérea.”

Ashuna soa bem confiante de que se tivesse sido séria, Momo já estaria morta.
Lentamente, o sorriso de Momo curva-se para baixo.

“Mas que ego enorme. Você é realmente indomável como dizeeem.”
“Eu não subestimo minha própria força. Só isso. Com a espada cristada da realeza em minhas mãos competentes, pouquíssimas coisas escapam do meu corte, mas... Suponho que devo aplaudi-la por reagir tão rapidamente. Impressionante.”

Novamente, a provocação de Momo não suprimiu nem um pouco o sorriso destemido de Ashuna.
A espada de Ashuna é lentamente pressionada cada vez mais contra a serra. Momo pôde tirar uma conclusão da força a qual pesa sobre ela através da lâmina: Esta mulher produz uma quantidade inacreditável de poder.
Ela deve ser incrivelmente bem treinada. A Princesa Cavaleira é provavelmente tão forte quanto uma escolhida a dedo e cuidadosamente forjada Executora—talvez até mais forte.
Os prodígios vêm em todas as formas, em qualquer terra e de qualquer classe. Sem dúvida, Ashuna foi naturalmente dotada com um incrível nível de controle de energia.

“Como eu já disse, meu pai está em julgamento pelo pecado de heresia. Ele está sendo acusado de convocar Ádvenas, embora não haja um Ádvena sequer em lugar algum do castelo.”
“Ahhh. É meeesmo?”
“De fato. É assim que eles estão respondendo ao tribunal no presente momento. 'Se nós realmente convocamos Ádvenas, então onde estão?'”
“Castelos são beeem grandes. Tem certeza de que eles não estão apenas escondendo-ooos? Embora eu acredite que possa não ser verdaaade. Se este for o caso, ele será absolvido. Isso não é óóótimo?”
“Será mesmo? Eu não acho que seja nenhum desses casos. Meu pai certamente convocou Ádvenas, mas eles não estão mais sob seus cuidados. Isso é o que eu acho. Você sabe o que isso significaria, não sabe?”
“Sinceramente, nããão? Esclareça-me, Princesinha.”
“Os Ádvenas foram mortos antes do julgamento começar.”

Ashuna pressionou ainda mais sua espada. Ela ainda parece ter bastante poder de sobra. Momo também não estava nem perto de seu limite—ela elevou seu Aprimoramento para afastar a princesa.
Crunch. O metal abaixo de seus pés cede um pouco.

“Você deve saber sobre as chamadas Executoras da Faust?”
“Ahhh, esse rumor bobo e antigo? Já ouvi falar, siiim. Eee? O que tem iiisso?”
“Bom, quando olhei para você, um pensamento cruzou minha mente. Se aquela Executora terminou seu trabalho e deixou a capital real justo quando a Santa Inquisição estava começando—ora, ela poderia estar justamente nesse trem.”



“Isso é um pouco conveniente demais, não aaacha? Melhor não deixar a imaginação tomar conta da sua cabeça.”
“Tenho minhas dúvidas. Eu embarquei nesse trem no mesmo período, afinal. Além disso...”

Os olhos de Ashuna reluzem com satisfação.

“Eu tenho total fé na força que construí durante toda minha vida...e eu nunca duvidei da minha intuição.”

Força Estérea: Conectar—

Parte da espada brilha.
Momo arregala os olhos ao sentir a conjuração do brasão começando a se aproximar.

Espada Real, Brasão—

Ela ativou, causando uma erupção de fogo da lâmina, aquecendo as bochechas de Momo.
Era um ataque de conjuração à queima roupa. Mas Momo não podia esquivar. O brasão ativado estava naquela mesma espada a qual ela estava segurando com sua serra. Se ela afrouxasse um pouco sequer, a lâmina provavelmente iria de encontro direto ao seu pescoço.
Conjuração defensiva com minha escritura, então—não, não terminarei a tempo. A conjuração em escrituras é poderosa, mas complicada. Momo não consegue manipular Força Etérea tão precisamente quanto Menou, então sua velocidade não seria suficiente para superar o brasão.
Tomando uma decisão numa fração de segundo, Momo carrega o selo no interior de seu traje.

Força Etérea: Conectar—Túnica de Sacerdotisa, Brasão—

A conjuração de Ashuna estava prestes a ser lançada.
Estava mudando do estágio preparatório para invocação. A energia das chamas elevando da espada foi subitamente sugada para dentro.

Invocar [Rajada de Chamas]

As chamas ao redor da espada explodem.
E ao mesmo tempo—

Invocar [Barreira]

Ondas sônicas agitam o ar em torno das orelhas de Momo. A violenta explosão de energia foi em sua direção, mas bem a tempo, ela conseguiu focar a barreira defensiva perto de sua cabeça e se defender da rajada.
Se ela tivesse sido acertada pelas ondas sônicas, teria sido arremessada do trem. Momo usa o vento soprando na direção delas como vantagem e salta para trás, criando distância entre elas.

“Um brasão de defesa em seu traje, é? Pelos céus, mas a tecnologia da Faust nunca falha em me impressionar. Tão avançada em ciência de materiais e diagramação de brasões. Eu nem soube dizer que tipo de brasão era.”

Ashuna coloca sua espada larga sobre o ombro graciosamente e observa Momo com apreço. Sua atitude ao falar palavras de admiração soam tão arrogantes quanto nunca.

“E aquela excelente decisão num piscar de olhos protegeu sua cabeça primeiro, se me permite frisar. Todas vocês sacerdotisas são fortes, tenho que admitir...embora pareça estranho uma mera traje branco reagir tão prontamente. Eu suspeito que você não esteja sendo completamente verdadeira ao se apresentar como uma novata.”
“Ora? O que quer dizeeer? Proteger a cabeça é senso comum, nããão?”

Momo titubeou desdenhosamente para as palavras de sua oponente.
Enquanto disse isso, ela tocou os lacinhos que prendem suas tranças com uma das mãos, assegurando-se que seus pertences mais preciosos não foram perdidos. Então, ela direciona um brilhante sorriso para Ashuna.

“Não posso deixar meus lacinhos queimarem, saaabe?”
Ainda bem.

Se seus laços tivessem sofrido qualquer dano, Momo não teria certeza de que conseguiria resistir à vontade de matar essa mulher.

“Estilo é muito importante para garotas. É perfeitamente normal proteger algo assiiim.”
Ha. Nós somos mesmo semelhantes. Eu também adoro me arrumar. Talvez possamos nos dar bem, no fim das contas.”
“Poderia evitar de comparar meu senso de estética com o seeeu?”

Momo não suportaria que essa mulher rica comparasse seu simples passatempo de se vestir com os acessórios que ela recebeu da pessoa mais preciosa do mundo para ela. Ainda sorrindo, ela desabafou sua raiva verbalmente.

“Na verdade, você não tem quase a mesma idade que eeeu? Você é um pouco forte demais para uma princesa, não aaacha? Que medonho. Sua força deve ser desconfortante para os outros, saaabe.”
Heh, você é muito gentil. Minha força é o resultado da minha dedicação—e inteiramente escolha minha, para sua informação.”

Ashuna responde abertamente, flexionando para exibir seus músculos.

“Beleza e força são aquilo que eu mais gosto. Toda sociedade é apaixonada pelo belo. E a força é bonita, não importa o momento ou lugar. Por isso eu me tornei forte, e porque eu tenho intenso interesse na força dos outros. Assim como estou muito impressionada com seu poder.”
“Ah, é meeesmo? Pouco me impooorta.”

Momo franziu a testa. As preferências estéticas de Ashuna não significam nada para ela.
Após ela ter provocado tanto Momo e até atacá-la, Momo não pretende deixá-la ir facilmente.
Ela não seria capaz de descobrir que Momo é uma assistente de Executora apenas com uma breve luta. Mas Momo precisa evitar o mínimo de contato entre essa garota de visão aguçada e Menou.

“Vamos, não seja insensível. Aliás, eu gostaria de perguntar a você algumas coisas referentes ao incidente na capital real que levou ao julgamento do meu pai. Como parte relacionada, eu ficaria emocionada se me respondesse, Momo.”
“Ah, cale-se...! Eu já diiisse, eu não tenho naaada a ver com isso!”

Ashuna chamá-la casualmente pelo nome foi o fim da picada. Arrastando suas palavras com uma elevada irritação, Momo carrega sua serra com energia.

Força Etérea: Conectar—Serra, Brasão—Dupla Invocação [Âncora, Oscilação]

Haviam dois brasões gravados na serra. De acordo com as leis da materialidade, este era o limite dessa arma.
Ativando ambos ao mesmo tempo, Momo consegue ajustar a serra para ficar em linha reta e fazê-la começar a oscilar como uma motosserra.

“Agora, vamos voltar ao que interessa, que taaal?”

Momo abaixa seu braço frouxamente, apontando a lâmina para o chão. A ponta da serra faz contato com o teto do trem abaixo de seus pés.
Com um rangido estridente, o metal do teto começa a descascar onde a serra o toca.

“Me pergunto por quanto tempo seu luxuoooso brinquedo real poderá suportar o meu pequeniiino arame.”

Falando sobre o barulho áspero de metal contra metal, Momo sorri maliciosamente.

“O que acha de colocarmos isso à prooova?”


*



O som de colisão entre metais vem de cima da cabeça de Menou.
Quando ela fez caminho pelo vagão de jantar até o nobre, ela ouviu passos violentos diretamente acima dela. O óbvio tumulto de batalha consistia mais do que uma ordinária colisão de espada contra espada.
De fato, havia um rangido de metal sendo arranhado. E logo em seguida, uma explosão. Então a destemida risada de alguém obviamente se divertindo, contrariada por uma voz melosa disparando insultos.
Esses sons, que um mero duelo de espadas não poderia explicar, continuou por um tempo, sem sinal de cessar.

“Francamente...”

Tudo que Menou podia fazer era suspirar pelo fato de que Momo estava claramente lutando uma batalha desnecessária.
Ela ouviu a maior parte da conversa por baixo. Muito provavelmente, Momo aumentou seu tom na conversa para que Menou pudesse escutá-la.
Era ninguém menos do que a Princesa Guerreira Ashuna, que estava enfrentando a confiável assistente de Menou. Ela era a filha mais nova da família Grisarika, e também uma cavaleira errante. Como ela tenta melhorar o estado da sociedade por onde ela passa, ela é popular entre o povo Plebeu.
Não havia razão para elas lutarem contra essa pessoa. Mesmo se ela estivesse de olho nas duas, seria melhor pular do trem do que se envolver em uma batalha sem sentido. Certamente com o Aprimoramento de Momo, ela poderia saltar do trem em movimento e aterrissar sem um arranhão sequer.
Assim, seria mais fácil escapar e atraí-la para longe, mas em vez disso, Momo estava lutando contra ela. Ela sempre foi rápida em recorrer à violência.

“Bom, pelo menos ela está se contendo, eu suponho.”

Pelo som das coisas, Momo certamente está exaltada, mas não enlouquecida. Se ela tivesse perdido completamente o controle, Menou duvida que escutaria o som da serra de Momo.
Enquanto Momo matinha a Princesa Cavaleira ocupada, Menou passa pela seção de primeira classe do trem.
Ela verifica os quartos enquanto prossegue, mas não parecia haver problema algum no vagão dos nobres.
Ashuna sem dúvida cortou os terroristas por lá, mas parece que não tomou suas vidas. A maior parte deles estavam simplesmente amarrados e inconscientes, enquanto alguns poucos estavam no chão, meio acordados e gemendo. Ela havia rompido os tendões de seus membros—impiedosamente, no entanto precisa e eficazmente.
A julgar pelo resultado, Menou supõe que a sala de motores provavelmente foi assegurada, também.
Em breve, o trem chegaria em sua próxima parada. Muito provavelmente, Ashuna desembarcaria lá para entregar os terroristas. Menou apenas precisa ser cuidadosa para manter a astuta princesa longe dela e de Akari, uma vez que ela parece ter uma intuição aguçada.
Ela não está preocupada sobre Momo perder, é claro.
Ashuna pode até ser uma prodígio entre os cavaleiros, mas Momo é uma gênio entre as Executoras.
Ela é tão naturalmente talentosa que a Mestra que supervisionava seu monastério uma vez disse, “Não há nada que eu possa ensiná-la.” Decidindo que ela poderia seguramente confiar Ashuna à Momo, Menou se dirige à sala de motores. A fonte de poder e o sistema de condução estavam lá, então ela achou que seria melhor ter certeza de que estava tudo bem.

“Oh, uma sacerdotisa?”

As expressões tensas dos maquinistas relaxaram quando viram as vestes sacerdotais de Menou.
Terroristas acabaram de assaltar o trem. Nada incomum os funcionários ficarem nervosos com estranhos entrando na sala, mas a maioria das pessoas confia nas sacerdotisas implicitamente.
Menou sorriu gentilmente para acalmar ainda mais os nervos dos rapazes.

“Isso mesmo, por acaso eu estava no trem quando tudo aconteceu. Está tudo bem por aqui?”
“Está, a Princesa Cavaleira pessoalmente tomou conta da situação. Para uma moça tão deslumbrante, ela é muito forte!”
“Verdade, só podia ser a nossa princesa. Ela acabou com todos eles num instante. Já ouviu falar dela, Sacerdotisa? Vossa Alteza Ashuna é famosa por viajar pelo mundo e reformá-lo!”
“Sim, eu a conheço. Fico um pouco desapontada por ter perdido a chance de encontrá-la pessoalmente.”

Os homens parecem bastante orgulhosos de sua princesa enquanto vangloriam seus feitos.
Menou responde educadamente enquanto olha para os terroristas capturados. Todos os três foram amarrados juntos. O cheiro de sangue provavelmente era por conta dos tendões de seus membros cortados, assim como dos homens no vagão de primeira classe.
Como ela esperava, não havia problemas por aqui. Certamente, Momo encerraria sua batalha com Ashuna antes de pararem na estação seguinte. Uma vez que Menou terminasse de conversar com os maquinistas, ela pensou que poderia voltar para os vagões traseiros e assegurar Akari de que estava tudo bem.
E então, ela sentiu conjuração no ar.

“Pois é, queria que você pudesse ter visto a princesa lutar, Sacer—Hm? O que foi?”
“Nada...”

Menou olhou mais atentamente para um dos terroristas amarrados. Ela havia presumido que todos os três estavam nocauteados, mas um deles devia estar fingindo.
Um rastro de Luz Etérea é emitido do estômago do homem.

“Você aí. Está escondendo algo em seu corpo, não está?”
Heh-heh... Me pegou, né?”

Um dos terroristas devia ser um ex-aventureiro com uma básica noção de conjuração. Ele engoliu algum tipo de recipiente Etéreo de antemão, escondendo-o em seu estômago.
E agora ele estava prestes a ativá-lo.

“Mas é tarde demais! Se não chegarmos até Garm, seremos enforcados de qualquer jeito. Todos nesse trem irão pro inferno com a gente!”
“Eu não vou per— Hrmm?”

Sua frase de ameaça fez parecer que provavelmente o recipiente ativaria algum tipo de explosivo. Menou estava tentando determinar a natureza do item no corpo do homem desde o momento em que o detectou, pretendendo suprimir a explosão, mas então seus olhos arregalaram.

“Uma Pedra Vermelho Primário?”

Mas isso deveria ser impossível.
Menou considera um recipiente Etéreo muito mais valioso que qualquer revólver. Naturalmente, é declarado como tabu e infinitamente mais difícil de se adquirir do que qualquer arma supramencionada. E acima de tudo, requer uma habilidade muito alta de conjuração para usá-la adequadamente.
E se estava dentro de uma pessoa e foi ativado, o homem desafortunado servindo como combustível encontraria seu horrível destino.

Hunh? Sei lá qual o nome, mas... Heh-heh! Pela sua reação, deve ser uma coisa bem especial. Eu engoli só para o caso de— Abuhh?”

Enquanto o homem se gabava, sua pele de repente descolou e foi sugada para dentro de sua boca aberta.
Ele claramente não tinha ideia do que estava acontecendo. Enquanto a camada externa de seu corpo forçava seu caminho dentro de sua garganta até o estômago, tudo que ele podia fazer era olhar inexpressivamente para o rosa recém exposto de seu corpo. Seus olhos estavam cheios de dúvida.
Menou não teve tempo de impedir.
O corpo do homem foi amassado dentro de si mesmo em um instante.

“Mas que GUHHF—?”

Depois da pele, foi a carne. O corpo do homem estava sendo sugado pela Pedra Vermelho Primário em seu estômago, uma camada de cada vez.
O poder sobrenatural dentro dele rasgou as fibras de seus músculos, dobrou seus ossos em direções grotescas, e seus membros batiam para todo o lado.
Sua forma humana foi capaz de resistir apenas alguns poucos segundos.
O barulho horripilante ecoa por toda a sala.
Quando a sucção ultrapassou os limites do corpo humano, sua carne foi comprimida e seus ossos esmagados. Devia haver algum tipo de ignição automática implantada dentro dele. Os rapazes inconscientes que estavam amarrados com ele tiveram o mesmo destino. Antes de sequer conseguirem gritar, suas peles começaram a descascar e foram puxadas para o mesmo ponto.
Logo, a corda que estava segurando todos eles caiu no chão.
Incapazes de suportar a cena grotesca que acabou de acontecer bem na sua frente, os maquinistas vomitaram pela janela.
Mesmo após os corpos dos terroristas serem pressionados em uma bola de carne, o fenômeno bizarro não demonstrava sinal de lentidão. Os restos carnudos continuaram a colapsar entre eles mesmos ao ponto de liquefação. Mas nem uma gota de sangue foi derramada—tudo foi sugado para dentro do que uma vez haviam sido corpos humanos. Tudo se tornou uma completamente irreconhecível massa.
Uma vez que os restos anteriormente sólidos foram espremidos em um fluido, os ingredientes necessários começaram a se separar.
A contorcida massa de líquido lentamente se ergueu e descartou qualquer componente desnecessário. Se livrou de qualquer coisa que não fosse da cor exigida, de acordo com o recipiente que havia sido ativado.
As sobras dos ex-corpos humanos caíram no chão com um splat.
O que restou foi uma cena verdadeiramente chocante.
A cor primária vermelha extraiu-se do resto do corpo com uma espantosa vividez.
Não foi apenas o homem que ativou o recipiente que encontrou este destino. Todos os três homens foram sugados pela Pedra Vermelho Primário e usados como combustível para sua ativação. Muito provavelmente, todos os outros terroristas nos demais vagões sofreram a mesma fatalidade.
E como prova disso, mais vermelho puro começou a escoar da direção do vagão de primeira classe.

Tch!”

Se ela esmagasse a Pedra Vermelho Primário agora, todo aquele vermelho começaria a funcionar independentemente. Neste caso, o poder do recipiente seria dividido, mas os passageiros próximos às gosmas vermelhas certamente seriam devorados.
Poderia até diminuir o poder geral do receptáculo, mas se houvesse mais componentes individuais, seria muito mais difícil lidar com todos. Ao invés disso, Menou decidiu, em uma fração de segundo, de que era melhor tudo se acumular aqui em um lugar e cuidar disso de uma só vez. Ela usou o tempo de ativação restante para tirar os maquinistas da sala.

“Saiam daqui! Rápido!”
“M-mas não podemos deixar a sala de motores...!”

O homem olhou para o motor Etéreo.
Era verdade que o trem ainda estava em curso—e prestes a chegar a uma estação, ainda mais. Eles não podiam deixar a sala de motores—e por consequência, os controles e a fonte de poder—sem operadores.
No entanto, este não era o momento para se preocupar com isso.

“Está tudo bem. Se for preciso, eu tomarei controle.”
“Mas você não pode apenas—”
“Eu posso e vou!” Menou gritou para o homem com um tom ameaçador, em seguida mudou para um sorriso educado. “Por favor, confiem em mim. Sou uma clériga, uma aliada dos Plebeus, lembram? Sacerdotisas são puras, justas, e claro, fortes.”

Ela falou da forma mais tranquilizante e persuasiva possível, mantendo seu tom claro. Os homens olharam um para o outro, acenaram e saíram correndo da sala.
Após vê-los partirem, Menou voltou a focar em seu oponente.
Aproximadamente dezesseis gosmas vermelhas estavam convergindo, fundindo-se em algo maior. Uma vez extraído o vermelho dos dezesseis corpos, a Forças Etéreas combinadas ativaram o tabu recipiente, a Pedra Vermelho Primário.

Força Etérea: Fundir Materiais—Pedra Vermelho Primário, Conjuração de Selo Interno—Invocar [Vermelho Primário, Cavaleiro Blindado]

Vermelho, neste caso extraído de materiais humanos, é uma das cores que pintam o mundo. Agora a massa de pura vermelhidão criou um único soldado conjurado. Ele aponta sua espada em direção à Menou, é reminiscente de um cavaleiro de contos de fadas: uma espada, um escudo, e nenhuma lacuna em sua armadura completa. Cada componente do novo inimigo é vermelho puro e escuro.

“Então está se manifestando como um cavaleiro? Bom, suponho que seja melhor do que um anjo ou dragão.”

Menou saca sua adaga da bainha em sua coxa, agachando-se levemente em uma pose de combate.
É o que ela esperava de materiais de dezesseis pessoas, porém mais do que isso, é um inimigo que não deve ser subestimado. Este soldado conjurado tem a força equivalente ao de, pelo menos, dezesseis homens.
O soldado conjurado brande sua espada.

Ngh...!”

Menou defende o primeiro golpe com sua adaga, grunhindo com o esforço.
Foi pesado.
Sua expressão distorce com o peso do ataque, o qual a teria feito voar se tivesse acertado diretamente, mas ela ainda conseguiu rebater a espada do oponente para o lado. A força do soldado conjurado vermelho é muito maior que a de Menou, mesmo ela usando o Aprimoramento. Entretanto, suas habilidades deixam um pouco a desejar. Apesar disso, neste espaço apertado, até atacar cega e enfurecidamente com força bruta é um risco por si só.
Cada vez que o soldado conjurado se move, ele gasta Força Etérea e por consequência fica mais lento. Normalmente, a melhor abordagem seria cercá-lo em grupo e derrubá-lo, ou enfrentá-lo à distância até que se esgote.
Um oponente forte, com certeza. Qualquer sacerdotisa normal provavelmente precisaria de um grupo com pelo menos cinco pessoas para derrubá-lo.
Mas Menou, que já avaliou as habilidades do soldado conjurado em um instante, simplesmente falou com confiança.

“Sem problemas.”

A Pedra Vermelho Primário tem uma capacidade assustadora para conjuração, mas este soldado artificial não estava usando esse potencial por completo.
Soldados conjurados criados a partir de uma Cor Primária surgem com uma vasta variedade de forças. O mais forte deles possivelmente exigiria a força de uma nação inteira para ser derrotado, mas este é de uma qualidade muito menor. Muito provavelmente, o objetivo principal da arma não fosse criar um soldado, mas sim silenciar os terroristas de vazarem informação confidencial.
Menou calmamente continua desviando dos ingênuos ataques da espada do soldado.
Nesse ritmo, talvez ela possa desgastá-lo em combate a curta distância. Fora isso, tudo que ela precisa se preocupar é garantir que nenhum equipamento da sala de motores seja danificado na luta. Menou tinha acabado de estabelecer uma estratégia para ganhar tempo até o cavaleiro se cansar quando algo aconteceu.
Um objeto veio flutuando pela janela.
Era a serra de Momo, voando do lado de fora onde ela e Ashuna estavam lutando, em cima do trem.
A serra é leve. Talvez Ashuna tenha rebatido-a de suas mãos, ou Momo pode tê-la arremessado. De qualquer forma, deve ter perdido o rumo e foi trazida até aqui pelo vento.
Se fosse uma serra comum, sua aparência seria inofensiva.
O problema é que a Âncora e a Oscilação ainda estavam ativos.

“Ah!”

Ela tenta rebatê-la para fora do vagão, mas o soldado conjurado escolheu aquele exato momento para atacá-la com sua espada. Menou foi forçada a saltar para trás, e a serra aterrissou no chão da sala.
Assim que a serra rapidamente oscilante acertou o chão, ela se lançou por toda a sala de motores.

Tch!”

Menou estalou a língua, usando sua adaga para repelir a serra que voa em sua direção.
A serra rodeia o lugar erráticamente, e apesar de acertar o soldado conjurado de vez em quando, mal o arranha. Menou, no entanto, definitivamente prefere não ser acertada pela lâmina voadora de qualquer maneira.
Ela analisa a Força Etérea restante da serra saltitante e rapidamente faz alguns cálculos.
Em cerca de trinta segundos. Neste pequeno espaço de tempo, a Âncora e a Oscilação da serra cessariam.
A situação havia piorado. Ainda assim, não era ruim o bastante para Menou ficar desesperada.
Ela continuou lutando com o soldado vermelho conjurado, nunca tirando sua atenção da serra.
Justo quando ela bloqueou um ataque frontal da espada do soldado conjurado, a serra—a qual arrancava pedaços do chão e do teto toda vez que fazia contato—voou em sua direção por trás.
Praguejando seu azar, Menou carrega o selo costurado dentro de seu traje de sacerdotisa com energia.

Força Etérea: Conectar—Túnica de Sacerdotisa, Brasão—Invocar [Barreira]

A serra é repelida pela barreira defensiva que se formou em suas costas. Ela voou até o telhado, sem desacelerar. Dessa vez, a serra acertou o soldado conjurado na cabeça e ricocheteou em direção à Menou pela frente.

A serra deve ficar em Força Etérea a qualquer instante, ela pensou, desviando da mesma.

Mas então, o soldado conjurado brandiu sua espada em um ataque em sequência desnecessariamente dramático.
Ao traçar sua trajetória, ela se deu conta do seu erro.
Menou não estava em perigo. Seria simples desviar deste ataque feroz do soldado conjurado.
Mas a válvula de freio do motor estava bem na trajetória da espada vermelha.

“Nã—”

Menou tentou correr em sua direção, mas ela não poderia detê-lo. O cavaleiro é fisicamente mais forte que ela. A menos que sua postura fosse perfeita, ela não seria capaz de bloquear o ataque.
A espada vermelha cortou diretamente a válvula de freio da sala de motores.

“Maldito fantoche imbecil!”

Menou disparou xingamentos contra o soldado conjurado sem pensar.
Com a válvula de freio quebrada, o trem havia perdido a habilidade de parar com segurança. Menou estava lutando cautelosamente para evitar de danificar o motor, mas a serra a distraiu momentaneamente. E o tamanho exagerado dos golpes do soldado conjurado descartou seus cálculos—não, ela não podia inventar desculpas. Isso foi uma falha massiva de sua parte.
Clank. Muito atrasada, a serra finalmente ficou sem força Etérea e caiu no chão.

“Ah, droga...!”

Engolindo sua frustração, Menou forçou a si mesma a pensar. Reclamar não resolveria nada. Suas prioridades mentais mudaram do soldado conjurado para a segurança do trem em si, procurando por uma solução.
Um trem que não pode desacelerar está em um terrível dilema.
Se ele continuasse em movimento sem desacelerar, no melhor, eventualmente se descarrilaria ao fazer uma curva rápido demais, e no pior, poderia colidir com outro trem. De qualquer modo, os passageiros não sairiam ilesos da situação.
Mas não era tarde demais.
Primeiro, ela precisa chamar a Momo. Não, a essa altura, elas realmente deveriam pedir ajuda à Ashuna. Menou não tem mais o luxo de tentar esconder sua identidade. Com três pessoas habilidosas, haveriam bastante opções para parar o trem.
Menou continuou lutando contra o soldado conjurado enquanto pensava em um plano, quando de repente—
De canto de olho, ela viu Ashuna cair do trem e Momo pulando atrás dela.

“Por quê...!?”

Por que justo agora? Menou pensou inicialmente, mas na verdade era o oposto.
Isso aconteceu porque Menou estava lutando na sala de motores. Momo deve ter notado sua presença e rapidamente chutou Ashuna para fora do trem antes que a luta naquela sala pudesse chamar a atenção da princesa.
Não foi uma má decisão por parte da Momo; de fato, Menou também não queria se encontrar frente a frente com Ashuna. E não tinha como Momo saber que o sistema de freio do trem havia quebrado.
Talvez fosse possível com a ajuda de Momo e Ashuna, mas não havia maneira de Menou parar o trem sozinha.
Ela simplesmente não tem Força Etérea suficiente. O abastecimento interno de Menou é maior que a média, mas não chega nem perto do de Momo ou Ashuna.
Pedir ajuda aos maquinistas, então? Não, eles não seriam úteis.
Seria possível reparar a válvula de freio? Não, não teria tempo o bastante. O que mais ela poderia fazer? Como ela poderia parar o trem sem usar conjuração? Ela conseguiria pelo menos descer os passageiros em segurança?
Analisando cada uma das possibilidades e as descartando uma por vez, Menou foi forçada a chegar a uma terrível conclusão.
Era impossível. Ela não conseguiria parar o trem. Se nenhum milagre acontecesse, o trem bateria e as pessoas morreriam.
O sorriso da pequena menina que elas confortaram na plataforma lampejou em sua mente.
Será que aquela garotinha que Akari curou ainda estava em algum lugar deste trem?

“......”

Menou rangeu os dentes, frustrada com sua própria impotência.
CLACK. Houve um som que de alguma forma não agitou o ar.
O som do mundo saindo dos trilhos.


*



Ha-ha-ha! Até que você não é ruim, Momo!”

Momo franziu a testa com a risada surpresa que recebeu quando aterrissou após saltar do trem.
Ela sacrificou uma serra para distrair Ashuna o bastante para chutá-la para fora, mas Ashuna parecia estar em perfeitas condições. Até mesmo suas roupas, embora estivessem um pouco sujas, não demonstravam arranhão algum. A Princesa Cavaleira estava rindo, ainda em postura de batalha.

“Você está ilesa depois de cair de um treeem? Muito estraaanho... Se pelo menos tivesse morrido.”
“Heh-heh. Será preciso mais que uma quedinha para superar os resultados do meu treinamento. O mesmo vale para você, hein, Momo? Muito impressionante.”
“Não me compare a vocêêê, Princesinha. Faz eu me sentir péssima comigo mesma. Você é tão esquisita que eu já estou começando a sentir enjoo. Já posso iiir?”

Haviam alguns arranhões na espada real de Ashuna, mas certamente nenhum dano significativo. Momo puxou sua segunda serra de sua minissaia.
De repente, ambas mudaram a atenção entre si para a área ao redor delas.

“O que foi iiisso...?”
“...Que estranho.”

As duas foram assoladas por uma compulsão tão poderosa que parecia ser mais importante encontrar a fonte do que continuar lutando. Elas congelaram ao mesmo tempo, então notaram que a outra estava experienciando a mesma sensação esdrúxula.
O que elas sentiram foi uma bizarra mudança de sentidos, como se suas entranhas estivessem flutuando por um breve instante.
Foi como se todo o espaço ao redor delas tivesse levantado e caído exatamente no mesmo lugar. Naquele momento, antes de tudo voltar à onde pertencia, a transição sacudiu suas mentes. Foi uma sensação bizarramente impossível, difícil de descrever mais precisamente que isso. E mesmo assim, nada no mundo parecia ter mudado de uma maneira óbvia.
Até mesmo as duas mulheres que estavam sorrindo durante todo seu combate mortal ficaram levemente abaladas.
Ambas murmuraram as mesmas palavras de uma vez.

“Isso foi...medonho.”

O trem continuou seguindo os trilhos, ficando cada vez mais distante do par que havia pausado sua batalha. A Luz Etérea emitida pelos motores lança faíscas no ar.
Nem Momo ou Ashuna notaram que os rastros de luz deixados para trás estavam misturados com um brilho levemente diferente daquele gerado pelo motor do trem.


*



Menou sentiu a mesma sensação desconfortante que o par o qual não estava mais no trem.

“O que foi isso...?”

Ela franziu as sobrancelhas enquanto continuava se defendendo da espada do soldado conjurado.
Foi inquietante, como se ela tivesse visto um relógio funcionando normalmente, e repentinamente ele começasse a girar ao contrário sozinho. E mesmo se alguém desmontasse o relógio e inspecionasse cada peça, não haveria nada fora de ordem, nenhuma causa para ser encontrada. Eventualmente, a pessoa assumiria que este sentimento foi um mero truque da imaginação e esqueceria tudo.
Esta foi a transição que ela sentiu.
Mas neste caso, Menou não precisou procurar pela causa.

“Menou!”
“Hã?”

Ainda se sentindo inquieta, Menou continuou lutando contra o cavaleiro quando escutou uma voz atrás dela.
Uma garota estava correndo em sua direção, vindo do vagão seguinte.

“Akari!? Por quê!?”

A garota de cabelo escuro se aproximando, inchando seus seios ao arfar, era inequivocamente Akari. Ela parece estar sem fôlego, tendo aparentemente corrido por todos os vagões até chegar aqui.
Menou congelou por um momento, surpresa.
O soldado conjurado aproveitou aquele momento para atacar. Mas em vez de Menou, ele mirou sua espada na convenientemente indefesa Akari.

Wah?!”
“Cuidado!”

Menou bloqueou o golpe da espada vermelha por um triz.
Ela pulou na frente de Akari no último segundo para protegê-la. Aparando o poderoso ataque do oponente, ela carregou um dos brasões em sua adaga com poder.

Força Etérea: Conectar—Adaga, Brasão—Invocar [Vendaval]

Um poderoso vento irrompe da adaga e açoita o soldado conjurado, arremessando-o contra a parede do vagão.
Momentos depois, no entanto, o cavaleiro se ergueu novamente como se não tivesse sofrido dano algum. De fato, o dano foi mínimo; um soldado conjurado que se regenera imediatamente a não ser que seu núcleo seja quebrado.

“O-obrigada, Menou. Estou feliz por você ter me protegido. Você é tão forte! Mas o que é essa pessoa vermelha!?”
“Esqueça isso! Por que veio até aqui!? Me diga! Por quê!?”

Menou não tinha tempo para as perguntas tolas de Akari. Sem pensar, ela gritou com Akari furiosamente.
Francamente, a presença de alguém com habilidades de combate nulas, como Akari, não seria nada além de um estorvo. Não seria um problema se ela testemunhasse a batalha, mas ter que protegê-la atrasaria Menou.

“E—então, é que, os caras que estavam amarrados de repente foram esmagados, e aí os restos viraram uma gosma vermelha que veio nessa direção...!”
“E isso é motivo para persegui-lo, por acaso!?”

A visão de corpos humanos se tornando materiais vermelhos é certamente incomum, mas ver isso e decidir seguir o borrão vermelho foi uma escolha ousada.

“Eu falei para você se comportar e esperar, não falei!? Você não me escuta? Ou você faz por malícia mesmo!?”
“Quê!? Nenhum dos dois! Eu sou uma boa garota que estava preocupada com você, só isso! Você não deveria estar admirada, pelo menos!?”
“Não seja ridícula!”

Ela é mais atrevida do que eu esperava, pensou Menou, com sua frustração se elevando.
As coisas não poderiam estar piores.
O soldado na frente delas absorveu materiais de corpos humanos, usando o poder acumulado para atacar furiosamente. E ainda possui a habilidade de repôr a energia que gasta dos seus arredores. O vermelho dos corpos humanos era uma coisa, mas se aquilo absorvesse a Força Etérea de um Puro Conceito, como o de Akari, não se sabe o que poderia acontecer.
Se Menou tivesse sorte, a habilidade de Akari poderia sofrer uma anomalia. No melhor dos casos, talvez ela não pudesse ser mais capaz de reviver. Isso tornaria o trabalho de Menou mais simples.
Mas se ela tivesse azar, elas teriam que lidar com uma máquina mortífera conjurada imbuída com o Puro Conceito de Tempo.

Aaargh! Sério, por que você tinha que vir até aqui!?”
“M-me desculpa! Não chore, Menou!”
“Ah, cale-se!”

A situação estava ficando tão fora de controle que lágrimas começaram a brotar dos olhos de Menou, mas ela não queria ser confortada pela fonte dos seus problemas. Enquanto ela tenta desesperadamente pensar em uma solução para esse último desastre, o soldado conjurado continua atacando. Akari berra atrás delas. Ela não tem um meio para parar o trem. A combinação da ameaça óbvia e o absurdo otimismo da garota provaram isso à ela.
Até que algo estala dentro de Menou.

“Já chega! Tome isso!”

Em um momento de frustração, Menou arremessa sua adaga no soldado conjurado.

Força Etérea: Conectar—Adaga, Brasão—Dupla Invocação [Fio Etéreo, Vendaval]

Assim que a adaga deixou sua mão, ela ativou ambos os brasões. Um fio se forma ao redor do pomo da adaga, conectando-o à mão de Menou. Ao mesmo tempo, a força do vento produzida pelo outro brasão acelera a lâmina, impulsionando-a até a armadura do soldado conjurado, e atravessando-a.
Agora ela tem a rota que precisava.
Não era o método ideal, mas a repentina aparição de Akari significava que Menou não poderia dispor de mais tempo. Menou lançou seu próprio poder fluindo pelo fio que se estende da adaga até a sua mão.

Força Etérea: Conectar (via Fio Etéreo)—Pedra Vermelho Primário, Cavaleiro Blindado—Invasão Externa

O poder de Menou flui pela adaga, perfurando o soldado conjurado, forçando seu caminho para o interior. Os movimentos do soldado conjurado congelaram por apenas um momento.
Mas então uma poderosa resistência lança a energia de volta para ela.
O aparato sem alma estava equipado com um mecanismo de defesa para revidar contra a tentativa de intrusão. Agora estava usando-o para refletir a Força Etérea de Menou.
Ela já esperava por alguma resistência, obviamente. Se ela tivesse apoio, ela poderia confiar nessa pessoa para destruir o núcleo enquanto o soldado conjurado estivesse congelado por um momento, mas é claro que ela não poderia pedir isso à Akari. Em vez disso, ela continuou a empurrar Força Etérea contra o soldado conjurado enquanto também carrega sua escritura.

Força Etérea: Conectar—Escritura, 10:9—Invocar [Enquanto um desejar boa fortuna, outro herdará tua infelicidade.]

A dupla ativação dos brasões e a conjuração da escritura combinaram-se para alterar os mecanismos dentro do soldado conjurado.
Esta técnica é altamente avançada, utilizando três tipos completamente diferentes de conjuração de uma vez. Mas até Menou, que apresenta controle excepcional sobre seus poderes, não consegue se manter facilmente.
O rosto de Menou fica distorcido com a dor. Seu cérebro está operando em capacidade máxima, pulsando tão rapidamente parecendo que seus nervos pegarão fogo. Suor é derramado de todo o seu corpo sob a tensão de puxar e manipular tanto poder. Esse tipo de proeza não é daquelas que pode ser sustentada por muito tempo. Se ela continuar, sua alma e espírito serão drenados até secarem.
Apesar de tudo, Menou range os dentes e pressiona com foco total.

Huff... Nnnngh!”

Seu tecido cerebral parecia estar queimando.
Ela estava confrontando a torrente de poder que o soldado conjurado estava enviando de volta para ela. Ele está tentando quebrar a parede de fricção no qual se encontra o próprio poder de Menou. Se sua escritura, que estava formando uma barreira protetora, falhasse, então sua energia inundaria o corpo e espírito de Menou, e provavelmente a destruiria.
Mas antes que isso pudesse acontecer, acabou.

Alteração de Conjuração—Ordenar [Auto-Destruição]

Sua ordem foi passada.

“Issoo!”

O soldado conjurado resistindo violentamente derreteu, perdendo sua forma. Menou não desperdiçou tempo e pisou na pedra vermelha que formava seu núcleo, esmagando-o.

“Ahhh...!”

Uma vitória perfeita. Ainda assim, Menou não celebrou—ela apenas olhou para Akari.
Ela queria poupar energia para tentar parar o trem, mas por conta daquele último choque de poder, Menou drenou mais da metade da sua energia restante.

“Akari, sua idiota... Se você não tivesse vindo, eu não precisaria ter me esforçado tanto...!”
“D-desculpa. Eu não sei bem o que eu fiz, mas eu sinto muito. Acho que eu meio que te atrapa— Oof!”
“Bas! Tan! Te!”

Menou belisca as bochechas de Akari, frustrada.

“Mas sua punição terá de esperar. Estou muito atribulada agora.”
“Quê—?! Não foi só esse beliscão!?”
“Isso não foi nem a metade!”

Menou desistiu de punir Akari por ora e virou em direção ao motor. Embora odiasse admitir, a intervenção de Akari a fez ganhar um pouco mais de tempo.
Inspecionando rapidamente o estado do motor, Menou despenca os ombros.

“Eu sabia...”

A válvula de freio estava quebrada, além de qualquer esperança de reparo.
Confusa com o estado cabisbaixo de Menou, Akari ansiosamente espiou sobre seu ombro.

“Ei, Menou, algum problema? Essa coisa parece detonada.”
“Sim, para ser sincera... Ah.”

Menou não podia mais esconder. Justo quando ela estava se preparando para contar a Akari sobre o iminente acidente de trem para que ela pelo menos ficasse ciente, ela se deu conta de uma coisa.
Ela levantou sua cabeça e olhou fixamente para Akari.

“Hm, o que foi, Menou? Hee-hee. Não me olhe assim! Me dá vergonha! Eu sou tão fofa assim pra você me encarar desse jeito? Bom, erm, eu também te acho muito bonita!”

Akari evidentemente estava nervosa por estar sendo observada tão diretamente, mas isso não importa agora. Menou ignorou sua tagarelice e ponderou sobre as habilidades especiais de Akari.
Menou não tem poder suficiente para parar o trem...mas e uma Ádvena com uma excepcional aptidão de conjuração?

“...Akari.”

O plano é profundamente falho.
Ainda assim, Menou hesitou por apenas um momento.

“Você confia em mim?”
“É claro.”

A resposta foi imediata.
Akari nem questionou porquê Menou perguntaria algo assim.

“Nem precisa me perguntar. Eu acredito em você, Menou!”

Akari sorriu brilhantemente, com um nível quase bizarro de fé.


*



Em cima do trem, Menou aperta bem os olhos com a veloz passagem de cenário enquanto seu rabo de cavalo balança fortemente atrás dela.
Mais a frente, ela consegue enxergar a próxima parada. Ainda era um mero pontinho ao longe, mas elas estavam se aproximando a cada segundo conforme aceleravam sobre os trilhos. Normalmente, o trem estaria desacelerando a essa altura para estar de acordo com o horário de serviço, mas no momento ele não é nem um pouco capaz disso.
Ela pediu aos maquinistas para parar o motor Etéreo, mas agora que o trem havia alcançado tanta velocidade, seria bem difícil fazê-lo parar completamente sem freios. Eles ainda não tinham descarrilado, uma vez que não se depararam com curvas muito significativas até então, mas por conta do trem não ser capaz de ajustar sua velocidade como deveria, já estava começando a alcançar o trem que estava à frente dele.
Nesse ritmo, eles bateriam naquele trem assim que chegassem à estação.
A única maneira de salvar a vida de todos os passageiros, era forçar o trem a parar.

“M-M-M-Menou?”

Menou encara o horizonte seriamente, enquanto as pernas de Akari tremem de medo. Ela também estava em cima do trem, com seu cabelo abanando ao vento, mal segurando sua saia com uma mão.

“Sério, isso dá muito medo! Por que estamos aqui em cima!?”

Os olhos de Akari estavam cheios de lágrimas. Menou encolhe os ombros.

“Esta é a forma mais fácil de enxergar o que há mais a frente.”
“Mas, Menooou! Eu não acho seguro subir no teto de um trem sem grades nem nada! É apavorante!!”
“Sim. Isso é uma emergência. Eu sei que está com medo, mas por favor se acalme.”
“Eu não consiiigo! E seu rosto também está muito assustador agora. Cá para mim, eu gosto ainda mais de você quando está sorrindo!”

Menou não conseguia evitar de sorrir um pouco com a patetice semi-berrante de Akari.

“Vai ficar tudo bem. Aqui, segure minha mão. Melhorou?”

Menou sorriu gentilmente e segurou sua mão, e o rosto de Akari mudou de uma expressão de medo para um brilhante sorriso.

Hee-hee, eu sabia. Você é mais fofa quando sorri, Menou!”
“Obrigada, eu suponho. E seu sorriso é impressionantemente cabeça-oca.”
Hm? Isso foi um elogio?”
“É claro que foi.”

O humor de Akari melhorou instantaneamente quando elas deram as mãos, então Menou deu mais um sorriso e então voltou sua atenção para o trem.
O trem é um amontoado de ferro capaz de carregar centenas de pessoas. Elas precisam pará-lo— e sem ferir ninguém.
Naturalmente, realizar isso sozinha seria extremamente difícil. Não seria impossível com uso suficiente de conjuração, mas o problema é que Menou não tem nem o mínimo de Força Etérea para cancelar a energia cinética do trem em movimento.
É aí que Akari entra.

“Então, como eu estava dizendo, eu pegarei seu poder emprestado para usar conjuração e assim parar o trem.”
“Certo.”

A ideia de Menou é extrair os poderes de Akari e assim cobrir o poder que lhe falta.
Sendo uma Ádvena, Akari possui uma incrível reserva de energia. Sua qualidade e quantidade devem ser mais que o suficiente.
Entretanto, não será fácil.
Por um motivo, Akari não é capaz de controlar sua Força Etérea minuciosamente. Seu uso de conjuração é praticamente inconsciente, e a única maneira dela poder controlá-lo é com seu Puro Conceito de Tempo.
Então Menou será quem dirigirá a conjuração de Akari. Esta é parte da razão dela ter oferecido sua mão à garota.

“...Sinto muito. Só para o seu conhecimento, pode doer um pouco.”

A energia é produzida pela alma, controlada pela vontade e se torna uma com o corpo.
É relativamente fácil manipular algo como o soldado conjurado, que não possui alma ou espírito, mas apesar disso, a resistência torna isso mais difícil.
Sob circunstâncias normais, muitas pessoas não são compatíveis com o estado mental de outras. Seus corpos, almas e espíritos se rebelam contra a presença de outra Força Etérea. Tanto o alvo quanto o intruso experienciam a mesma resistência natural.
Portanto, normalmente é impossível controlar a Força Etérea de outra pessoa.
A única forma de realizar isso, seria quebrando a alma e espírito da outra pessoa para reduzir sua resistência, ou compartilhando uma confiança mutuamente forte. Na primeira abordagem, ainda restaria a resistência do corpo, mas a segunda requer um laço de completa e absoluta confiança uma na outra.
Certamente não é um método recomendado para pessoas que se conheceram há apenas dois dias.
Mas não é impossível.
Menou está apostando na extraordinária e imerecida confiança que Akari demonstra por ela.
E para a própria Menou, isso não será problema.
Quando toda sua cidade natal se tornou branca e caiu por terra, Menou perdeu quase tudo de si mesma. Como a linha entre ela mesma e as pessoas ao seu redor uma vez já foi obscurecida por completo, ela pode facilmente conectar sua energia a outras pessoas.
Akari parece um pouco perturbada com a explicação de Menou, mas ainda assim acenou.

“Eu não quero sentir dor, mas... Tenho certeza de que tudo vai ficar bem desde que eu esteja com você, Menou.”
“Obrigada. Isso me ajuda imensamente... De verdade.”

Com isso, Menou carrega sua escritura com poder.

Força Etérea: Conectar—Escritura, 1:2—Invocar [Enterre a estaca e torne conhecida a terra onde tudo terá início.]

Um momento depois, o poder passou do topo do trem até o chão, descendo ainda mais fundo, integrando uma carga de energia na veia da terra abaixo dos trilhos.
O primeiro passo foi um sucesso. Menou ainda não precisou usar a energia de Akari.
Quase sem poupar um momento para respirar, Menou continuou a enviar poder fluindo pela da escritura.

Força Etérea: Conectar—Escritura, 8:12—Invocação Remota [Ajoelhe-se perante o portão, pois é a senda para o Senhor.]

Um portão de luz se formou nos trilhos atrás do trem, onde o mesmo já havia passado.
Ao invés de usar a si mesma como alvo, Menou ativou a conjuração na área onde ela havia acabado de enterrar a carga de energia na veia terrena.
Uma vez tendo se formado rapidamente sobre os trilhos atrás do trem, o portão de luz se abriu lentamente.
Isso criou um poderoso efeito que parecia puxar tudo ao alcance do portão aberto.
O portão de luz é um tipo de conjuração usado para capturar coisas. Como estava tentando puxar o trem, que foi designado como o alvo, o poder reluziu em forma de faixas de luz, arrastando o trem na direção do portão.
O puxão da luz desacelerou o trem levemente. Porém, o efeito foi tão fraco que mal podia ser notado. A Força Etérea restante de Menou é drenada muito mais rápido do que poderia desgastar a energia do trem em alta velocidade.
Mas mesmo enquanto a energia de sua alma é drenada, Menou se mantém calma.

“Agora, Akari.”
“...Tá!”

Akari fecha os olhos, talvez se preparando para a dor.
O mais delicadamente possível, Menou inseriu os últimos resíduos de sua Força Etérea em Akari através de suas mãos interligadas.

Força Etérea: Conectar—Akari Tokitou—

Praticamente não houve resistência.
Surpresa com a suavidade da conexão, Menou continuou seu caminho pelo espírito de Akari até sua alma, e então estremeceu.
Havia algo ali.
Era algo estranhamente nostálgico mas inegavelmente diferente. Concentrado dentro de Akari, estava algo vasto que deveria ser onipresente neste mundo, mas não no interior de uma pessoa.
Menou sentiu um calafrio na espinha.
A “coisa” sobrenatural que estava fazendo seu sangue gelar era um Puro Conceito. Era tão vasto, profundo e aterrorizante que até mesmo encostar nele, deixava claro que um humano nunca deveria tocar naquilo.
Com a cautela de um equilibrista, Menou delicadamente isolou o poder brotando na superfície do corpo de Akari, tomando cuidado para não tocar o Puro Conceito em sua alma.

Extrair [Poder]—

“...Ah!”

Os ombros de Akari tremem. Suas bochechas fervem, e ela solta um suspiro morno.

“Ah... A Menou está... Ngh. Dentro de miiim...”
“Se importaria em não fazer disso algo tão estranho...?”

As reações de Akari soam desnecessariamente sensuais.
Enquanto Menou continua mantendo sua conjuração remota, ela estreita os olhos para Akari, que fica cada vez mais corada.

“M-maaas...faz...cócegaaas...”
“...Bom, fico feliz de não ser mais doloroso que isso.”

Diferente da abordagem usual de Momo, a voz de Akari tem um tom natural de sedução que Menou se esforça para ignorar.
Normalmente, se alguém tenta controlar a energia de outra pessoa, não seria inusitado se ambas acabassem sentindo extrema dor. É um processo que envolve tocar não apenas o corpo, mas o espírito, e às vezes até a alma. É comum reagir desagradavelmente ao estar tão profundamente conectado, então reações extremas são normais.
Enquanto Menou está acostumada ao seu próprio corpo, alma e espírito não apresentarem resistência, Akari está aceitando a intrusão do poder de Menou com uma falta quase assustadora de resistência.
Felizmente, sua reação não foi nada além de “cócegas,” mas isso deve ser graças ao fato de que a confiança de Akari por Menou simplesmente é profunda a esse ponto.
Do fundo do seu coração e das profundezas de sua alma. Tanto que Menou é capaz de atravessar diretamente seu corpo e alma.
Naquele exato momento, Menou consegue sentir por ela mesma a fé de Akari nela.
Ela não tem ideia do porquê essa garota consegue confiar-se à Menou tão completamente.
Mas como uma Executora, é natural que ela faça uso dessa confiança da forma que puder. Menou se concentra ainda mais intensamente.

—via Menou—Força Etérea: Suplementar—Manter Invocação [Ajoelhe-se perante o portão, pois é a senda para o Senhor.]

O portão de luz que havia se formado muito distante atrás delas, cresceu exponencialmente.
Estava ficando menor conforme desaparecia ao longe, mas agora subitamente aumentou de tamanho. A transformação foi tão rápida que tornou difícil medir a distância, mas não foi apenas o repentino crescimento do portão que havia mudado.
O trem estava desacelerando tão rapidamente quanto se estivesse usando freios de emergência.
O recuo lançou seus corpos na direção oposta do trem em movimento. Menou prontamente recuperou o equilíbrio e puxou Akari para perto para prevenir que a garota caísse. Claro, ela fez isso sem perder o foco ou interromper a conjuração. Com a sutileza de uma aranha tecendo uma teia delicada, ela usou o poder extraído de Akari para mantê-la.
É difícil manter uma conjuração criada usando a veia terrena remotamente. A conjuração tem que ser imensa o bastante para cancelar a energia cinética do trem, mas também delicada o suficiente para que não arremesse o trem para fora dos trilhos. E o mais distante que elas ficam da área onde a conjuração havia sido instalada, mais complicado é mantê-la.
Menou sente como se seu corpo pudesse se partir em dois. Enquanto absorve poder muito além do seu nível de tolerância, ela o controla mais precisamente do que nunca havia antes. O cabo de guerra entre essas duas demandas impiedosamente desgasta o espírito de Menou.

“Ah...nngh...”

A pressão sobre a vontade de Menou é tão forte quanto a força parando o trem. Mesmo ultrapassando os limites de sua habilidade em absorver energia, ela forçou seu corpo a suportar a dor.
O trem estava gradativamente perdendo velocidade. Quase lá. Enquanto sua consciência ameaçava se despedaçar, Menou olhou para frente do trem sem mover nada a não ser os olhos. A estação estava perto. Ela podia ver o outro trem que já estava parado lá. Menou tensiona seu espírito e convoca ainda mais poder. Elas não iriam bater, não importa o que acontecesse. Ela apertou seu maxilar o suficiente para rachar um dente. Não havia tempo nem para respirar. Ela tinha que continuar controlando a conjuração todo o caminho até o limite.
Cada vez mais lentamente, as rodas estavam parando—e finalmente, o trem parou.
O temido impacto da batida nunca veio.

“Aaaah!” Menou arfa por fôlego.

Ao lançar feitiço, seu corpo inteiro ficou ensopado de suor. Ela começou a respirar novamente, inconscientemente parando no meio do caminho. Toda vez que ela inala, seus pulmões incham.<  Sua visão estava oscilante—ela devia estar com falta de oxigênio.
Conforme ela estabiliza lentamente a respiração, sua visão volta ao normal.
Menou olhou para frente.
Havia menos de um vagão de distância entre ambos os trens.
Aplausos eclodem dentro dos vagões. Eram dos passageiros, maquinistas, ou todos juntos? Independente disso, eles foram salvos, e seus gritos de celebração ecoam.
Os ombros de Menou afundam. Liberada de toda a tensão ao qual estava presa, ela caiu e se viu apoiada por alguém.
Era Akari.

“Você conseguiu, Menou!”

Dessa vez, é Akari que está segurando Menou, com um abraço bem apertado.

“Eu sabia que você conseguiria. Você salvou tooodas as pessoas no trem. Você é a melhor sacerdotisa que já existiu!”
“Se você diz.”

Acenando distraidamente para a empolgação de Akari, Menou olha para baixo, com sua expressão suavizando. Os condutores de trem e demais funcionários estavam confirmando a segurança de todos os passageiros, ajudando-os a descer dos vagões, e escoltando-os até a estação.
A menina que elas tinham encontrado na plataforma estava entre eles. De alguma forma ela notou Menou no teto do trem e acenou as mãos com um sorriso inocente.

“Aquela menininha também está segura. Tudo graças a você, Menou.”
“...Mm, suponho que sim.”

Acenando de volta com um sorriso, Menou demonstra um sinal de timidez em sua postura.

“Uma sacerdotisa deve ser pura, justa e forte, afinal.”

Mesmo se fosse apenas uma atuação...Menou estava feliz de<  poder orgulhosamente dizer que salvou pessoas.

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