Prólogo
???: “O que é isso!? Esse cabelo e esses
olhos... Que repugnante!”
As primeiras
palavras daquela nova mãe são cheias de desprezo, seu rosto se contorce como se
ela estivesse vendo um monstro repugnante.
Desde um herói que
empunha uma espada santa até um dragão que governa o continente inteiro por
medo, dos inigualáveis gênios que desenvolveram a economia de uma nação inteira
com uma astuta invenção à vampiros que governam as ruas durante a noite, muitos
mitos e lendas moldam esse mundo. Mas para a aristocracia do império, nada é
mais aterrorizador do que a Lenda acerca do Demônio dos cabelos brancos.
Três séculos
atrás, uma revolução contra os excessos e a crueldade da nobreza se espalhou
pela terra, ao ponto de manter dois terços do país em seu controle. A aparência
do seu líder era uma visão assustadora; cabelos brancos como a neve e olhos de
cores diferentes.
Esse Herói do povo
forçou a nobreza a chegar a um difícil acordo de paz. Esse Demônio dos cabelos
brancos forçou a aristocracia a desistir de seus direitos e privilégios
anciães.
Embora a
aristocracia tenha sobrevivido à revolta, eles nunca esqueceram a humilhação da
derrota. Até o dia de hoje, qualquer criança com cabelos brancos ou
heterocromia é tratada como uma víbora no berço, não importando qual seja sua
verdadeira personalidade ou habilidade.
É em uma das
maiores famílias nobres do império, a casa dos Earlgrey, que uma criança nasce.
Com olhos vermelho e azul e cabelos brancos, seu nome é Shirley Earlgrey.
Possuir não uma, mas ambas das odiosas características fazem de Shirley uma
criança amaldiçoada desde o início, sendo tratada como uma cobra, apesar de seu
alto status como uma mulher nobre.
Mesmo os nobres
abaixo dela zombam e maltratam Shirley. A muito tempo atrás, a aristocracia
simplesmente abandonava crianças que são doentes, feias ou simplesmente não são
de seu agrado. No entanto, desde a revolução, nobres são submetidos às mesmas
leis que os plebeus.
Mas para Shirley,
talvez ser deixada de lado pela nobreza poderia ter sido uma benção disfarçada.
Ela nunca foi
chamada pelo nome, sempre chamada de Demônio dos cabelos brancos ou Monstro.
Não tem nenhum dos privilégios das outras garotas nobres, sempre vestida em
trapos e dada restos para comer, bem longe da sala de jantar da família. Se ela
cometer um erro, será espancada sem piedade. Se for pega pelos olhos de alguém
de mau humor, ela é chutada ou desprezada. Membros de famílias que são
supostamente vassalos dos Earlgrey a tratam como se ela fosse um animal, e os
servos da família nunca interferem no seu tratamento.
Mesmo que ela
tenha crescido sob tais condições, a cada dia ela, de alguma forma, só se torna
cada vez mais linda, como se isso representasse, em proporção, o inverso do
tratamento que ela recebe.
Seus cabelos
brancos trazem o brilho da neve fresca, e aqueles olhos vermelho e azul
cintilam como se fossem pedras preciosas. Talvez devido ao deprimente futuro
que ela inevitavelmente encara, sua beleza é como uma passageira lua, algo
fantástico que parece se despedaçar ao menor toque.
É Alice quem mais
insulta sua aparência, mas na realidade, ela queima em ciúmes do quão bela sua
irmã mais velha, Shirley, está se tornando. Embora muito bonita, a beleza de
Alice se empalidece em comparação à da Shirley. Mesmo tendo nascido dos mesmos
pais, é Alice quem mais utiliza as oportunidades para atormentá-la.
Alice: “Oh, eu sinto muitíssimo, [Irmã]. Parece
que deixei cair sua refeição”
Dia após dia, a
violência e crueldade da Alice direcionada à sua irmã se torna mais ousada
conforme Shirley cresce ainda mais atraente. Ela constantemente comete atos
mesquinhos, como forçar Shirley a comer no chão depois de [acidentalmente]
deixar a sua refeição cair, ou ataca-la com uma espada de madeira, com a
desculpa de [praticar esgrima]. Coisas que vão mais longe do que simples
brincadeiras.
É a pura definição
de malícia, infligir constantemente tal crueldade em alguém que não fez nada de
errado e não tem meios de se defender. Mesmo que seja cruel, aqueles olhos
estranhos e brancos cabelos são tratados como testemunho da sua culpa, e
qualquer que seja o ato que Alice cometa, é perdoado.
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Shirley se cansa
da vida aos onze anos.
Um dia, abraçando
seus joelhos, quietinha, no canto do jardim, em esperança de simplesmente
desaparecer, ela ouve a voz de um garoto que não conhece.
Garoto: “Hey, você, o que você está fazendo em tal
lugar?”
O Príncipe
Herdeiro, Albert Ragdoll. Esse é o nome e posição do garoto.
Também com onze
anos, como Shirley, o garoto veio visitar o Duque com seu pai, o Imperador, e
está explorando a mansão quando a avista completamente ao acaso.
O garoto é pego
por sua beleza estonteante no momento em que ela levanta sua cabeça para olhar
para ele. E depois de ouvir sobre as razões de sua aparência esfarrapada e a
exclusão sendo feita a ela por sua própria família devido aos seus cabelos e
olhos, ele pega a mão da Shirley e corre ao Imperador.
Albert: “Pai! Eu decidi pegar a Shirley como minha
noiva!”
E então, é no
impulso do amor à primeira vista, que o noivado é inesperadamente aceito. Tais
feições que são odiadas pela aristocracia, são vistas favoravelmente pelo
Imperador. Antes da Revolução, o Imperador era somente um fantoche na mão dos
oligárquicos nobres. Quando aquele Herói com cabelos brancos tomou o país, ele
retornou o Imperador ao seu poder verdadeiro.
Embora a sua falta
de etiqueta nobre e educação sejam um problema na sua idade, Shirley está
disposta a praticar até o ponto de sangrar para poder dominar tais coisas pela
primeira pessoa que lhe mostrou amor e gentileza desde que nasceu.
Durante oito anos
inteiros... ela foi feliz.
Como noiva do
Príncipe Herdeiro, ela ficou bem fora do alcance das mãos atormentadoras da sua
família e especialmente sua irmã, e então Shirley cresce para se tornar uma
mulher de tanta inteligência quanto beleza irreal.
Ela também entende
a [dor] melhor do que qualquer um na família real, já que ela teve que passar
por tal [dor] durante toda sua vida antes de vir para a capital. Sua natureza
filantrópica e reputação de ser gentil com plebeus e servos do castelo, a faz
incrivelmente popular, e ela se torna de confiança, implicitamente, tanto do
Imperador quanto da Imperatriz. Sua relação com Albert também permanece forte,
e quando eles se consumaram na noite antes da cerimônia de casamento, ela se
sente mais feliz do que nunca.
No entanto, o
conto da Cinderela está a ponto de se rasgar sob um cruel auspício da malícia.
Depois de longos
oito anos, a inveja da Alice se torna algo similar a uma louca obsessão.
Aquela irmã mais
velha que sempre a desprezou secretamente, agora vai ser um membro da família
real?
E pior de tudo,
ela é uma irmã mais velha cheia de astúcia vil e baixa, que roubou Albert dela,
mesmo que ela tenha amado ele primeiro.
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Albert: “Eu, por meio destas palavras, anulo meu
noivado com Shirley Earlgrey, e anuncio meu novo noivado com a irmã dela, Alice
Earlgrey!”
Devido a várias
circunstâncias, Albert e Shirley passaram cada vez menos tempo juntos conforme
os anos passaram. Embora Shirley não tenha sentido nenhuma ansiedade sobre não
estar constantemente ao lado do Albert, uma vez que eles já estavam formalmente
comprometidos e ela considera seu relacionamento como bom, contudo, conforme o
tempo passava, o plano de Alice se enraizava.
Albert: “Naquele dia, oito anos atrás, você chorou
lágrimas de crocodilo e atuou da melhor maneira para me enganar! E você não só
foi totalmente infiel a mim com incontáveis homens, mas também é uma vergonhosa
mulher que vem atormentando Alice desde o nascimento e então acusando-a de
falsamente fazer tais coisas a você!”
Como ela está
retida por um dos cavaleiros de Albert, seu confidente íntimo, ela simplesmente
não consegue entender o que Albert está dizendo. Conforme ela olha para ele,
ela vê Alice abraçando fortemente um dos seus braços.
Shirley: “Eu...Eu não entendo, Albert...? Essas
coisas que você diz, eu não tenho memória de nem mes-”
Albert: “Não me chame pelo meu nome!
Verdadeiramente, toda vez que eu penso no amor que pensei que compartilhávamos
me sinto enojado!”
O homem que ela
mais ama cospe tais palavras para ela do fundo do seu coração.
Albert: “Se você é tão insistente em fingir
inocência, então que seja! Eu lhe direi seus crimes em detalhes!”
Culpada de
atormentar Alice desde criança.
Culpada de
adultério com incontáveis homens.
Culpada de vazar
segredos de estado a uma força vizinha.
Culpada de
corrupção e fraude do tesouro nacional.
Nenhuma prova de
qualquer acusação, todos argumentos infundados.
Alice: “Tais coisas... Isso enche meu coração de
tristeza, Irmã! Mesmo que tais coisas tenham acontecido enquanto erámos
crianças, eu esperava que um dia poderíamos viver de mãos dadas como
verdadeiras irmãs!”
Albert sente
compaixão verdadeira por Alice, de quem a face está coberta por lágrimas. É
somente quando Albert a abraça que Shirley vê uma cara cruel e feia de uma
malícia triunfante, que somente ela teve a chance de presenciar.
Albert: “Apesar de ter uma irmã gentil e nobre
como Alice...! Os tipos como você nunca devem se tornar rainhas! Alice, de
coração mais gentil do que qualquer um, é meu único e verdadeiro destino!”
O noivo de Shirley
abraça sua irmãzinha com paixão. Alice olha para ela com uma sensação alegre de
superioridade naqueles olhos encharcados. Durante todos esses oito anos, o
rancor que Alice nutriu deu frutos a essa cena.
Shirley não
entende como isso aconteceu. Não foi somente Albert que foi levado por Alice,
ela de alguma forma fez com que todos aqueles aliados confiáveis se virassem
contra ela também.
Albert: “Além do mais, nesses últimos anos, eu fui
completamente incapaz de suportar ver você! Deixando de lado o começo tardio,
você desenvolveu um senso de esgrima, escrita e magia muito melhor do que
qualquer um! Que tipo de homem as pessoas pensariam que eu sou, com tal mulher
ao meu lado? Isso me mantinha acordado à noite!”
São essas palavras
que verdadeiramente esmagaram o coração de Shirley. Todo o esforço que ela fez
para apoiar seu príncipe, esperando que um dia ela pudesse ficar ao seu lado e
servi-lo quando se tornasse Imperador... Lágrimas finalmente começaram a cair
daqueles olhos com joias diferentes.
Shirley: “Es- Esse tipo de... Deve ter tido algum
erro...! Por favor, de ouvidos à razão e olhe os fatos de novo...! Eu lhe
imploro...! Por favor... Por favor acredite em mim! Albert...!”
Albert: “Silêncio! Eu não quero ouvir suas
palavras venenosas! Guardas! Levem essa mulher para uma cela de uma vez!!”
Enquanto seu
protesto é engolido pelas vaias e zombarias das pessoas que ela considerava
amigas e aliadas no salão, ela é rudemente arrastada pelos guardas do palácio.
Qualquer súplica que ela faça aos homens carregando-a não é ouvida, e o vestido
deslumbrante que ela vestia é trocado por um trapo frouxo e rasgado usado por
prisioneiros. Shirley é presa.
???: “He he he, então, sobre esse assunto de
vender segredos do estado... Que tal começar a mostrar um pouco de honestidade,
huh!?”
Tsssssh!
Shirley: “AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!”
O carrasco chefe
balança com toda força, e o chicote deixa uma laceração ardente naquela pele
extremamente branca.
Shirley grita em
agonia. Não importa o que ela sofreu antes, ele nunca sentiu nada como isso.
Carrasco: “Oh! Mas que grito maravilhoso! Me deixe
ouvir mais um pouco!”
Ele sorri
sadicamente e estala o chicote em seus braços e pernas brancos de novo e de
novo.
Para conseguir uma
falsa confissão de Shirley, havia pouca hesitação em usar tortura.
Nos dias de hoje,
a lei do Império diz que para levar alguém ao tribunal, deve-se ter evidências
concretas ou uma confissão. Se ela não conseguir que Shirley admita por conta
própria ter cometido aqueles crimes imaginários, Alice está mais do que
disposta a usar violência para atingir esse fim.
(Está tudo
bem... Esse tipo de engano... Eu tenho certeza que vai ser resolvido logo!)
Apesar de ter sido
humilhada por sua irmã, traída por seu noivo e estar em um ambiente tão
horrível, Shirley ainda não perde a esperança.
Uma vez que Albert
perceba a verdade, eles poderão voltar a ser o que eram antes. Usando isso como
base, ela desesperadamente tenta resistir à tortura, se segurando às memórias
dos tempos felizes com Albert, em busca de conforto.
No entanto essa
fina esperança que essa garota de dezenove anos se prende está a ponto de ser
cruelmente traída.
O que se segue faz
o açoite parece fofo.
Arrancam-lhe as
unhas com um alicate. Queimam ela em um cavalo de madeira. Forçada a encarar
atrocidades que fariam até mesmo os mais fortes guerreiros gritarem em delírio,
faz com que aquele pequeno brilho em que ela se segura seja transformado em
nada.
Ela se torna uma
sombra do seu antigo eu, não mais a beleza que atraí olhares e inveja. Sua pele
está áspera e coberta de cicatrizes, seus membros com ferimentos que ela não
tem meios de curar, seu cabelo que uma vez foi lindo e branco como a neve agora
está enrugado e cinza como o de uma velha mulher. Shirley foi de uma beleza sem
igual à uma visão que ninguém pode aguentar olhar.
Depois de um mês,
a esperança frustrada de que Albert voltaria a seus sentidos e encerraria sua
prisão dá lugar a uma raiva ardente, que tem mais paixão do que qualquer amor
que ela já sentiu por ele.
Shirley: “Gah.... ah..... haaaaa....!!”
Um grito sem voz
sai de sua garganta arruinada.
(Eu nunca vou
perdoá-los...! Aquela pessoa... NUNCA...!!)
Aqueles olhos
gentis que uma vez estavam cheios de gentileza são substituídos por olhos que
queimam com ódio e um desejo de matar.
Mesmo que ela
tenha que vender sua alma a um demônio, ou se for arrastada para as profundezas
do inferno, ela levará todos aqueles que fizeram essas coisas tão perversas com
ela.
(Meus antigos,
pai, mãe e irmãos...)
Aqueles que
fizeram de sua vida um inferno só pelo modo como ela nasceu.
(Para aqueles
que eu pensei que tinha um laço...)
Seja através de
extorsão ou enganação, ela foi jogada de lado por aqueles que ela emprestou sua
mão em momentos de dificuldade.
(Minha irmã que
sempre tirou tudo de mim...)
Alice finalmente
foi capaz de roubar até mesmo essa felicidade dela.
(E acima de
tudo... o homem que me traiu...!)
Ela finalmente
entende. Albert era o noivo da Shirley, mas ele tinha um caso com Alice.
Ele planejou essa
conspiração porque pensou que ela iria interferir na sua relação com a Alice?
Bom, isso não importa.
Mesmo que Alice o
estivesse manipulando, o fato de que aquele homem está disposto a acreditar em
acusações tão banais contra a mulher que ele sabe que o ama profundamente, mais
do que a qualquer um... O faz o mais desprezível de todos.
(Eu terei a
minha vingança...! Mesmo que isso signifique mergulhar no inferno, eu ainda vou
esmagar as suas cabeças...!)
Não importa quanta
energia ela tenha, seus sonhos de vingança são inúteis se Shirley apodrecer
naquela masmorra.
Talvez algum deus
ou demônio estivesse ouvindo Shirley, e aceitaram a oferta da sua alma, porque
uma mudança dramática logo ocorre nela.
Carrasco: “O-o que diabos é isso...!”
O primeiro a
perceber foi o carrasco chefe.
Ele começou a se
cansar de tratar Shirley como seu brinquedinho, e só está torturando-a a
trabalho agora. Mas, assim que ele abre a porta da sua cela, ele fica surpreso
com a beleza estonteante da Shirley, que parece nunca ter sido torturada.
Sua pele recuperou
o brilho, aquele cabelo emaranhado está radiante mais uma vez e as vinte unhas
que ele arrancou, uma a uma, estão novamente no lugar.
O saco de ossos
feio e brutalizado que ele deixou lá ontem foi substituído por alguém que
voltou no tempo.
Carrasco: “Is-isso é impossível!! Eu tenho que
reportar isso...!”
Surpreso pelo que
vê, e com pressa para reportar a informação aos seus mestres... a porta é
deixada entreaberta.
Shirley: “...Aah, que pena. Se ele ao menos tivesse
chego um pouco mais perto, eu poderia ter enfiado isso no seu pescoço...”
Shirley se levanta
e descarta a pedra afiada que ela estava escondendo.
Qualquer um que a
tivesse conhecido antes tremeria para aquela baixa voz que lamenta perder uma
oportunidade para matar.
Shirley: “Esse corpo... eu ouvi sobre lendas, mas
pensar que isso aconteceria comigo... Bom, tudo deu certo no fim. Mesmo que
aquele homem tenha se salvado com sua idiotice”
Não é da natureza
plebeia pensar muito em trancar as coisas. Com exceção dos organizados
secretários, servos não trancando portas e baús é uma constante fonte de
problemas no castelo.
Ela planejava usar
isso em sua vantagem algum dia, mas Shirley está satisfeita por isso acontecer
tão rápido.
Shirley: “Bom, é hora de ir... Tem algumas pessoas
que eu amaria ver”
Saindo de sua
cela, ela é capaz de roubar algumas roupas servis que não estão sendo vigiadas
e vai para fora.
Shirley,
escondendo seu chamativo cabelo branco em um capaz, rouba uma espada e começa
sua jornada em direção ao castelo real. Só o pensamento de ver o rosto
aterrorizado de Albert a enche de alegria e seus olhos refletem sua intenção
assassina.
Shirley: “Por favor, espere só mais um pouquinho.
Algum dia, muito em breve... eu vou ser capaz de ver você sofrer um destino
pior do que a morte....”
Shirley passa
despercebida pela cidade e se esconde em uma cabana abandonada na floresta,
longe dos olhos curiosos.
Como uma fugitiva
condenada, ela tem pouco esperança em usar qualquer tipo de poder político.
Então o que ela
deve fazer? Não demora muito para encontrar a resposta.
Se você não possui
influência política, simplesmente compense com uma violência esmagadora. Para
isso, as habilidades em magia e esgrima que ela desenvolveu, enquanto se
desgastava até os ossos tentando ser uma boa noiva para aquele odioso homem,
serão úteis.
Usando suas
habilidades ela fará uma investida audaciosa ao castelo, quebrará as defesas e
entregará um destino cruel ao Albert e Alice. Ela imagina diversas formas de
tornar o sofrimento de Albert longo e doloroso, não importando o quando ele
implore pela morte.
As preparações da
Shirley estão indo bem. Surpreendentemente ela tem pouca dificuldade em manejar
uma espada que é feita para o sexo oposto. Ela não tem confiança se conseguiria
derrotar um grande monstro com tal coisa, mas é mais do que o suficiente para
cortar um cavaleiro ao meio.
Ela rouba o que
precisa da cidade, ou ataca bases de bandidos e pega o que pode dos seus
corpos. Pouco a pouco, Shirley começa a colocar em prática as bases do seu
plano.
Shirley: “Gah... hahh...!”
Dois meses depois
do cancelamento do seu noivado, e um mês depois de ela escapar da prisão,
Shirley é surpreendida por uma imponente onda de enjoo.
No início, ela se
pergunta se pegou alguma doença. Mas esses sintomas são estranhos. Começou
parecido com uma gripe forte, mas então ela começa a ter problemas em ficar
acordada às vezes e surgem dores no seu peito e estômago.
Enquanto se
pergunta se deve ir até um médico para receber tratamento, ela de repente se
lembra de algo.
Shirley: “Quando foi... minha última
menstruação...?”
A única palavra
que subitamente aparece em sua mente é [gravidez].
Como se para
provar isso, ela lentamente ganhou peso conforme os dias se passaram. Não
demora muito para ela perceber quem é o possível pai.
Shirley: “Como isso é possível...? A criança
daquele lixo detestável está dentro de mim...!”
Ela se sente ressentida
do fundo do coração, com a criança do Albert em sua barriga. Shirley pensa em
cortar sua própria barriga e a arrastá-la para fora, mas ela abaixa sua espada
e suspira.
Shirley: “Eu não posso fazer isso, mesmo que aquele
homem seja o pai, essa criança não carrega os seus pecados. Eu vou deixa-la
nascer, e então vou achar algum orfanato para deixá-la”
Ela ainda não se
corrompeu o suficiente para tirar a vida de um inocente.
A vida de fugitivo
é difícil para uma criança que ainda não nasceu, e não é certeza que ela
chegará sã e salva. Mesmo que Shirley não procure abortar, ela não sente muita
emoção pela vida que agora ela carrega.
Shirley: “Eu tenho que me restringir de treinar as
preparações completamente antes de dar à luz, mas lutar contra algumas bestas
fracas não deve ser um problema”
Evitar monstros
fortes e aqueles que andam em grupos, atacar somente os fracos e solitários se
possível. Continuar a treinar o manejo com a espada e magia diariamente. Mesmo
que ela não possa se mover bem, treinamento leve ainda é importante.
Ainda assim, isso
está bem longe do que uma mulher grávida deveria fazer. Embora consiga imaginar
o olhar de horror nos rostos de mães e doutores pelo mundo, Shirley adota uma
abordagem de [O que tiver que ser, vai ser].
Essa sua barriga,
que não para de crescer e que demanda cada vez mais nutrição, está se tornando
um distúrbio real para o esquema de vingança da Shirley.
É natural que o
sangue e carne humano iriam limitá-la. Se ela realmente conseguir dar à luz a
essa criança, ela planeja cobrar alguma gratidão.
Shirley: “É estranho, no entanto. Eu estou tendo
dificuldade em focar no treinamento recentemente”
Em algum ponto,
ela começa a sentir cólicas sempre que tenta balançar a sua espada, e não
importa o que tente, ela não consegue parar de pensar nisso. É um sentimento
que cresce a cada dia.
Ela balança a sua
cabeça. Desesperadamente, ela tenta se lembrar daquele ódio fervente que a
mantém seguindo em frente, mas ela se acha sempre desviando seus pensamentos de
volta à vida crescendo em seu ventre.
Shirley: “Esses sintomas... essa doença... isso
realmente é um saco...”
Shirley tenta
amaldiçoar a criança que ela carrega, mas as palavras travam em sua garganta e
ela não consegue coloca-las para fora, deixando-a ainda mais confusa.
Ela não sabe a
razão. Ela não sabe, mas de alguma forma, não parece ser algo sobre o qual ela
deve se preocupar.
--||--||--||--||--||--
Shirley: “...Ah, funcionou”
Seu estômago
aumenta novamente, mas dessa vez é uma sensação agradável. Ao colocar sua mão
em sua barriga, ela sente movimento.
Mesmo praticamente
não tendo treinado, ela se sente exausta. Sem ela perceber, as vezes em que
Shirley se vê com uma espada na mão se tornam cada vez mais raras.
Shirley: “Graças a Deus, eu guardei comida e
suprimentos. Assim, eu posso me manter saudável até o nascimento... Espere, o
que eu estou dizendo? Eu...”
Ela luta contra si
mesma enquanto olha os suprimentos, ela realmente juntou tudo isso só para a
sua criança? Shirley coloca a mão em sua barriga e espera até sentir movimento,
algo que, de certa forma, se tornou uma rotina.
Essa coisa inútil,
que não tem papel no seu plano de vingança...
Shirley: “Pelo menos, eu quero que você não tenha o
rosto dele”
Ela começa a
pensar em nada mais além da sua criança.
Shirley: “Com quem se parecerá? Como o pai é aquele
homem, eu preferiria que se parecesse comigo, se possível”
Deixá-la no
orfanato, e terminar sua missão de vingança... tais pensamentos fazem o seu
peito doer.
--||--||--||--||--||--
O fim da sua
espera se aproxima.
Shirley: “Parece que vai nascer logo. Finalmente,
uma vez que o orfanato a pegue, eu posso continuar a minha vingan-”
Ao dizer essas
palavras um suor frio percorre sua espinha, suas pernas começam a tremer e sua
respiração fica pesada.
A palavra que ela
falou. Mesmo o som da palavra que ela sussurrou para si mesma muitas e muitas
vezes, causa-lhe um medo imensurável, e ela agarra sua barriga dilatada.
O alívio que ela
sente quando sente um pequeno batimento é imenso.
--||--||--||--||--||--
Shirley: “AAAaaahhh! Guh... Uwoaaaaaaaaa...!
Hiii...! Hiii...! Fuuuu...! N, a... AAAAHHH!!”
Alguns meses
depois, por volta do seu aniversário de 20 anos.
O dia do
nascimento finalmente chega. Shirley não chamou uma parteira, ela sofreu
sozinha naquela cabana abandonada, tentando trazer uma nova vida ao mundo.
A dor em seu
útero, excede em muito qualquer dor que ela sentiu naquela câmara de tortura.
Mas ainda assim,
ela o faz. Nem mesmo Shirley realmente entende o que lhe leva tão longe.
No entanto, é
algum tipo de instinto que a força a passar por isso.
Shirley: “Haaah...! Haaaaah...! Ah... Nasceu...
huh...?”
Depois de um longo
parto, Shirley finalmente dá à luz a garotas gêmeas.
Ambas com o seu
cabelo, branco como a neve. A mais velha tem olhos azuis e a mais nova
vermelhos.
O choro dos dois
bebês ecoa pela pequena cabana. E, conforme aquelas duas pequenas mãos apertam
os dedos da Shirley, lagrimas começam a escorrer de seus olhos de cores
diferentes.
Shirley: “Ah.... Uwaaaaaa...!”
Shirley chora.
O sentimento que
ela tinha de que essas crianças a mancharam e a impediam... É completamente
substituído por sentimentos transbordantes de amor e afeição.
Então ela percebe.
Muitas vezes isso quase terminou em tragédia para essas garotas.
Balançando sua
espada imprudentemente e lutando com essas crianças dentro dela... Quando ela
pensa no quão perto chegou de ter um aborto, ela estremece de horror.
E quando pensa
sobre deixar essas duas em um orfanato, desespero a consome.
Mesmo que ela
cumprisse seu objetivo, isso não seria nada comparado ao crime que ela estaria
cometendo contra suas próprias crianças.
Se ela as
abandonar agora, para caminhar no caminho da vingança, lutando como alguém
possuído e se alegrando com a morte, ela nunca poderia voltar.
Ela não seria nem
mesmo humana mais. Ela seria só um monstro sedento por sangue, vivendo somente
de um instinto louco e furioso.
É o calor dessas
duas crianças que agora agarram seus dedos, que a puxa de volta da beirada do
abismo. Ela recupera a sua humanidade.
Shirley: “Se eu não as proteger... Essas crianças
não terão futuro...”
Todos os
pensamentos sobre vingança se vão.
Achar uma maneira
de criar essas crianças é a única coisa que importa.
Não importa que
sangue corra nas suas veias. Para guiar e proteger as duas crianças que ela
agora carrega, nada mais importa. Enrolando-as gentilmente em cobertores, e
deixando de lado a dor em sua barriga, que ainda não havia passado, Shirley
encontra a força necessária para sair da cabana e ir em direção à borda do
Império.
Não há mais lugar
no Império para Shirley. Ela escolhe levar suas duas filhas e começar uma nova
vida em um reino vizinho.
Seu status social
se foi. Shirley trilhará o caminho de uma aventureira, um cheio de perigos e
riscos. Mas, mesmo assim, ela vai fazer tudo que pode.
E embora ela tenha
medo de que a natureza que ela resolveu abandonar retorne algum dia, ela jura
que até tal momento, ela irá se esforçar para deixar essas meninas alcançarem
uma felicidade que ela nunca teve. Ela nunca soltará as suas mãos.
É dessa forma que
Shirley, que decidiu começar uma nova vida livre de pensamentos de morte e
vingança, chega em uma pequena cidade fronteiriça dentro das bordas do reino
vizinho. E então, dez anos se passam...