- Capítulo 34

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A Espada Torturante




Rudolph: “M-Meu pescoço... MEU PESCOÇOOOOOOOOOOO!?!?!?!”

Rudolph encontra sua voz e aquele rosto bonito se contorcendo em um grito selvagem enquanto dor inunda sua mente.
Mas não é de se admirar. Até mesmo o guerreiro mais poderoso gritaria se vivesse para ver seu próprio cadáver decepado sangrando no chão.
Rudolph não consegue pensar direito devido á imensa quantidade de medo e dor sobrecarregando seu cérebro, mas isso não deveria ser possível, de alguma forma, ele ainda é capaz de tanto respirar e gritar, mesmo com sua cabeça estando a alguns metros de distância do seu corpo.

Shirley: “Você não vai morrer... por hora. Por causa dessa espada.”

A espada misteriosa que arrancou sua cabeça, mas não o permite morrer. A verdadeira natureza da arma mágica conhecida como [Nervos do Submundo], Ipetam... Uma lâmina que é considerada especialmente perversa mesmo entre as outras espadas mágicas.
Também conhecida como a Espada Torturante. A lâmina dita ter sido empunhada pelo carrasco do inferno, é agora a arma que atingiu Rudolph.

Rudolph: “AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!! N-NÃOOOOO...! MEU PESCOÇO...! MEU PESCOÇO ESTÁ...!”
Shirley: “Fique quieto.”
Rudolph: “GAH!?”

Enquanto Rudolph grita ofensivamente, Shirley pisa em sua cabeça com sua robusta bota de couro.



Apesar de mais dor estar sendo adicionada à sua agonia, Rudolph para de gritar quando ele sente aquela voz fria acima dele, ao forçar os olhos para enxergar, ele vê um demônio vingativo olhando para ele, com os olhos distantes cheios de sede de sangue.

Rudolph: (Quem é você...!? De quem são esses olhos frios...!?)

Esses olhos não são os gentis e doces olhos da Shirley que olhava para ele no passado. Como mãe, permaneceram adormecidos todos esses anos enquanto ela vivia nessa cidade remota, mas essa é a face daquele demônio vingativo de anos atrás, cujo amor se transformou em um ódio que poderia reduzir uma nação a pó.

Shirley: “...É por causa das minhas filhas que sou do jeito que sou hoje.”

Oposta à imagem que Rudolph tinha em sua mente, Shirley fala em um tom tão gentil que faz ele esquecer temporariamente a dor queimando em seu crânio.

Shirley: “Depois que aquelas crianças nasceram, eu finalmente percebi o que fui posta na terra para fazer. Acho que até mesmo os aventureiros nessa cidade me ensinaram algo. Nesse sentido, eu comecei a me esquecer do Império.”

Porém, essa serena voz gradativamente se torna fria como gelo.

Shirley: “Mas o que você fez... Não é algo que eu possa algum dia perdoar.”

Mesmo que algumas vezes ela esteja ocupada com sua profissão sangrenta, seu dia a dia é normalmente feliz e pacífico. Como resultado, aquelas memórias de traição e tortura se tornaram distantes, porém, elas nunca verdadeiramente desapareceram.

Shirley: “Assumir que eu te perdoaria, esqueceria tudo que aconteceu como se fossem erros do passado e voltaria ao Império com você... Estou começando a entender o quanto todos vocês querem me desprezar.”

Shirley, que se tornaria a Imperatriz, sempre foi vista como uma santa benevolente. Mesmo sendo uma nobre, ela não tinha problemas em abraçar ou acariciar as cabeças de crianças órfãs cobertas em lama. Enquanto era rodeada por crianças que a adoravam, ela parecia a encarnação ideal de uma futura Imperatriz.
Seus deveres eram tão naturais para ela quanto respirar e ela agia com uma velocidade e precisão tão impressionantes que até mesmo foi reconhecida pelos melhores funcionários públicos, ela também nunca discriminou entre nobre e plebeus em seus julgamentos.
Mas talvez viver dessa forma tenha sido um erro, se isso significa que, em sua caridade, ela tenha pego tolos como o ex-criado que atualmente está sob sua bota.
Não é só o Rudolph, há muitos outros que eram supostamente leais a ela quando ela foi condenada. E conforme a Shirley afundava ao fundo do poço do desespero, todos a desprezaram e disseram o mesmo tipo de coisa.

-----------E pensar que você é uma mulher tão má e estúpida. Servir você foi a maior vergonha da minha vida.

Olhando para trás, é até engraçado. Quem exatamente é estupido agora?

Shirley: “Eu tentei esquecer. Era suficiente simplesmente empurrar tudo isso para o fundo da minha mente. Depois de 10 anos, criar as minhas filhas é o que preenche minha vida, eu estava ocupada demais para até mesmo pensar em você. --------Mas Você tentou machucar minhas meninas, não tentou?”

Mesmo que ela mesma não tenha visto, ela entendeu imediatamente tudo o que aconteceu quando viu os olhos das suas filhas, que normalmente são cheios de felicidade e luz, cheios de lágrimas. E foi esse homem que causou isso.
Como uma mãe, ela nunca poderá perdoá-lo. Ela nunca poderá deixá-lo escapar como mãe daquelas gêmeas.
Rudolph parece ver Hārītī sobre o ombro da Shirley. Ele está atrasado para perceber, mas está começando a entender a verdadeira natureza do horror que paira sobre ele.

Shirley: “Agora, eu devo lhe devolver o favor...!”

A mão que ela está usando para segurar Ipetam desaparece do campo de visão do Rudolph. Ao invés de receber um corte em sua cabeça, ele de repente sente uma agonia extrema vinda de seus membros que ele nem mesmo deveria estar conectado.

Rudolph: “G-GYAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!?!?!?”

Ele não consegue ver o que está acontecendo, mas a dor excruciante faz parecer que seus músculos estão sendo arrancados de seus ossos e ele grita em agonia.
Rudolph não consegue ver a cena, mas se pudesse, ele fecharia os olhos do mesmo jeito, enquanto Shirley lenta e precisamente corta a carne de seus membros.
Em adição ao severo trauma mental que ele está passando, esse nível extremo de dor deveria ser o suficiente para fazer o Rudolph perder a consciência.
Conforme sua mente começa a desvanecer, ela continua trabalhando em raspar suas mãos, coxas, braços, pernas, ombros e virilha com a espada.

Rudolph: “...Ha!?”

Mas a doce escapatória pelo inconsciente acaba quase que instantaneamente. Assim que ele escorrega para a escuridão, ele acorda um segundo depois. A cabeça que foi cortada fora de seus ombros está restaurada, seus membros esfolados curados.

Rudolph: “O-O que é isso!? Eu não estava...!?”

Seus olhos correm ao redor em perplexidade, se perguntando se o que aconteceu foi só algum tipo de pesadelo. Porém, aquela dor é inequivocadamente real.
Deixando isso de lado, é normal para as pessoas que desmaiam devido a algum choque ganharem a consciência dentro de cinco segundos. Quando seu estado mental se recupera o suficiente para ele entender suas palavras, Shirley fala com Rudolph.

Shirley: “Isso foi só um aviso. De agora em diante, eu não vou restaurar o seu corpo.”
Rudolph: “H-HIIIIIII?!”
Shirley: “O que quero fazer mais do que qualquer coisa é te reduzir a pó, mas pode haver problemas com a lei se eu matar alguém que não tem uma recompensa pela cabeça. Se você concordar em se render aos guardas por uma tentativa de sequestro e nunca mais se mostrar na minha frente de novo, você talvez me convença em te deixar ir.”

Para qualquer um que conheça as circunstâncias da Shirley, essa frase deve ter parecido muito doce e indulgente.
Para uma vida que uma vez ela dedicou à vingança isso parece tão estranho... É verdadeiramente difícil de acreditar nas palavras que a Shirley disse, sendo uma pessoa que só acordou como uma Meio-Imortal depois de ser torturada e traída.

Shirley: “O que você vai fazer? Se apresse e decida, se fizer como eu disse imediatamente, eu vou encerrar isso aqui.”

Mas agora, Shirley não se importa com o Rudolph deitado no chão em sua frente ou Albert que planejou tudo.
Se ele jurar nunca mais aparecer perante suas filhas, ela parará aqui, se ela continuar a tortura , ele talvez não fique em um estado para ser entregue às autoridades e poderá haver muito mais questões levantadas.
Resumindo, esse tipo de coisa é problemática e nesse momento ela só quer voltar para as filhas que ela está desesperadamente preocupada ao invés de passar mais tempo lidando com o Rudolph.

Rudolph: “Hii... HYAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!”

Mas sua proposta incrivelmente misericordiosa é rejeitada pelo Rudolph, cuja face fica pálida em horror.
Se arrastando para longe da Shirley, ele se vira e corre com um grito miserável, lágrimas e catarro escorrendo por seu bonito rosto.
Aquela atitude de cavaleiro de pouco tempo atrás foi completamente esmigalhada. As memórias de ter sua carne rapada pela espada da Shirley começam a se repetir vividamente em sua mente e ele é reduzido a um animal, governado puramente pelo instinto de sobrevivência.

Shirley: “Oh, então essa é a sua resposta, não é?”

Contudo, não importa o quanto ela corra daquele demônio, não importa onde ele vire, Shirley sempre aparece em seu caminho.

Rudolph: “Gyah!? Hii..... Kuaaaah!!”

Ele corre por um bom tempo, mas sempre que vira uma esquina, ele se depara com uma visão familiar. O lugar onde chegou pela primeira vez nesse mundo, com Ig-Alima e Sul-Sagana fincadas no chão e Shirley parada ali, esperando por ele.

Rudolph: “C-Como isso é possível...!? Para qualquer lugar que eu vou...!?”

Onde quer que ele virasse, esquerda ou direita, para frente ou para trás, ele sempre se encontra vendo as lâminas gêmeas no solo, com a Shirley parada ao lado delas, empunhando aquela terrível espada.

Shirley: “Eu governo esse mundo. Você realmente pensou que poderia escapar de mim aqui?”

Ela não dá tempo para ele responder, correndo em direção a ele em uma velocidade incalculável. Em um flash, o torso do Rudolph é aberto por aquela espada maligna e ele cai de costas ao chão em agonia.

Rudolph: “Haaaa... Gaaaah...!”
Shirley: “...Hmph.”
Rudolph: “GYAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!!”

Com golpes rápidos da sua lâmina, ela mutila a parte inferior do corpo dele, fazendo ele chorar ainda mais alto.
Como ele pode ter sentido aquela dor quando sua cabeça não estava conectada ao seu corpo antes? Além do que, ao olhar para a Shirley balançando sua espada através de seus olhos manchados com lágrimas, ele simplesmente não consegue entender porque ela faria coisas tão terríveis a ele, então só uma coisa vem a sua mente.

Rudolph: “Oh... Ohh... Minha doce Srta. Shirley... Nunca faria tal coisa a mim...!”
Shirley: “...?”

Sua espada para em meio ao golpe.

Rudolph: “É isso... Certamente, aquela Bruxa Dourada ainda está manipulando você...! De outra forma, você nunca faria algo assim para mim, a pessoa que você mais confia...!”

Seja para evitar sua culpa ou alguma forma de escapismo, Rudolph se agarra firmemente à memória da Shirley do passado.
Honestamente, essa fala envia um sentimento de repulsa através dela. Ela quer o silenciar de vez, mas ela tem que dizer uma coisa antes.

Shirley: “O que você fez para mim... Não é mais importante.”
Rudolph: “! S-Srta. Shirley...!? Você finalmente voltou aos seus sentid-----”
Shirley: “Mas.”

Como se tivesse visto uma luz no meio da escuridão de seu desespero, Rudolph chora em alegria, mas Shirley corta suas palavras e uma forte sensação de pavor volta a dominá-lo.

Shirley: “Qualquer seja a razão, se qualquer um for atrás das minhas filhas, eu vou cortá-los sem remorso. Mesmo se ele for um Rei ou um deus.”

Do jeito que ela falou, isso implica que, comparado a poderes como esses, Rudolph não é nada mais do que um inseto chato zumbindo em sua frente.
Não está claro se o tolo homem dançando nas mãos dos poderosos por tantos anos realmente entendeu o significado implícito por trás das palavras da Shirley, mas mesmo que ele não pegue o significado, ele certamente sente sua esperança se perder em meio a um desespero escuro.

Rudolph: “AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!”

Os gritos ecoam naquela prisão em outro mundo. Por três dias, depois que seu corpo é cortado milhares de vezes, de novo e de novo, enquanto sua consciência permanece intacta, uma terrível ferida começa a abrir um buraco na própria alma do Rudolph.

Shirley: “Bom, na realidade, foi menos do que cinco minutos.”

Shirley olha para baixo com olhos insensíveis para Rudolph, que se torna uma figura miserável quando finalmente é permitido a ele perder a consciência; seus olhos giraram para trás de sua cabeça, baba escorrendo de sua boca aberta e excrementos manchando suas roupas.
O corpo do Rudolph não tem machucados, como se todos aqueles cortes e mutilações nunca tivessem acontecido... Bom, na realidade, eles não aconteceram.
Essa é uma das qualidades da espada mágica Ipetam que Shirley possui. Ela tem a habilidade de manipular todos os cinco sentidos de qualquer pessoa cuja sangue ela tenha espirrado pelo menos uma vez.
A dor que eventualmente fritou sua cabeça, a visão de seu corpo sofrendo terríveis machucados, o som do sangue espirrando na parede e no chão, o cheiro horrível de carne dilacerada e até mesmo o gosto de sangue e bile preso em sua garganta, tudo isso foi uma ilusão causada pela Ipetam.
E sempre que ele tentava fugir, ele sempre voltava para a Shirley. A lei de seu segundo mundo, 《As Correntes Do Vagabundo Condenado》, dita que qualquer oponente preso nele nunca será capaz de escapar da Shirley, forçando-os a confrontá-la. Ele também desacelera a passagem do tempo consideravelmente para o oponente. O mundo destina-se a encurralar e contra-atacar criaturas com alta inteligência e raciocínio, a fim de destruí-las.
Tem pouco efeito contra monstros primitivos, mas os efeitos em criaturas vivas como humanos são muito mais nítidos. Mesmo que a batalha só dure 5 minutos do ponto de vista da Shirley, o oponente capturado aqui pensará que foi pego em uma batalha que durou centenas de vezes mais.

Shirley: “Usando o segundo em seu potencial máximo como um ataque aos sentidos... Espero que você carregue esse trauma com você para sempre.”

Ela ainda o sente. Aquele ódio queimante. Mas, mesmo que essa pessoa tenha verdadeiramente tentado sequestrar suas filhas, ela não pode acabar com a vida dele livremente como pode com um bandido ou mago herege.
Especialmente se ele é um servo próximo de um monarca ou de um país inteiro. Pelo bem de prevenir que Sophie e Tio tenham que carregar esse tipo de peso, ela se comprometeu a quebrar a mente dele ao invés do corpo, mas isso não é o suficiente para verdadeiramente lavar aqueles sentimentos assassinos em seu coração. No fim, eles ainda se agarram a ela, até mesmo agora.

Shirley: “Fuu... Me desculpe, eu deixei vocês esperando.”
Sophie: “Não, está tudo bem...”
Tio: “Mm...”

Sophie e Tio correm para a Shirley assim que ela retorna ao mundo real, junto do Rudolph desacordado, e agarram a barra do seu vestido.

Shirley: “Me desculpe Kyle, eu também te deixei esperando.”
Kyle: “Oh, não, não se preocupe comigo... Um, dito isso...”

Kyle acha difícil dizer o que realmente está em sua mente.

Tio: “...Mãe, aquela coisa sobre nós sermos princesas do Império, é verdade...?”
Shirley: “... O quanto vocês ouviram?”
Sophie: “Que a mamãe nasceu como uma nobre e era a esposa do Imperador...”

Deve ter sido o Rudolph. Embora a Shirley nunca tenha pensado em suas filhas dessa forma e Rudolph convenientemente tenha deixado de lado os pequenos detalhes das circunstâncias de fora, falando em termos de pura relação sanguínea, essas duas são indubitavelmente Princesas Imperiais.

Sophie: “Sobre o porquê de nós não termos um vovô ou vovó, ou quem nosso papai é, eu não queria perguntar porque você parecia tão triste... Mas, eu realmente quero saber...”
Tio: “Mesmo que supostamente seja um segredo... Se as coisas estão assim, nós não temos que saber?”

Não é curiosidade que acende os olhos das gêmeas. É o sentimento de que para saber o que o futuro as aguarda, elas precisam saber de onde vieram.
De certa forma, isso sempre foi difícil. Crescer entre tantas crianças da mesma idade, mas nunca sendo capazes de explicar por que vivem sozinhas com sua mãe, sem nem mesmo saber sobre suas próprias circunstâncias.
A própria Shirley mimou e bajulou suas filhas, não querendo expô-las à escuridão do seu passado. Ela não tem outra escolha a não ser contar a verdade agora, fazer qualquer outra coisa seria negar os laços profundos que elas compartilham.
Shirley respira fundo e faz sua decisão.

Shirley: “Eu entendo... Eu vou lhes contar tudo que levou a vocês nascerem.”

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