- Capítulo 3 (Parte 2)

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Capítulo 3 (Parte 2)




Tradução: Gabrielfsn
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Sábado, 61 dias até o nosso confronto final.
Concordamos em nos encontrar na frente da estação como de costume, dessa vez um pouco antes do meio-dia.

Assim como ela me pediu, eu estou usando uma lente de contato rosa-bege de 14.5mm. Estou vestindo minha melhor escolha de moda feminina que enfatize a minha fofura. Quando a Aya chegou e me viu, ela sorriu e me elogiou, "Você está adorável."

É claro que eu fiquei contente de ouvir um elogio, não tem nada a ver esse elogio ter vindo da Aya, tá? Eu apenas fico feliz em ver que meus esforços valeram a pena. Enfim, ela veio com uma escolha de roupas que enfatizam seu charme adulto que a fazem ser mais chamativa do que eu.

"Pra onde vamos hoje?"
"Shibuya"
"Ah, ok"
"Não quer saber mais?"
"Porque é um encontro"
"Tem razão"

Ela anda feliz atrás de mim com aquele sorriso dela que mostra como ela está se divertindo. Ela também está usando saia hoje, uma saia flare que deixa ainda mais nítido o seu charme adulto. Ficou boa nela.

Chegando em Shibuya, ela naturalmente segura minha mão e entrelaça nossos dedos. Algo meio inesperado.

"Ei, ainda é de dia"
"É um encontro, nada mais natural do que darmos as mãos"
"Isso é só um passeio normal entre amigas, não é?"
"Eu não lhe expliquei?"

Sem largar minhas mãos, ela responde minha pergunta casualmente.
"Hoje nós iremos fingir que somos um casal"
"....O que quer dizer?"
"A 4ª fase é experiência na prática. O tema de hoje é que estamos comemorando um mês desde que começamos a namorar"

Eu impulsivamente viro minha cabeça para olhar na cara daquela que está falando tamanha loucura de forma tão comportada.

"Eu não entendi...Você quer que eu vire lésbica? Como naquele mangá com o tema de um Café Yuri?"
"Bem, é quase isso"

Resumindo, nós vamos brincar de teatro e o meu papel é ser a namorada da Aya por um dia. Será que foi por isso que ela escolheu um lugar mais distante que o normal para não encontrarmos nenhum conhecido?

"....Tá bom. Então, eu preciso fazer algo em específico?"
"Seja apenas você mesma, é o melhor que pode fazer. E é claro, lembre-se que somos um casal. Ou será que eu devo lhe pedir para me chamar de 'meu amor'?"
"Pode deixar. Já entendi"

Aya encolhe os ombros.

"Muito bem, vamos começar pelo almoço. Tem uma loja por aqui que vende panquecas que parecem ser uma delícia. Como hoje é Sábado, talvez esteja um pouco cheio. Se estiver cheio demais, nós procuramos outro lugar."

Aya puxou minha mão toda animada, ela está mais deslumbrante que o normal. Talvez por ser meio-dia, a maquiagem dela está um pouco diferente daquela última vez que fomos para Shinjuku à noite. Agora, ela parece uma pessoa radiante que com certeza faria alguém chegar até ela e pedir pra tirar uma foto, como uma modelo.

"Eu sempre quis sair e me divertir com você assim. Sempre que nos encontramos, ficamos dentro do meu quarto. Naquela vez em Shinjuku, bom, foi só parte da minha atividade diária então não conta."
"Você parece estar se divertindo muito hoje"
"Isso é um reflexo do que estou sentindo neste exato momento"

Ela segurou minha mão com mais força.

"Não é óbvio que estou assim porque estou em um encontro com você, Marika?"

Ver aquele sorriso inocente aperta o meu peito. Eu não sei porque, é só que, talvez, eu...

Talvez eu não odeie mais a Fuwa Aya como antes...eu acho.

Não pense besteira, eu não falei num sentido estranho. Agora que paro pra pensar, eu tenho uma posição para proteger na escola. Se eu não tiver essa determinação, eu acho que não terei mais motivo para recusar a Aya a essa altura.

Além disso, eu tenho muitas amigas, eu posso ter qualquer tipo de conversa com qualquer pessoa. Se a Aya só me arrastasse por aí sem nenhum contrato estranho entre nós, eu acho que conseguiria aproveitar meu tempo com ela. Isso é apenas um "se", quero deixar claro que meus sentimentos em relação a ela estão naquele nível normal de amizade.

"Aah, caramba. Vamo logo, Aya"
"Tá tá"

Mudando de assunto, faz um tempo desde a última vez que visitei Shibuya. Nós andamos por essa cidade com algumas ladeiras aqui e ali. Graças ao planejamento prévio da Aya, podemos aproveitar o encontro normalmente.

Nossa decisão de esperar 20 minutos por uma mesa vazia dentro desta loja popular valeu a pena. A panqueca é tentadora pela sua textura fofa com um apelativo creme fresco no topo. Possui a quantidade certa de doçura combinada com a sensação macia na minha boca.

"Nossa, essa panqueca tá insana de boa"
"Pois é, não é à toa que a loja é recomendada pelas revistas"

A loja está cheia de jovens garotas tirando várias fotos e postando no instagram. É claro que também estamos no meio. Eu tiro várias fotos lindas da panqueca.

"Você não tem insta, Aya?"
"Eu tenho um mais para trabalho, mas não um pessoal. Eu não vejo necessidade"
"Que fria...Bem, tanto faz. Esse xarope de ácer tá tão gostoso~"

Enquanto eu faço uma pose exagerada para apreciar o gosto da panqueca, click, eu ouço o som de uma câmera de celular. Aya tirou uma foto minha.

"O-o que foi?"
"Você é fofa, só isso"
"Uhh..."

Estou começando a me acostumar com essa coisa dela de 'tudo no meu ritmo', enquanto ela me observa pelo celular com aquela expressão suave em seu rosto.

Aff, tanto faz. Eu realmente gostei das panquecas e aproveitei cada momento. Nós saímos da loja com um baita sorriso. É raro ver a Aya com um sorriso tão brilhante.

"E agora?"
"Se você estiver de acordo, vamos fazer umas compras"
"Tudo bem, eu já pretendia te acompanhar à qualquer lugar desde o começo"
"Obrigada. É por isso que eu te adoro, Marika"

Tu-dum. Suas palavras me fazem congelar na hora. Foi a primeira vez que ouvi a palavra 'adoro' sair da boca dela.

"...Você quer que nosso teatrinho chegue nesse ponto?"

Ao ouvir minha pergunta, Aya balança a cabeça enquanto continua segurando a minha mão.

"Eu apenas quis falar isso. Eu falei porque eu senti que queria."
"Você sempre age assim com todo mundo, não é?"
"Por quê você acha isso?"
"..Porque"

Eu desvio meu olhar para outra direção, como uma criança fazendo cara feia. Mas como nossas mãos estão conectadas, a distância entre nós não mudou. Eu e a Aya não falamos nada enquanto caminhamos até o próximo destino. Essa situação não chega a ser desconfortável, só um pouco estranha e me deixa nervosa.

Depois de andarmos por um tempo, nós passamos na frente de uma loja com uma boa atmosfera, parece interessante. Como se soubesse ler minha mente, Aya olha pra mim e pergunta, "Devemos entrar?"

Eu não respondi, mas balancei um pouco a mão dela para expressar minha intenção com um pequeno gesto.

"Da próxima vez é só falar"
"Tá..."
"Poxa"

Depois de uma briguinha amigável, nós entramos na loja.

Tem muitos acessórios com designs que nunca vi antes, devem ser originais da loja. Estão alinhados de uma forma tão bela e prazerosa de ver. A lojista deve trabalhar duro para manter desse jeito.

Eu gosto de ver e colecionar coisas fofas e pequenas. Sempre que vejo uma vela aromática ou algo de aromaterapia que me interessa, acabo comprando. A Yume e a Chisaki sempre me alertam que esse meu hobby é o motivo do meu dinheiro torrar rapidinho. A razão de eu ter procurado um trabalho de meio período foi para justamente eu não me sentir culpada em gastar meu dinheiro com meus interesses.

Essa loja é bem pequena, então os corredores entre as prateleiras são estreitos. Dada as condições, a Aya solta minha mão e cada uma vai para um lado. Depois de dar uma volta, eu vou até a prateleira a qual a Aya está observando.

"Eu nunca experimentei aromaterapia"

Hm, isso é algo inesperado considerando o local em que ela trabalha.

"Eu não tenho nenhum difusor, então eu não posso fazer algo grande como um banho de aroma. Mas eu costumo derramar só uma ou duas gotas no meu lenço e coloco ele perto do travesseiro antes de dormir. Não é muito, mas o cheiro é tão relaxante que a sensação chegar a ser ótima"
"Hmm, então você é sensível ao cheiro. Bem que você estava se divertindo cheirando sua própria pele depois de usar o meu sabão"
"A-até parece que eu faria uma coisa dessas!"

Ela sabia. Eu tentei negar sua acusação infundada com uma voz bem baixa considerando onde estamos, mas ela me ignora.

"Então, vamos comprar um par de aroma para combinar"
"Quê...por quê?"
"É bem 'coisa de casal', não acha?"

Ela faz um sorriso malicioso, sua lógica é um pouco falha, mas eu ainda delibero seriamente com os braços cruzados.

"Mas a preferência por aroma vai de cada um, eu tenho a minha e você a sua. Não seria melhor comprarmos algo baseado no que cada uma gosta?"
"Você tem razão, então vamos"

É raro ver ela desistir fácil assim, mas essa é a melhor forma de aproveitar aromas. Eu comecei a olhar e cheirar cada garrafa de amostra, uma por uma. Eu acabei escolhendo um aroma de árvore de chá. A fragrância lembra eucalipto, dá uma impressão de gentileza. Além disso, causa uma sensação refrescante, se eu misturasse com um aroma cítrico acho que ficaria ótimo.

Depois que decidi levar esse, um dedo fino aparece atrás de mim e pega a mesma garrafa. Aya escolheu o mesmo aroma. Nossos olhos se encontram e ela faz aquele sorriso de sempre.

"Eu também achei esse bom"
"Você é criança por acaso?"

Nós andamos até o caixa, mas meus olhos continuam distraídos pelas coisas ao meu redor.

"Nossa, deve ser tão legal comprar aromas que combinam!"

A moça do caixa reage com nossas escolhas. Eu respondo ela com um mínimo e simples 'é'. Por trás de mim, a Aya solta uma bomba tão repentina que eu nem consegui retrucar.

"Eu quero tentar gostar das mesmas coisas que a minha namorada gosta"

E-essa garota! Veja, a moça até ficou surpresa!

"Ora ora...isso é maravilhoso"

Ooh, como esperado de uma lojista de Shibuya, essa foi uma ótima resposta. Não só isso, ela também demonstrou respeito por nossa relação.

Aya fica metidinha e dessa vez tenta me puxar pra brincadeira, "Não é, Marika?" disse Aya sorrindo alegremente. Eu só consegui dar um maravilhoso sorriso falso.

É tanta vergonha que começo a suar frio.



"...Aya"

Quando saímos da loja, eu chamei por ela com uma voz bem baixa. Aya agiu como se não houvesse nada de errado.

"Hoje nós somos namoradas, não é?"
"Então é assim. Fui enganada de novo..."
"Você me faz parecer uma vilã"

Aya pega minha mão, mas eu tenho uma sensação diferente de antes. Só de tocar seus dedos eu sinto que meu coração vai estourar. Eu rapidamente tirei minha mão dela. Aya me olha com uma expressão de dúvida.

"Eu me senti nervosa de repente"

Eu assumi que nosso teatrinho de hoje era uma brincadeira elaborada. Eu estava errada. Nesse exato momento e lugar, ninguém deve nos conhecer. Mas, por algum motivo, eu sinto que seus olhares estão focados em mim e na Aya enquanto pensam que estamos em uma relação especial.

Nossa relação não é nada do tipo. Eu não quero ter esse tipo de relação com ela. Afinal eu me dou mal com ela.

"Marika, você está toda vermelha"
"Cale a boca"

Eu só quero me esconder.

"Como se sente quando as pessoas ao seu redor olham você como homossexual?"
"É claro que é horrível. Pois eu sou normal"
"É isso, fazer garotas normais mudarem para esse lado é bem excitante, sabia?"
"...Que pervertida"

Eu finalmente entendi que esse tipo de insulto não causa dano algum, pelo menos não para a Aya. Em primeiro lugar, foi ela que me ofereceu um milhão de ienes para me fazer entrar nesse lado. Mas ainda assim, eu quero me vingar dela nem que seja só um pouquinho.

"...Sabe, eu nunca namorei antes"
"É mesmo? Isso é uma surpresa considerando sua popularidade, Marika"
"Hmm, como posso dizer. Eu tenho muitas pessoas com quem posso sair, mas não é como se eu quisesse limitar isso a uma pessoa só. É mais ou menos isso. Mesmo que isso seja só fingimento, você é a primeira com quem namoro, eu acho"
"Me sinto honrada"

Eu seguro sua mão com mais força enquanto disparo um sorriso, "E é por isso, que você vai fazer o seu melhor e me satisfazer nesse encontro de hoje, Minha Namorada?"

Eu esperava que ela ficasse um pouco abalada com meu ataque, mas ela inesperadamente aceitou com um enorme sorriso no rosto.

"Por mim tudo bem. Afinal, hoje você é a minha princesa"

Fufufu, você entendeu né, Aya? Eu aceito seu juramento. Agora contemple, meu egoísmo máximo. Como são pedidos vindos da sua querida namorada, você cumprirá todos eles, não é? Aah, eu sou mesmo malvada. Eu irei incomodá-la tanto que ela irá se arrepender.

"Ei, Aya-san. Sabe o que é, eu quero um crepe"
"Você parece estar planejando alguma coisa...mas tudo bem, vamos comprar esse crepe"

O clima em Junho parece verão. Nós fomos até um mercadinho e compramos crepe de banana com chocolate e morango. Dividimos pela metade para nós duas.

Na verdade, a minha barriga já está cheia, mas ver a Aya comprando um crepe me deixa um pouco nostálgica. Me lembra de quando eu era criança e pedia para meu pai comprar algo e ele me dava alegremente. De alguma forma, isso me lembra daquele sentimento e me deixa feliz.

"Comprar roupas ainda vai rolar, mas vamos no karaokê primeiro. Eu quero te ouvir cantar"
"Queê? Eu não tenho coragem"

É raro ver a Aya com essa cara aflita dela. Me dá vontade de deixá-la ainda mais aflita, então eu puxo ela pela mão até um prédio com uma placa piscando 'KARAOKE'.

Agora é a minha vez de liderar. Eu pedi por uma sessão de uma hora, e então ficamos de frente de um quarto escuro e estreito de um karaokê. Eu entro e me sento confortavelmente como se fosse meu próprio quarto.

"Que tipo de música você gosta de cantar?"

Aya se senta de forma estranha enquanto balança a cabeça.

"Eu realmente não conheço canções recentes e populares. Mesmo no nosso bar, músicas ocidentais tocam com mais frequência. Você pode cantar primeiro, Marika, eu vou escutar"
"Caramba, isso não é problema, nem eu conheço essas músicas. Você também nem sabe que tipo de música eu vou cantar, não é?"

Eu pego o controle remoto e escolho a primeira música que me interessou. Eu balanço meu corpo levemente, seguindo a melodia enquanto canto.

"~~~~"

Na verdade eu gosto de cantar. Eu gosto do sentimento de soltar minha voz em meio a melodia. Durante meu tempo no ginasial e ensino médio, eu e minhas amigas costumávamos ir à um karaokê pra passar o tempo. Muito por minha causa e meu gosto por karaokê. Eu gostava de assistir a performances na televisão quando era criança, então talvez seja por isso.

Eu continuo cantando sem me segurar, mas parece que a Aya não escolheu nenhuma música. Ela continua me olhando mesmo depois que eu sento no sofá para fazer um intervalo depois de algumas músicas.

"Hm? Não vai cantar?"
"Não, é só que..."
"?"

Aya parece envergonhada com alguma coisa. Eu primeiro achei que era por sua falta de costume com karaokê.

"Você é tão bonitinha, Marika"

Agora é a minha vez de olhar pra ela.

"Quê? Tá ficando envergonhada agora? Mesmo já falando isso outras vezes?"
"Dessa vez foi diferente, de alguma forma...bom, você está vestindo roupas bonitinhas enquanto cantava uma música fofinha de uma forma adorável, então foi um combo de fofura...ou algo assim...foi perigoso..."
"Haa..."

Eu liguei alguma coisa dentro dela?...Eu não entendi direito, mas ela me elogiou, né? Eu aceito com prazer.

Enquanto eu decidia outra música, a garçonete trouxe nossas bebidas. Eu bebo meu refri de melão e escolho uma música de idol popular entre os homens.

"Isso também foi ultra fofo"

Entendi, então essa é a zona de perigo da Aya.

Eu sento bem do lado da Aya depois que termino aquela música.

"Você deveria se divertir e cantar alguma coisa, como eu fiz. Você gosta, não é?"
"Não é isso, é fofo porque é você quem está cantando"

Então é isso mesmo? Eu penso numa música que combine com ela. Ela é uma beldade, então a lacuna entre sua aparência e a canção será engraçada.

"Umm, eu não consigo mesmo imaginar você se divertindo enquanto é mimada por garotos. A Aya da minha cabeça mexeria no celular, sem pensar duas vezes, logos depois de terminar uma música e ignorar tudo ao seu redor."
"Essa eu da sua cabeça, a habilidade de comunicação dela é muito baixa. Até eu consigo agir normalmente nesse tipo de situação, sabia?"
"Mesmo você tendo um total de zero amigas..."
"Isso não é de fato um problema. Eu admito que me perco várias vezes na troca de salas, mas eu consigo me virar. No pior dos casos, eu ainda tenho os professores para me mostrar o caminho"
"Pode parar, eu tô quase chorando só de ouvir a sua historinha"

Aquela Fuwa Aya, que exala um ar de imperatriz, consegue se perder dentro da própria escola. Eu tentei imaginar a aparência dela sem ideia alguma para onde ir e ficando confusa. Minha estima por ela diminui lentamente. Eu realmente desejo que a Aya continue se esforçando para que ela não perca pra Fuwa Aya da minha imaginação.

Aquela Aya agora está colocando sua mão na minha coxa e olhando no meu rosto.

"Ei, Marika. Tudo bem eu lhe beijar?"
"Eeh? Do nada"

Essa Aya de certa forma também está desconstruindo a imagem da Fuwa Aya na minha cabeça.

"Eu, de repente, quis lhe beijar depois da sua performance adorável"
"Não tem problema"

Eu nem consegui terminar minha aprovação e ela já colou seus lábios nos meus. Depois que ela me largou, eu continuei o que estava dizendo.

"Em troca, você tem que cantar alguma coisa. Eu quero ver"

Eu empurro o controle nas mãos dela. Ela parece relutante, mas ainda escolheu uma música. Oh, é uma canção ocidental popular de alguns anos atrás, costumava ser usada como música de fundo em comerciais, por isso eu conheço.

Aya me advertiu para não rir antes dela começar a cantar. O razão dela é que é sua primeira vez em um karaokê. Independente da sua bagagem de motivos para não cantar, ela pronuncia bem a letra e a sua voz é acima da média. Eu diria que sua performance no geral foi satisfatória.

"Realmente não me comparo a você. Agora, se você puder parar de fazer coisas tão impróprias por trás dessa aparência nobre"
"Você é quem vive me chamando de pervertida"
"Eu apenas afirmo um fato"

Depois de elogiá-la, ela começou a cantar algumas músicas. Nós saímos do karaokê depois de uma extensão de uma hora. A Aya pareceu ter se divertido e estava satisfeita com a sua primeira experiência em um karaokê.

"Vamos de novo na próxima vez"
"Claro"

Eu acidentalmente aceitei o convite dela. Eu comecei a me lembrar da antiga eu, que nunca aceitaria isso tão facilmente. Isso é...esse sentimento, será mesmo...

"Será que eu sou uma baita pessoa boa...?"
"Você é uma boa garota, Marika"
"Pois é... É por isso que eu consigo me divertir com alguém como a Aya..."
"Eu farei de tudo para puxar você para esse lado de agora em diante, me aguarde"

Ela põe suas mãos em seus seios com uma cara cheia de confiança. Na verdade, desde as coisas eróticas até o bar lésbico, tudo foi planejado pela Aya. Então essa escolha de palavras talvez não esteja errada.

Depois disso, nós passamos o tempo olhando vitrines no 109 (NT: Um shopping popular em Shibuya) e também compramos algumas roupas. Nos divertimos muito experimentando várias peças, Aya escolhia as minhas e eu escolhia as dela. Não há como negar, eu adorei.

Aya sempre me diz que eu fico fofa, não importa o que eu vista, então sua onda de elogios acabam me deixando levada. É tudo culpa dela.

Ela continua sendo gentil comigo, não importa quantos pedidos egoístas eu faça, nem sequer um rastro de irritação transparece em seu rosto. No fim, meu grande plano foi um fracasso. Eu acabei reconhecendo sua infinita sinceridade por mim.

"Ei, Aya..."

Nós concordamos em terminar os planos de hoje antes de escurecer. Está quase na hora do jantar, então nós voltamos para a estação de Shibuya.

Aproveitamos nosso tempo restante como um casal normal. Mas mesmo assim, eu ainda quero me certificar de uma coisa.

"Por quê você é tão gentil comigo?"

É claro que sou bonitinha e charmosa. Eu também consigo entender o clima e seguir o fluxo, mesmo me custando muito sacrifício. Porém, eu acho que sua motivação para ser gentil assim comigo não tem a ver com nada disso.

"Gentil? Eu comprei você, Marika. Não há nem um grão de gentileza em minhas ações"

Ela parece estar zombando dela mesma.

"....É mesmo? Eu não acho"
"Talvez porque você é gentil?"

Mesmo que você fale assim, eu realmente me diverti hoje. Ela cumpriu todos os meus pedidos egoístas e me deu mais atenção do que de costume. Ela me mimou muito hoje, tendo certeza de não me gerar problemas e fazendo o seu melhor para me manter de bom humor.

Eu paro de andar, e por estarmos de mãos dadas, ela também para e olha pra mim. Eu também olhei nos olhos dela, mas nenhuma palavra saiu da minha boca.

Eu tenho minha própria dignidade, eu não posso apenas falar.

"........."
".......?"

Eu sei que não posso ser assim. Naquele Sábado que fomos no bar, Aya estava de salto alto, então eu também usei salto alto no encontro de hoje. Mas eu não tenho o costume de usar, por isso a Aya estava andando devagar, para garantir que eu não forçasse demais.

Ela também teve certeza de durante nosso passeio, ficar do lado da rua, "Seria perigoso se você caísse." Quando caminhávamos em lugares com muita gente, ela sempre ficava um passo à frente e me protegia da multidão.

Ela apenas queria que eu aproveitasse nosso tempo juntas, e sendo bem honesta, se eu tivesse que avaliar sua performance, eu daria uma pontuação perfeita como namorada.

Por isso eu me pergunto, o que ela pensa de mim? Eu sou especial pra ela? Ou será que é assim que pessoas ricas passam o tempo, passeando e se divertindo com várias mulheres?

Eu não entendo ela.

O que ela quer de mim?

"....Marika?"

Só olhar pra ela não transmite o que penso. E eu até fico feliz por isso.

"Não é nada, esquece. Desculpe, acho que eu tô um pouco cansada depois de andar tanto, vamos nos apressar para chegar logo em casa. Eu quero descansar, afinal eu ainda preciso ir pra sua casa amanhã"
"...Certo"

Eu crio um sorriso falso para enganá-la, ela respondeu com um simples aceno e uma cara preocupada. Ela sabe que estou escondendo alguma coisa.

Mas, não é como se eu pudesse fazer algo a respeito. Nossa relação é algo abaixo de amigas e mais abaixo ainda de namoradas. Eu não consigo falar algo assim pra ela.

Conversamos sobre coisas cotidianas durante nossa viagem no trem. Nós paramos na estação da Aya primeiro, então nos separamos aqui. Quando ela se despediu, ela apontou para nossos aromas.

"Marika, eu vou usar esse aroma esta noite na hora de dormir, então faça o mesmo. Dessa forma, eu poderei sentir que estamos juntas"

Eu balanço minha mão com um sorriso irônico.

"Se eu puder"
"Fico contente com isso. Hoje foi divertido, obrigada"
"É, obrigada também"

Ela esperou na plataforma e ficou olhando pra mim. O trem começou a se mover e ela continuou lá até eu deixar a estação. O momento de despedida de um casal não é doce como xarope de ácer.

Durante meu tempo sozinha no trem, eu me senti triste por algum motivo. Teoricamente, hoje foi um dia divertido, eu realmente adorei nosso tempo juntas. Por quê meus sentimentos viraram do avesso de repente? Eu solto um enorme suspiro olhando pela janela. O sentimento doloroso dentro de mim não sossega.

A causa disso, não é por eu não entender o que a Aya quer de mim. Provavelmente é o contrário, eu não entendo o que eu quero da Aya.

Restam 61 dias até o nosso confronto final. Eu me pergunto que tipo de resposta eu irei inventar nesses próximos dois meses.

Por agora, eu só quero falar uma coisa.

"...Eu vou me abster de usar o aroma esta noite, Aya"

Se eu usar o aroma, sentirei que estou perdendo, por isso eu com certeza não o farei.



No dia seguinte, Aya me enviou uma mensagem de repente.

[Me desculpe, surgiu um imprevisto. Eu ainda vou lhe pagar, mas vamos cancelar o encontro de hoje]

Eu saí de casa 30 minutos mais cedo hoje, então eu já estava perto da casa dela quando recebi aquilo.

"Ela é tão formal"

Eu olho para a mensagem no meu celular com um sorriso irônico. Mas já que estou aqui, vou fazer uma breve visita à ela. Eu vou só reclamar um pouquinho e voltar pra casa.

Eu começo a ouvir gotas caindo, está chovendo. O clima nesse período do ano não é muito claro e é difícil de prever, exatamente como a minha relação com a Aya. Eu rapidamente abro meu guarda-chuva favorito de bolinhas e continuo andando com um ótimo humor. Esse provavelmente é o efeito do tratamento de princesa que a Aya me deu ontem.

Conhecendo a Aya, ela provavelmente vai me perdoar por essa pequena ação egoísta. Ela não vai se zangar, provavelmente só vai ficar de cara feita na próxima vez que nos falarmos. Pois ela é muito tolerante comigo. Quando estou quase chegando, vejo uma pessoa em frente a casa dela.

Uma garota.

Ela está usando um guarda-chuva com cor de camélia, enquanto espera por alguém. Ela tem belíssimos cabelos loiros amarrados em cauda dupla. Ela me exala uma sensação peculiar. Ela tem uma expressão brilhante que me lembra de um campo aberto. Seu rosto demonstra muita expectativa.

Eu sinto que já vi ela antes.

Aquela garota do trabalho da Aya, uma linda menina que parecia uma metade. O nome dela é...Astalotte. Eu sinto o meu coração acelerar ao ponto de conseguir ouvi-lo.

Não é estranho elas se conhecerem, não é? É lógico.

A porta se abre e Aya parece estar com pressa, deixando a garota loira entrar em sua casa. Ela entra sem hesitar, parece acostumada com isso. Depois de ver essa cena, eu só consigo ficar parada observando a porta bem fechada.

"Aa....."

Eu não consegui ouvir minha própria voz, já que a chuva a abafou.

Estou irritada. Eu sei que não tenho nenhum direito de estar assim, mas estou. Eu começo a ter nojo de mim mesma por me irritar com algo assim. Eu dou a volta na rua e olho para a janela do quarto da Aya. Eu não consegui compreender o que eu senti na hora. Eu fiz isso inconscientemente.

Mas dentre as várias coisas que me vieram à mente, uma delas com certeza era a que mais me intrigava.
Qual é a relação dela com a Aya?

Eu continuo observando a janela, até que depois de um tempo a Aya fecha as cortinas. Não houve nenhum outro movimento depois disso. Eu só sei que aquela garota deve estar dentro daquele quarto.

Eu esperei por mais 5 minutos, e finalmente percebi que já estava exagerando. Depois de recuperar a noção de pensar logicamente, eu decido ir para casa.

Eu tenho muita coisa pra fazer durante o feriado, então isso não é grande coisa. Afinal, eu não sei nada sobre a Aya, então suas relações não são da minha conta.

Aya e eu estamos conectadas por uma batalha envolvendo um milhão de ienes, somos inimigas, nada mais, nada menos.

Eu lembro do sorriso da Astalotte, ela é fofa e muito linda. Se estivéssemos na mesma turma, ela seria super popular sem dúvida. Há um velho ditado que diz "Como uma Lua e uma Tartaruga", de certa forma combina com nós duas. Eu fiz o meu melhor para ser reconhecida por toda a turma, enquanto ela não precisa fazer nada para conseguir isso. Seu brilho vai mais além, é especial.
(NT: Como uma Lua e uma Tartaruga (月とスッポン) significa duas coisas superficialmente semelhantes, mas completamente diferentes, como o formato da lua cheia e o casco de uma tartaruga que se assemelham, mas são totais opostos.)

"Haah...."

Eu olho para o céu chuvoso acima de mim.

"Aya idiota"

Essa amargura deve ser consequência de seu cancelamento repentino que me fez andar à toa. Já que não há outra razão para eu sentir essa coisa turva dentro de mim. Eu sinto que vai ser um saco voltar pra casa, então eu abro o grupo de mensagens entre Yume, Chisaki e eu.

[Ei, estão com tempo livre? Querem dar uma volta por aí?]

Eu olho para a nuvem negra de dentro da estação, opa, e lá vem a resposta delas.

[Foi mal~ Não posso~]
[Eu também, fica pra próxima]

Haaah, eu suspiro profundamente. Elas devem estar se divertindo cada uma do seu jeito. Eu admito que eu fiquei um pouco distante delas ultimamente, o que dificulta para elas me convidarem, que saco.

Essas duas sempre estão juntas, será que elas já cruzaram aquela linha do relacionamento...?

"Hahh, até parece. Eu não suporto isso, é a pior coisa. Como eu sempre digo, garotas namorarem entre si é, definitivamente..."

Definitivamente.

Não há continuação. Eu não consigo falar. Mesmo sem ninguém por perto, mesmo sozinha, eu não consigo falar.

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